Quando eu era criança, conseguia viajar no tempo e através de relatos de pessoas ao meu redor, elas diziam que eu era alguém.
Alguém com sentimentos, a personificação do afeto puro, como amor e carinho, alguém que gostava de estar em contato com a natureza e se sentia ouvida de artes visuais, desenhos e pinturas. Onde fui parar? Mesmo no interior do Maranhão, cidade das verdades e belezas, eles diziam que eu corria atrás de borboletas dizendo que gostaria de ser como elas, livres como o vento.
Como o eu de agora não pode dizer quem eu sou, meus gostos, ou até mesmo personalidade, eu não tenho memórias minhas mais jovens, talvez eu as esqueci como refúgio, ou só tinha medo mesmo de não ser mais eu.
Eu acho que nunca vou saber, menos lembranças e sentimento, é como se em minha linha temporal houvesse uma lacuna, uma linha que não me permite conhecer minha essência como alma.
Eu sou algo preso dentro de um corpo físico, algo sem nome, mas que é como o fogo, ardente, que clama para sentir algo de verdade. O eu de agora é alguém oscilante que não tem forma única, diria eu mesma que sou a metamorfose, em árvore, mudando de aparência, gostos, e olhos para se encaixar em algo, o ser humano, mas quem sou eu verdadeiramente?
Essa pergunta me assombra, eu sou um fantasma, mas meu coração ainda bate no peito, pergunto-me se sou algo tão sem valor pois não tenho vontade de continuar me perguntando isso, apenas sei que a coisa que mais dói é ver meus pais dizendo inúmeras vezes que sentem minha falta, sendo que ainda estou aqui, sentem falta de algo que eu talvez nunca fui, algo que não era eu.
Eu não sei quem eu fui pois não sei quem sou agora.
SOBRE A AUTORA – Ellohá de Sousa Pereira, residente em Timon, concorreu com o pseudônimo Solaria Jones.