sábado, 22 de março de 2025

PRÊMIO JOVENS TALENTOS DA LITERATURA MARANHENSE – CRÔNICA VENCEDORA – 2o LUGAR – OZEIAS EVANGELISTA DE OLIVEIRA JÚNIOR – PARALELEPÍPEDOS DO ESQUECIMENTO

Publicado em 22 de dezembro de 2024, às 11:04
Imagem: Print do Jornal O progresso.

Estive no Centro Histórico de São Luís. As ruas estavam abarrotadas de turistas e moradores, que, em grande número, são turistas também. Era época de São João, e as ruas estavam cobertas e enfeitadas com bandeirinhas, que reluziam contra a luz sombra e um som que só é possível escutar nessas circunstâncias, naquele aqui-agora, um som que parece de chuva, mas que ao mesmo tempo lembra a terra viva das palmeiras.
Eu segui meu trajeto atravessando o centro e sendo atravessado por ele. Já na praça Nauro Machado, ocorria uma apresentação de um grupo de Bumba Meu Boi. As pessoas olhavam admiradas para aquilo, era o olhar de gênesis, nunca tinham visto nada parecido. Aquela brincadeira fazia com que dançassem e se deixassem levar pelas encantarias do boi. As fotos curiosas do novo permeariam as redes sociais daquele povo por algum tempo, pensei.
Seguindo, quase que em cortejo, todos os olhares eram de descoberta daquele lugar. As sacadas eram motivos para dedos elevados e as portas, entradas de descobrimento. Tudo encantava a todos, inclusive a mim. Nesse jogo de olhares, meu olhar se voltou para os entulhos de um casarão que desmoronara.
Foi então que se manifestou em mim uma crise, uma crise de profunda injustiça para com o que nos constitui. Não é somente sobre o prédio, é sobre o que somos e o que forma o ludovicense. Com essa dor quase visceral, resolvi retornar, mesmo com a decepção que sentia.
Chegando ao final da rua da Feirinha da Praia Grande, minha crise se agravou, ainda mais, ao deparar-me com o Centro Cultural Odylo Costa Filho naquela situação, abandonado, ao relento e caindo aos pedaços. Nesse centro, eu me constituí em muitas faces de mim mesmo: nele aprendi sobre arte, tive aulas de dança, participei de diversas atividades culturais e assisti a muitíssimos filmes. A simplicidade aparente esconde uma imensidão de significados e sentimentos, para qualquer criança pobre de São Luís, que sobrevive em uma cidade sem perspectiva de emergir, encontrava ali um sentido de vida.
Na lateral do descaso, da violação de direitos, havia um cartaz anunciando shows de diversos artistas nacionais, promovidos pelo Governo do Estado do Maranhão, demarcando bem a posição governamental frente ao que se apaga da identidade ludovicense. Levanta, São Luís, e vai, que é para o governo ver que a população também sofre, também sente dor.

SOBRE O AUTOR – Ozeias Evangelista de Oliveira Junior, residente em São Luís, concorreu com o pseudônimo Noemo.

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