Olha só, a rua da minha casa foi asfaltada, a escola próxima foi
pintada, o caminhão do lixo vem passando várias vezes na
semana. É um prefeito ou um pai? Mas não se engane, é
apenas ano de eleições municipais no Brasil.
É o momento que o político, o vereador e o prefeito se tornam
gente como a gente, com aqueles slogans que envolvam a
palavra “povo”: “Sempre ao lado do povo”, “A força do povo”,
“Junto com o povo”, “Pelo povo”, alguma coisa “povo” ou “povo”
e alguma coisa.
Seria o tempo de realizar os balanços de desempenho dos
eleitos, se fizeram o que prometeram; tempo de analisar as
novas propostas e as novas caras. Porém, isso só na teoria
mesmo, pois o tal povo não está muito interessado em
fiscalizar ou em exigir comprometimento dos candidatos. Aliás,
há compromisso dos candidatos, especificamente, com alguns
do povo pela garantia de votos.
Duvido que isso seja exclusividade desta cidade. Mas o que é
único aqui é o clima da pré e da campanha em si: é cara de
pau e muito dinheiro. Os políticos querem e precisam de votos
e o povo sabe muito bem disso.
Os eleitores daqui têm um preço e o candidato pode pagá-lo de
diversas formas: dinheiro vivo à vista, dinheiro parcelado,
melhorias na casa, emprego para familiar e coisas que até
Deus duvide. Ouvi dizer que tem candidato a vereador que
chega nas residências das pessoas falando assim: “Vamos
rebocar a casa?”, “E esse telhado, bora trocar?”, “Já ouviu falar
em Air Fryer?”.
Mas claro que essa espontaneidade não é espontânea, os
olheiros, ou bandeirinhas, ou araras dos candidatos fazem todo
um mapeamento nas ruas e bairros para filtrar tudo. Depois é
aviãozinho de dinheiro para todo lado. Ah, o eleitor tem o
transporte garantido no dia da votação.
Outro dia, no açougue, as pessoas estavam falando sobre as
eleições e o entendimento comum é o seguinte: para ser
político tem que ter dinheiro. Disseram que em cidade pequena
no interior é preciso duas coisas, o dinheiro e a cara de pau.
Mas a verdade é que isso acontece em todos os cantos desse
país. E como eu sei disso? Censo comum de brasileiro. Mas
aqui, aqui é uma festa. Carros pelas ruas com muitos maços de
dinheiro para serem distribuídos à população, desde que seja
firmado o contrato verbal de promessa e comprometimento de
voto.
O dinheiro dos candidatos é gasto rapidamente, como
investimento, com a certeza de ser reembolsado com juros em
caso de vitória.
Quanto para as pessoas, restam casas reformadas, novos
objetos, um dinheirinho para guardar ou torrar. Meu vizinho
apareceu pilotando uma motocicleta novinha esses dias e ele
sequer trabalha, quer dizer, escudeiro de político é um trabalho,
requer capacitada e específica cara de pau, além do fator de
gratificação do tamanho familiar. Se for família grande e unida
é festa.
O povo é levado pelas aparências do momento, esquece os
últimos anos do mandado, esquece os escândalos de
corrupção e as confusões. É tempo de vestir o abadá do seu
candidato e ir à passeata – com dinheiro da gasolina garantido,
obviamente.
A rua tá boa hoje, mas o asfalto é de baixa qualidade, só piscar
que já está esburacada, coberta por uma camada de
alagamento e com pitadas de lixo por toda parte. Se alguma
compra tiver superfaturada, ninguém saberá.
Mas o importante é que o voto não será de graça, de graça só
a certeza que nada mudará. E assim, cada um do povo busca
o seu, o seu privilégio, o seu bem material, a sua viagem, a
contrapartida do seu político.
Ganha quem gasta mais dinheiro e vota quem ganha mais
dinheiro, é uma troca. É eleito quem é mais votado. O eleitor
vai votar em quem melhor lhe representa nos seus termos
requeridos. É a festa da democracia.
SOBRE O AUTOR – Pedro Henrique Azevedo dos Santos, residente no Povoado São João, Zona Rural do Município de Bom Lugar – MA, concorreu com o pseudônimo Tanjiro Amado.