Chegamos à marca de 50 (cinquenta!!!) artigos semanais publicados neste portal, além dos outros tantos textos postados antes de nossa participação contínua às segundas-feiras. Para registrar tal feito, poderíamos escrever sobre uma infinidade de assuntos. Contudo iremos nos ater a três notinhas aleatórias sobre educação, já que semana passada as redes sociais foram invadidas por notícias, aplausos e comemorações acerca de alguns indicadores educacionais.
Quase sempre, os percentuais são utilizados para demonstrar pequenos avanços e esconder uma infinidade de recuos, omissões e inações nesse importante setor de nossa sociedade. Mas os números e dados estão aí para serem utilizados de acordo com as necessidades de cada um dos interessados.
Seguem as notinhas…
NOTINHA PRIMEIRA
Cada dia que passa, torna-se mais essencial que os professores evitem levantar a cabeça durante suas estadas em sala de aula. O ideal seria que os mestres interagissem com seus alunos e que os diálogos acerca dos assuntos e temas planejados para aqueles horários.
Porém…
Quando os professores levantam a cabeça durante as aulas podem se deparar com algumas cenas que poderão desestimular os profissionais da Educação. Abaixo, alguns exemplos simples e corriqueiros:
Alguém sentado lá no chamado “fundão” aproveita o tempo para retocar a maquiagem, ouvir sua música preferida, atualizar seu “status” nas redes sociais, recuperar o sono perdido durante a noite anterior, desafiar algum colega, próximo ou distante, para um jogo em tempo real. Às vezes, essas atividades acontecem simultaneamente em diversos pontos da sala, até mesmo diante da mesa dos professores. Não existem limites para as ousadias.
Não deveria ser assim, mas é. Alguns professores fingem não ver o caos que tomou conta de determinadas escolas. Outros acabam entrando em atrito para tentar impor seus desejos a partir de recriminações e ações coercitivas. Há também quem opte por fazer uma espécie de acordo com a turma para que pelo menos uma parte da aula seja ministrada.
Não deveria ser assim. Mas é…
NOTINHA SEGUNDA
Às vezes vemos dezenas de propostas que buscam melhorar a aprendizagem do corpo discente de uma escola. Porém, quase sempre, fica bastante claro que as pessoas que estão no poder se preocupam mais com os indicadores numéricos e com os percentuais que poderão ser divulgados pela imprensa e pelas redes sociais. Em alguns casos, é possível perceber que alunos e professores são utilizados como verdadeiras “cobaias” nas práticas educacionais.
Raramente os professores passam por um processo sólido e eficiente de formação continuada. Atividades paliativas são tomadas como se fossem preparativos para um esperado fracasso das atitudes tomadas.
Projetos básicos que conseguissem levar livros até as mãos dos estudantes, que oportunizassem aos professores contatos com novas práticas didático-pedagógicas, que patrocinassem um inter-relacionamento da família com as vivências escolares e que valorizassem os conhecimentos prévios dos estudantes são deixados de lado em prol de atividades sáfaras e com pouca efetividade.
É preciso oferecer oportunidades para que professores possam exercer suas funções e para que os alunos possam desenvolver seus potenciais. Caso isso não seja feito, o que sobram são apenas malabarismos retóricos em busca de frios dados estatísticos com a finalidade de mascarar uma realidade.
NOTINHA TERCEIRA
Certa vez, participei de uma “formação” pedagógica cujo objetivo era desenvolver a prática de leitura nos estudantes. Logo no início de sua fala, o professor contratado deixou claro que ele mesmo não gostava de ler poemas. Sua fala foi mais ou menos assim: Se alguém me presentear com um livro de poesia, ele vai ficar lá, que eu não vou ler. Não gosto de poesia.
Logo depois, assim que percebeu a gafe que havia cometido, o professor tentou corrigir dizendo que todo tipo de leitura é válido. Mas não convenceu muito. A informação primeira soou como bastante verdadeira e vinda do fundo do coração, mas a emenda teve o mesmo sabor de um suco de pacotinho dissolvido em um mar de água.
Fiquei pensando como pode alguém assim se arvorar do direito de dizer que forma leitores, se nem mesmo ele está preparado para penetrar no reino das palavras, fincando apenas na superfície de algumas teorias previamente decoradas. Tristeza. Essas (de)formações pedagógicas quase sempre são mal articuladas e pouco contribuem para a melhoria do processo educacional.
É preciso repensar o processo. É preciso levar a sério a Educação!
Uma resposta
Professor (sozinho) não faz milagre. Ele está acuado de um lado, como o tarefeiro que se tornou da burrocracia institucional pautada pelas estatísticas e pelo ensejo do espetáculo; e, de outro, da intimidação e do desprezo social. Há todo tipo de embuste para forçar professores a empurrar alunos que “não precisam mais estudar”, coisa que o próprio sistema educacional acaba por propiciar, para gerar estatísticas e vagas nos degraus das séries, aos que depois vão esbarrar na cobrança da vida real. Essa nota mínima que ainda tivemos muito provavelmente deve-se aos que ainda tem uma família presente e forte, seja qual tipo de família for, mas certamente presente, digna e incisiva, e que respeitam a escola, a coletividade e sua própria vida. Depois, passamos para verificar os livros didáticos pulhas, impostos pelas licitações do governo e não pela qualidade das propostas, que o professor tem que trabalhar sem ser aquele que ele selecionou; a falta sequer de uma máquina de xérox para tirar cópias para testes simulados ou para um trabalho efetivo com os famosos “descritores” (tópicos essenciais exigidos que os professores precisam ensinar sem recursos)… Enfim, uma complexidade. O iceberg contra o Titanic.: quem afunda?…