sábado, 22 de março de 2025

Psicologia Brasileira na Luta Antirracista: II Prêmio Profissional Virgínia Bicudo

Publicado em 13 de julho de 2024, às 21:33
Fonte: Fabio José Cardias-Gomes. Docente-pesquisador de Psicologia na UFMA-Imperatriz. Psicólogo Clínico e do Exercício e Esporte.
Imagem cedida pelo autor

Esta semana foi anunciado aos selecionados que receberão o II Prêmio Profissional Virgínia Bicudo 2023/2024, do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Segundo o CFP: “O Prêmio Virgínia Bicudo pretende identificar, valorizar e divulgar estudos e ações de psicólogas(os)(es), coletivos e grupos que envolvam a Psicologia e as Relações Étnico-Raciais, fundamentadas nos direitos humanos e que tenham impacto na saúde mental, na redução das desigualdades sociais e no posicionamento antirracista. Com a realização deste Prêmio, o CFP espera fomentar a divulgação de estudos e ações exitosas no campo da Psicologia e questões raciais”.

            Ainda segundo o CFP, Virgínia Leone Bicudo foi pioneira nos estudos sobre relações raciais, abordou a temática dialogando Sociologia, Antropologia, Psicologia Social e Psicanálise. Integrou, como vice-presidenta, o primeiro plenário do Conselho Federal de Psicologia, foi a primeira presidenta negra do Sistema Conselhos de Psicologia. Na década de 1940, defendeu a tese “Estudo de Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo”, a primeiro sobre o tema das relações raciais em uma universidade brasileira.

             A Psicologia como ciência e profissão tem o seu marco histórico desde a fundação do Laboratório de Psicologia Experimental da Universidade de Leipzig, em 1879, na Alemanha. A realização institucional deste feito por Wilhelm Wundt (1832-1920) já influenciará diversas etnias e raças ao formar uma nova geração neste primeiro centro internacional de formação de psicólogos. Lá foram buscar formação personagens eminentes como Edward Titchner (1867-1927), James Mckeen Cattell (1860-1944), Vladimir Bektherev (1857-1927), Matsumoto Matataro (松本 亦太郎, 1865–1943), dentres outros povos.

            Titchner construiu a psicologia estruturalista britânica, Cattell se torna um dos primeiros psicólogos estadunidenses, Bektherev desenvolveu a reflexologia na psicologia objetiva russa, Matataro (亦太郎) funda a Associação Psicológica Japonesa, em 1927, sendo seu primeiro presidente.

            Ainda que a influência de Wundt sobre a formação internacional tenha sido enquanto estava vivo, não fundou escola psicológica vindoura. Seu projeto estabeleceu a Psicologia como disciplina científica, da experiência imediata, em colaboração às ciências da natureza, da experiência mediata. Buscou complementar, através da Psicologia experimental, processos psicológicos individuais, pelo qual é mais lembrado, vide ser a base fundante dos laboratórios filiados mundo a fora. Porém, também, investigou os produtos culturais coletivos como linguagem, mito e religião, a sua esquecida psicologia dos povos (Völkerpsychologie), projeto enterrado junto com ele. Ou seja, a aparelhagem técnica foi melhor assimilada (em resposta ao espírito científico-fomento da época) em detrimento ao seu sistema teórico mais abrangente que incluia os estudos das etnias, raças e culturas.

            O alcance desta psicologia científica chega ao Brasil pela sua importância no magistério escolar, o que era praticado também na Europa. Entretanto, comemorou-se em 2022 os 60 anos de regulamentação da nossa ciência e profissão, a qual possui um longo percurso, com alguns marcos importantes como exemplo: o primeiro curso de Psicologia no Rio de Janeiro, em 1932; a fundação da Associação Brasileira de Psicotécnica, em 1954; a Associação Brasileira de Psicólogos e a Sociedade de Psicologia de São Paulo, em 1959; a criação do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, em 1969; a criação do Conselho Federal de Psicologia e dos Conselhos Regionais, em 1971; a publicação do Código de Ética do Psicólogo, em 1975, e daí em diante muita história a se contar.

             Minha trajetória de formação, indissociável como pessoal-profissional, na Psicologia e do meu itinerário nas experiências, nas práticas profissionais ou da minha práxis psicológicase dá desde vários países até aos povos originários e comunidades tradicionais, com os quais aprendo a riqueza e a necessidade de humildade constante ao se debruçar sobre a psicologia dos povos, sua diversidade étnico-racial e o combate ao racismo regional. A expressão pessoal desta busca se materializa na proposta teórico-metodológica da etnopsicologia do etnoesporte que construo na academia, ao conceber práticas corporais ancestrais e o esporte moderno ressignificado nos territórios, em relação com uma vizinha sociedade ocidental colonizadora, arrogante, hostil, violenta, racista, fascista, assassina.

            E, entretanto, fico muito feliz em ter reconhecido pelo CFP, o meu trabalho profissional e trajeto pessoal, como um dos ganhadores do II Prêmio Virgínia Bicudo 2023/2024. Obrigado à todos os mestres do caminho!

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