segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Resenha: Hora Zero, de Agatha Christie

Publicado em 13 de julho de 2024, às 21:43
Fonte: Gabriel Barros Neres – Jornalista
Imagem cedida pelo autor.

O renomado tenista Neville Strange aproveita suas breves férias de setembro para colocar em prática uma ideia que passou por sua cabeça meses atrás: E se sua atual esposa, Kay Strange, se tornar amiga de sua ex-esposa, Audrey Strange? Juntos em Gull’s Point, lar de Lady Camilla Tressilian, uma idosa que não se acostumou com as modernidades da época, acrescentando também um amigo de longa data de Kay e um seguidor fiel de Audrey, uma verdadeira novela se desenvolve até chegar ao ápice, com o assassinato de um do presentes e muitas pistas apontando para um possível culpado.

Não convencido com tais pistas, cabe ao superintendente Battle, da Scotland Yard, que coincidentemente passava férias na região, solucionar o caso ao lado de seu sobrinho, o inspetor James Leach.

Publicado originalmente em 1944, Hora Zero (HarperCollins, 2016, 218 páginas) é mais um livro de mistério escrito por Agatha Christie. Com um elenco de personagens vasto, alguns até aparentemente meio soltos, o livro apresenta o conceito de Hora Zero logo no prólogo, durante uma conversa entre um grupo de pessoas, em que o senhor Treves fala:

“— Gosto de um bom romance policial, mas, como se sabe, sempre começam do ponto errado! Começam do assassinato. Entretanto, o assassinato é o final. A história começa muito antes disso: algumas vezes anos antes, com todos os motivos e fatos que trazem certas pessoas a certos lugares, numa certa hora e num certo dia. […] Todos se dirigindo para um determinado lugar… E então, quando chegar a hora: o clímax! Hora zero. Sim, todos convergindo para a hora zero… Hora zero.” (p. 12)

Essa ideia é posta em prática no próprio livro, pois o leitor acompanha por mais de 100 páginas o desenrolar do triângulo amoroso na mansão em Gull’s Point — que, ao contrário do que se pode imaginar, é muito divertido de ser acompanhado, tanto por causa da situação geral em que temos o marido tentando forçar uma amizade entre esposa e ex-esposa quanto por conta do estilo de escrita de Agatha Christie — até seu clímax, que é o assassinato. Outros elementos comuns dos livros dessa autora também marcam presença, como um variado número de suspeitos, pistas falsas, depoimentos pouco convincentes e toda a investigação para desvendar o mistério.

O detetive da vez é o superintendente Battle, que faz sua sexta e última aparição nos livros de Agatha Christie. Diferentemente das outras obras da autora, em Hora Zero tanto o detetive principal quanto o segundo detetive são membros da polícia. Em comparação às histórias protagonizadas por Hercule Poirot, por exemplo, o detetive belga age como consultor da polícia ou é contratado por alguém interessado em desvendar o crime ou assume a investigação para manter as ‘células cinzentas’ em forma. Já em Hora Zero, o superintendente Battle e o inspetor James Leach são membros da polícia, envolvidos oficialmente na investigação. Battle é um sujeito sério e focado em descobrir a verdade enquanto Leach, seu sobrinho, atua pela primeira vez em um crime de assassinato.

Hora Zero é um livro de mistério bem divertido, rápido e interessante. Não chega a ser um dos mais engenhosos da autora — para quem for mais experiente, vai notar um padrão que facilita a solução do caso — mas a forma como ela entrega esses elementos é sempre um diferencial em suas obras.

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