sábado, 22 de março de 2025

Artigo de segunda #41 – A MULTIFACETADA LUCY TEIXEIRA

Publicado em 10 de junho de 2024, às 15:27
Fonte: José Neres – (Professor. Membro da AML, ALL, APB e da Sobrames-MA
Imagem cedida pelo autor

Chega aos meus ouvidos a notícia de que, no próximo dia 15 de junho, às dez horas, no Teatro Napoleão Ewerton, a professora, escritora e acadêmica da AML e da ALL Ceres Costa Fernandes fará parte de um ciclo de palestras no já aclamado Café Filosófico, interessante empreendimento cultural, pensado e organizado pelo professor e psicanalista William Amorim.

            Na ocasião, além de poder ouvir a professora Ceres Costa Fernandes, que hoje, sem sombra de dúvidas, é a mais abalizada pesquisadora sobre a vida e a obra de Lucy Teixeira, o público poderá também adquirir os livros O Essencial de Lucy Teixeira (Edições AML, 2023) e o inédito Crônicas de Lucy Teixeira – Cenas do Cotidiano de São Luís 1947 (Edições AML, 2024), duas obras que lançam novas luzes e novos olhares críticos sobre a produção literária da autora da Elegia Fundamental.

            Nos meios acadêmicos de São Luís (e do Maranhão como um todo) não é segredo a admiração que a cronista Ceres Costa Fernandes sente pela pessoa e pela escrita da segunda ocupante da Cadeira número 07 da AML. Essa admiração, que nasceu exatamente no dia 28 de julho de 1979 (data em que Lucy Teixeira tomou posse na Academia Maranhense de Letras, sendo recebida por José Sarney) e que se intensificou duas décadas depois, quando a escritora caxiense publicou seu livro No tempo de alamares & outros sortilégios.

            Todas essas décadas de dedicação, leituras e estudos possibilitaram também que a professora Ceres entrasse em contato com materiais inéditos produzidos por Lucy Teixeira, inclusive com os trabalhos de cunho científico e diversas obras de arte, como por exemplo, o quadro que foi reproduzido na capa do livro O Essencial de Lucy Teixeira.

            Mas, embora seja uma intelectual de vital importância para a cultura maranhense, o nome de Lucy Teixeira (bem como sua obra) ainda não foi suficientemente apreciada e estudada tanto nos meios acadêmicos, quanto pelo público em geral. Trata-se, então, de uma escritora que pode oferecer margens para diversos estudos em várias áreas do conhecimento.

            Como aqui no Maranhão não é comum a valorização e divulgação dos intelectuais da terra, não importando o quão tenham sido aceitos e aclamados em outras unidades federativas ou mesmo em outros países, sempre cabe uma pergunta.

QUEM É LUCY TEIXEIRA?

            Nascida no dia 11 de julho de 1922, na cidade de Caxias, no estado do Maranhão, Lucy de Jesus Teixeira estudou em Minas Gerais, onde se graduou em Direito e teve importante atuação cultural, juntamente com escritores como Fernando Sabino, Murilo Rubião, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Câmara, entre outros.

            Quando regressou a sua terra natal, passou algum tempo na capital maranhense, onde exerceu cargos na secretaria do Tribunal de Justiça, colaborou como cronista no Jornal O Imparcial, participou do Grupo Ilha, do qual faziam parte também intelectuais como José Sarney e Ferreira Gullar.

            Lucy Teixeira morou em diversos países, como Itália, Bélgica e Espanha, sendo reconhecida por suas habilidades intelectuais e por seu talento no uso poético das palavras em prosa e em verso.

            A escritora publicou os seguintes livros: Elegia Fundamental (poesia, 1962), Primeiro Palimpsesto (poesia, 1978), No tempo de Alamares & Outros Sortilégios (contos, 1999) e Um Destino Provisório (romance, 2001), além de haver escrito a peça teatral intitulada Quem Beija o Leão e de haver deixado diversas crônicas e poemas esparsos em revistas e jornais.

            Em 1978, Lucy Teixeira foi eleita para a Cadeira 07 da Academia Maranhense de Letras, sucedendo a Alfredo de Assis Castro, que havia falecido no ano anterior. Sua posse na Casa de Antônio Lobo ocorreu em julho do ano seguinte, em um grande evento.

            Em 1990, a escritora se aposentou pelo Ministério de Relações Exteriores. Vitimada por complicações decorrentes de uma pneumonia, a contista maranhense faleceu no dia 07 de julho de 2007.

            Entre as homenagens recebidas após seu falecimento, o nome de Lucy Teixeira foi escolhido para patronear a Cadeira 31 da Academia Ludovicense de Letras e, em 2022, como lembrança pelo centenário de nascimento de Lucy Teixeira, a AML editou, em um único volume os livros Elegia Fundamental e Primeiro Palimpsesto.

            Surge então outra dúvida: de que tratam os livros publicados por Lucy Teixeira?

ELEGIA FUNDAMENTAL

            Publicado em 1962, esse longo poema tem como temas centrais a morte e a inevitável despedida que ocorre após o momento final de uma pessoa amada. Os versos iniciais do poema apresentam uma pungente beleza e, ao mesmo tempo, remetem a uma reflexão acerca de uma presença/ausência (in)capaz de preencher os vazios existenciais deixados pela certeza da morte.

Na plantação

há somente a perspectiva

de uma viagem,

Quando um dos plantadores cai,

em definitivo

cuidadosamente é posto numa caixa –

justo do seu tamanho –

e um lenço lhe cobre a face.

Então o seu rosto

é beijado muitas vezes,

sem que ele possa retribuir

a esse sinal de carinho,

pois o silêncio já lhe ocupou toda a boca.

            A imagem do corpo inerte depositado em um ataúde e dos beijos de despedida dados pelas incrédulas pessoas que permanecem nos caminhos da vida demonstra que o passamento de alguém não é apenas uma questão física, química ou biológica. É um momento de reflexão. Esse poema foi escrito pela ocasião do falecimento da mãe de Lucy Teixeira e à memória dela – Dona Joana – é dedicado.

PRIMEIRO PALIMPSESTO

            Escrito em 1977 e publicado em livro no ano seguinte, esse breve, porém contundente poema é dedicado à cidade de São Luís e ao poeta Ferreira Gullar. Em pouco mais de noventa versos, a escritora consegue fazer um périplo pelas próprias recordações acerca da cidade que a acolheu – São Luís – e traz em suas estrofes o sentimento de tristeza e de perda do eu lírico com a notícia do falecimento do poeta Bandeira Tribuzi. Os espaços em branco e os vazios textuais demonstram a presença de um eu lírico que se vê desnorteado diante de umas reticências iniciais que escondem algo que possivelmente não pode ser dito, mas que permanece guardado nos recônditos da memória.

            É um poema para ser lido com calma, tentando compreender as múltiplas camadas de um palimpsesto que se multiplica em camadas que precisam ser destrinçadas e que escondem nas entrelinhas marcas da cidade, do ser e de uma saudade.

NO TEMPO DOS ALAMARES & OUTROS SORTILÉGIOS

            Habilidosa com as palavras, Lucy Teixeira apresentava destreza na confecção de narrativas curtas. Nesse livro, que é dividido em duas partes – a primeira com seis contos e a segunda com onze textos, a prosadora caxiense mergulha na psiquê das personagens sem deixar de lado os problemas mundanos e as crises sociais e existenciais que inundam as páginas do livro. Suas personagens parecem viver em constantes conflitos internos que se refletem em suas atitudes e decisões. Cada texto pode ser visto como uma série de “íntimas confidências” utilizadas como verdadeiras “táticas de guerra” por personagens femininas que tentam se livrar de uma sufocante opressão social e até mesmo pessoal.

UM DESTINO PROVISÓRIO

            Nesse romance, Lucy Teixeira envolve o leitor em uma série de violências que entrecruzam questões jurídicas, comportamentais e psicológicas e que levam a jovem Raimunda (Mundoca) a se isolar do mundo em um mutismo para se proteger dos traumas que atormentam sua vida.

            Imersa em um turbilhão de acontecimentos capazes de alterar sua percepção com relação ao mundo e as pessoas que a rodeiam, a protagonista vive em constante processo de reaprendizado para poder sobreviver às intempéries. Sobre esse livro, o professor e crítico Rafael Campos Quevedo comenta que ele “se filia à estirpe dos romances de temática existencialista, ainda que não se configure como um romance existencialista na acepção sartreana do termo”.

            Vale a pena acompanhar os passos de Mundoca pelos nada fáceis caminhos de sua vida que, apesar de ficcional, pode ser uma reprodução de muitas outras meninas que passaram por situações análogas em suas respectivas comunidades.

AS CRÔNICAS DE LUCY TEIXEIRA

            Bem, sobre essas crônicas ainda nada posso falar. Esperarei até o dia 15 para ouvir as palavras da professora Ceres Costa Fernandes e entrar em contato com o livro. Mas acredito que sejam bons textos. Afinal de contas, Lucy Teixeira era uma esmerada pensadora e escritora.

            Espero você por lá.

À minha eterna professora Ceres Costa Fernandes.

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