Antigamente, coisa de uns 30 anos atrás, o peso da geografia quando as pessoas se separavam, por qualquer motivo, era imenso. Pai e filhos, irmãos, casais de apaixonados, amigos que se queriam penavam com a concretude dos quilômetros que @s separavam. E pior: alimentavam as suas esperanças por cartas, cartões, presentes…que chegavam pelos Correios, dias (às vezes semanas) na estrada para que o remetente encontrasse o seu destinatário ansioso. Telefone? Artigo de luxo. Poucas pessoas tinham telefone em casa, alugava-se telefone no Brasil, fichas tinham que cair de 3 em 3 minutos, celular era um tijolo ambulante, coisa que pouquíssimos afortunados exibiam como um símbolo de status. Internet? Mais raro ainda. E discada. Nesse cenário, um lugar era um lugar mesmo, conceito geográfico, distante do outro, sem conexão nenhuma que os ligasse imediatamente.
Aí a coisa mudou. Começaram a explorar a internet mundo afora. A telefonia saiu das mãos do governo e virou coisa de mercado livre, com marcos regulatórios. Os telefones celulares passaram a ser cada dia mais populares, baratos e servidos por uma rede mais moderna e ampla. A internet, que já era realidade, passou a ser mais e mais célere, também mais barata. As lan houses cresceram no Brasil como cogumelos em tronco podre de árvore. E, nesse cenário, entre tantas e tantas definições que se fizeram impor numa conjuntura mais ampla, o conceito de lugar foi também se redesenhando. Os lugares passaram a ser, paulatinamente, mais acessados instantaneamente, literalmente, a um clic, a um toque no mouse, a um touch.
Acontece, nesse contexto, a mágica! As pessoas que estão distantes parece que passam a redesenhar o sentimento e o valor da distância. Você agora pode ler o que o seu amor escreve, no exato segundo em que ele/ela envia a mensagem. Melhor: você pode percebê-l@ “escrevendo”, a mensagem, seu coração agora não espera quinze dias para saber o que ele/ela está pensando, seu coração espera segundos… E melhor: você pode falar com ele/ela, ouvir a sua voz (meio metalizada, se o equipamento é ainda rudimentar; limpa, se ele for mais caro), ver as fotos que ele/ela posta, ver a sua imagem ali, ao vivo e em cores. Sim, você ainda usa os Correios, mas apenas para remeter aquilo que acha que a internet não consegue, como um presente, um cartão postal, por exemplo. Para as outras coisas, ele ficou obsoleto. E, se você quiser dar uma demonstração maior de amor, você faz uma ligação – que, dependendo da operadora, pode sair “de graça” ou custar centavos. Distância, definitivamente, teve seu conceito esboroado – atualizado, para ser mais justo.
Agora, portanto, tudo se resolveu. Nada! O conceito que foi redefinido foi o de distância. Há um outro, bem mais complexo, que a tecnologia ainda não conseguiu refazer, que todas as inovações que repaginaram o sentido de distância ainda não foram capazes de transmutar, que permanece imemorial e irretocável. É aquela palavra que todos nós sabemos que só existe em Português. Aquela, aquela mesmo…