“No fundo, o mundo é feito para acabar num belo livro.”
(STHÉPANE MALLARMÉ, 1842-1898, poeta francês)
O que é o livro? 569 anos depois da Bíblia de Gutenberg, o livro continua mantendo-se como o mais clássico, o mais charmoso, o mais simbólico dos suportes disseminadores de cultura já criados pelo ser humano.
Na Terra pelo menos não se conhece nação dita e tida como civilizada que não tenha sua história e pré-história, seus feitos e defeitos relatados, documentados em livro. Nação desenvolvida — já o disseram — é nação de leitores. Sobretudo, leitores de livros.
Livro é “liber”, libelo, liberdade. Conhecimento aprisionado em forma, fôrma e tinta gráfica, libertado em explosão na consciência da Humanidade. (O latim “liber”, de onde se originou em português a palavra “livro”, é o nome que, em Botânica, nas árvores, se dá à “película que se acha entre a madeira e a casca exterior (“cortex”, ‘córtice’), o “liber” sobre o qual se escrevia antes da descoberta do papiro” (Houaiss, 2009).
Livro marcado e caçado a fogo, na Era Medieval, na Alexandria egípcia, na Alemanha nazista.
Livro resistência, permanência.
Da prensa à rotativa.
Livro. Livre.
O mundo ainda vai demorar bastante tempo para descobrir um outro suporte de conhecimento e entretenimento tão mágico e encantador quanto o livro. Se descobrir.
Falam em livro eletrônico (“e-book”) — mas ele não substitui o prazer do toque, do tato, contato. Observe no leitor os gestos comedidos ou relaxados, soltos ou estudados, ao pegar, ao abrir, ao folhear o livro. Repare o declinar dos olhos, o menear da cabeça… Esboço de liturgia. Bosquejo de rito. Rascunho de ritual.
Falam em livros na Internet, mas isso não é o mesmo que um livro na rede — na rede de embalar, de balançar, estirada na varanda na fazenda, pendurada próxima à janela no apartamento.
Na soleira do casebre, no jardim ou piscina da mansão, uma pessoa com um livro é quase igual àquela outra pessoa com um livro: ambos frequentam o mesmo mundo — o mundo da leitura, onde se dá a leitura do mundo e, quem sabe, sua (re)construção. Literária/mente — e, pode ser, literal/mente.
Todos escrevem. Se não com a pena no papel, escrevem com os olhos, com o coração, imprimindo na infinita tela da memória o que foi elaborado e reelaborado no imensurável da imaginação.
Todos escrevemos. O estudante que escreve é também um escritor que estuda.
O indivíduo passa. O livro, não. O que ou quem é objeto de um texto fica ao mesmo tempo preso e liberto nas páginas do livro.
Quem escreve e quem se deixa (d)escrever, esses não morrem. Existem escritores e personagens esquecidos ou desconhecidos — mortos, não.
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No princípio era o verbo. E o verbo se fez livro. E o livro fez o verbo livre.
Lembra-te que tu és pó. Pó e pigmento. Pó e palavra. Palavra e papel, pena e tinta.
Em cada livro, um pouco de eternidade.
O livro é um diamante de papel.
Pois — a História confirma — um livro é para sempre.
EDMILSON SANCHES
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