Existem muitos tons de azul: o azul quase preto, o muito escuro, o escuro, o quase cinza, o escuro-claro, o claro meio claro, o claro muito claro, claríssimo, o esverdeado. Existem também muitas metáforas de azul: azul-bebê, turquesa, safira, manto de nossa senhora, piscina, mar, fundo do mar, céu. E uma outra infinidade de azuis não nomináveis. O azul é a cor mais representativa da vida.
“E aí, tudo bem?” “Tudo azul”. O povo é sábio. Escolheu o azul para representar o seu estado positivo de alma, de espírito ou sua situação contextual favorável de vida. Talvez isso aconteça por causa da relação cristã que se faz entre o céu e a felicidade – e quando olhamos para cima, vemos que o céu é um azul-imensidão, que se multiplica e nos abarca imensamente e que, no infinito, encontra a terra. Quanto mais azul ele está, mais dizemos que o dia está lindo. “Dia lindo! Céu azul, sem nuvens”.
Na sua “trilogia das cores”, feita em homenagem ao bicentenário da Revolução Francesa, o cineasta Kielowiski escolheu o azul para contar a história de uma mulher que, após perder a família numa tragédia de carro, tenta refazer a sua vida. A trilogia é inspirada nas cores da Revolução, que se casam aos seus dísticos. Assim, o azul engloba o título: “A liberdade é azul”. Os outros são: “A igualdade é branca” e “A fraternidade é vermelha”. Vi os três filmes, mas os outros dois não se comparam à delicadeza, à mensagem e à sensibilidade redentora do azul, que ainda por cima é protagonizado pela linda Juliette Binoche, numa atuação magistral. Um azul que toma a tela, uma cor que redime a história da personagem principal, Julie, quase alcançando a nossa. Deliberadamente.
“Eu estou de azul e amarelo”, cantou cazuza. “Foi assim como ver o mar, a primeira vez que meus olhos se viram no seu olhar” é o início de “Todo azul do mar”, música do 14 bis. “Tudo azul, todo mundo nu” instigava o irreverente Lulu Santos. “Vesti azul minha sorte então mudou…” registrou o compositor maranhense Nonato Buzar na canção “Vesti azul”, imortalizada pelo ótimo Wilson Simonal. Se a MPB adotou o azul, é porque ele é mesmo a cor das sensações…
Um beijo azul. Um oceano azul. Uma felicidade azul. Um emprego azul. Um coração azul. Uma amizade azul. Uma maternidade azul. Uma amizade azul. Uma vida azul, cheia de boas realizações. O azul é, definitivamente, uma cor benfazeja.
Azul pra marcar estados d´alma. Azul pra registrar feitos importantes. Azul pra eternizar encontros e reencontros singulares. Azul pra representar uma conquista “pessoal e intransponível”. Azul para apagar as infelicidades – pequenas ou grandes – no percurso de cada um. Azul pra vestir-se num mergulho fundo nalguma felicidade. Azul pra contextualizar a sua merecida alegria – em todos os seus quatro pontos cardeais.
(*)Texto inspirado no cartaz do filme “Azul Profundo”