—> 7 de abril, Dia do Jornalista: se a data estiver assinalada de vermelho… é de vergonha. E se estiver de preto, é de luto.
* * *
“Jornalistas e jornais que mais parecem advogados, em defesa dos políticos que os sustentam.”
*
“São jornalistas ou ‘office-boys'”?
*
“Jornalistas são as pessoas mais competentes para matar o Jornalismo.”
*
“Bolso e consciência. Em ordem alfabética, BOLSO vem em primeiro lugar…”
*
“Quem faz da Imprensa uma arma de injustiças, favorecimentos e mau-caratismo, torna-se sua primeira vítima. Existem crimes de Imprensa e existem crimes com a Imprensa.”
*
“O leitor não precisa ser jornalista para perceber o que está por trás de certas manchetes e rodapés, dos destaques exagerados e das omissões calculadas, das redações enviesadas, tortas, forçadas…”
* * *
IMPRENSA: DE QUARTO PODER A QUARTO DO PODER
Dia do Jornalista. A data, nos últimos anos, tem passado em branco. Com motivos: com os primeiros movimentos de pretensas pré-candidaturas, a alma do jornalismo se acinzenta de intere$$es e fica negra em ano de eleição.
I I
Tempos atrás, um professor e funcionário público disse-me ficar impressionado com o tanto de asneiras que jornalistas dizem ou escrevem, tentando justificar-se perante (e)leitores. Segundo ele, esses jornalistas, no exercício da profissão, fazem defesas profissionalmente escandalosas e eticamente indefensáveis de candidatos ou pré-candidatos. Parecem não ser jornalistas, mas advogados, tal o mandato de procurador que parecem ter recebido, a fé sem obras que professam, a mão sobre a Bíblia que não treme e o rosto – cínico – que não mexe, o rosário de louvaminhas que desfiam, a cessão de espaço e, até, do próprio nome e personalidade por 30 moedas.
I I I
O leitor sabe, ou sente, quando os textos são feitos “de encomenda”. Sabem quando jornalistas passam a ser “officce-boys”.
Enganam-se os jornalistas que acham que enganam os outros: eles estão é enganando-se a si mesmos, e a contragosto. Sim, a contragosto mesmo, pois, fosse conquistada, sobretudo nos municípios interioranos a sonhada independência editorial, tudo o quanto se vê e lê em jornais e televisões seria muito, mas muito diferente mesmo.
Se políticos e proprietários soubessem o que é dito deles, fora das redações… Porque, em mesas de bar, em conversas frente a frente, a opinião é bem outra. Mas, de tanto enganarem os outros, políticos e proprietários não estranham esse jogo de enganação, de embromação, de “mise-en-scène”, de encenação. A lógica é essa: me enganem, desde que falando bem de mim, desde que a mentira me seja favorável. Me enganem, que eu gosto.
I V
Mas jornalistas-camaleões, que mudam de cor comportamental e profissional de acordo com o “ambiente” que os remunera, devem saber que não estão enganando os leitores. Reforce-se: estão enganando-se a si mesmos e, sobretudo, tornando menos acreditada essa instituição que é a Imprensa, o Jornalismo.
V
Assim como certos políticos fizeram e fazem e vão continuar fazendo, isto é, desacreditando a Política, igualmente certos jornalistas, como hábeis multiplicadores do que não presta, vão competentemente desgastando esse inimigo da corrupção, bastião da nacionalidade, baldrame da cidadania, fundação da sociedade, sustentáculo da democracia — que é a Imprensa.
Porque jornalistas são as pessoas mais competentes para matar o Jornalismo. Eles são, ao mesmo tempo, filhos e arrimo dele: nascem dele e o sustentam — ou, se quiserem, lhe tiram a mesada.
V I
A Terra tem cinco bilhões de anos; a vida, 600 milhões; os primeiros primatas surgiram há 70 milhões, e os primeiros hominídeos (de onde provêm os atuais seres humanos) apareceram há 2 milhões e 500 mil anos.
Pois bem, nestes 2,5 milhões de anos, muitos seres humanos vêm reconfirmando que a darwiniana “strugle of life”, a luta pela vida, pela sobrevivência, não tem valor — tem preço.
Assim, em nome do “dicumê”, em nome do alimento, pessoas se coisificam e ligam a mínima para a única característica que nos diferencia dos demais elementos vivos da natureza: consciência.
V I I
Alguns chegam à pachorra de dizer que são “profissionais”, e, em nome desse “profissionalismo”, desvirtuam a própria profissão.
No caso de pessoas que trabalham em Comunicação Social em tempo eleitoral, trava-se uma batalha entre bolso e consciência e como até em ordem alfabética “bolso” vem em primeiro ligar…
Atenção: nada de juízos apressados, falta de memória ou falhas de raciocínio: Não se está, aqui, dizendo que comunicadores, jornalistas, não devam trabalhar para candidatos — até porque comunicação deve ser feita ou orientada por comunicadores. O que se deplora é o absoluto desrespeito, senão desprezo, pelos princípios — que não deveriam ter fim — do Jornalismo.
Certos “profissionais” nem parece que trabalham para um candidato; parecem ser “o” próprio candidato, tal a catarse, a simbiose que deixam transparecer em textos e atitudes. Nem parece que vestem a camisa: carimbam a pele, tatuam a alma… até serem expurgados e jogados na rua de novo e, aí, como a personalidade não tem valor (tem preço) ficam à espera e à espreita de uma nova oferta, inclusive de quem antes fora vítima de seus ataques. Afinal, é um “profissional”…
V I I I
Nos lugares onde se faz jornalismo que respeita o leitor / ouvinte / telespectador / internauta, o veículo de comunicação que defende um candidato dá a conhecer a seu público, em editorial, sua posição. Diz que, comparados o passado, o histórico, as ideias, os programas etc., fez opção por determinado nome, mas continuará a respeitar a profissão e os consumidores, fazendo a cobertura de todos os candidatos.
Jornais de vergonha fazem isso porque sabem que, ao final, quem os sustenta são os leitores, não eleitores. Perde a fibra profissional, a veia jornalística, o veículo de comunicação que acha que leitor é esgoto eleitoral e nele despeja material explicitamente propagandístico travestido de notícias, editoriais, opinião… Quanto esforço, meu Deus, para enganar a si mesmo! Não deveriam ser jornalistas, mas doceiros, confeiteiros, tanto que se acreditam os reis da cocada (qualquer que seja a cor dela).
I X
Jornal assim não resiste ao tempo. Peguem-se exemplares de épocas diferentes: não há unidade, coerência, não há o que chamam de “linha” – afora a da bajulação descarada. (E, aqui, mais um ponto de contato desse tipo de jornalismo com a político: ambos são tão “dinâmicos”…).
O leitor não precisa ser jornalista para perceber o que está por trás de certas manchetes e rodapés, dos destaques exagerados e das omissões calculadas, das redações enviesadas, tortas, forçadas, como forma de chegar, de um lado, ao destinatário a quem pensam prejudicar, tripudiar, ferir, acicatar, fragilizar, e, de outro, ao destinatário a quem pensam seduzir, “abiscoitar”, convencer, justificar(-se), enganar.
X
Jornalistas costumam dizer que a Imprensa é uma arma. Usada assim, de forma abjeta, antiprofissional, ela até pode ferir a quem se deseja ferir, mas levará juntas outras vítimas: o jornalismo e o jornalista.
Quem faz da Imprensa uma arma de injustiças, favorecimentos e mau-caratismo, torna-se sua primeira vítima. Existem crimes de Imprensa e existem crimes com a Imprensa. Neste caso, o jornalista que faz — ou compactua com — isso, vai além do crime: ele comete suicídio. Um suicídio lento, visceral, registrado indelevelmente nas páginas impressas e na consciência expressa.
Quando a tem.
X I
O jornalista é o profissional mais competente para fazer crescer ou para diminuir o jornalismo. Uma questão de opção. E vergonha.
Neste dia 7 de abril, Dia do Jornalista, em diversos lugares e calendários, se a data estiver assinalada de vermelho… é de vergonha. E se estiver de preto, é de luto.
Em qualquer situação: pêsames.
A Imprensa, nesses lugares, caiu de quatro. Não é mais o “Quarto Poder”.
É, tão-só e miseravelmente, o quarto (de despejo) do Poder.
EDMILSON SANCHES
Cursos – Palestras – Consultoria
Administração (Pública e Empresarial) – Biografias –
Comunicação – Desenvolvimento – História – Literatura
CONTATO: [email protected]