Juntos, somam em 2024 quase três séculos de vida: 282 anos cheios de conhecimentos, experiências, sabedoria, exemplos de luta, trabalho e superação, de honestidade pessoal, profissional e intelectual.
Os três — José Herênio de Souza, 97 anos em setembro; Osmar Walcacer de Oliveira, 97 anos em agosto (“in memoriam”); e José Geraldo da Costa, 88 anos neste 18 de março — são, pode-se dizer, os mais longevos usufrutuários da vida entre os membros da Academia Imperatrizense de Letras (AIL).
Em comum, além da Academia, os três têm o “peso” da responsabilidade de ser e de servir, todos tendo dedicado a Imperatriz e região grande parte de seu tempo, esforço, talento e outros recursos.
Em 17 de fevereiro e nas edições de 03 e 10 de março de 2024, com textos de Edmilson Sanches, a AIL e o jornal “O Progresso” reconheceram e homenagearam cada um desses trabalhadores da Cultura e da Educação, da História e do Jornalismo.
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FOTOS: José Geraldo a cavalo: cavalgando bem a vida. No centro da foto, Dona Odette, e, de branco, os filhos José Geraldo (à esquerda) e Gabriel. Capa de seu livro, “Ais Caem”.
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Neste 18 de março de 2024, o educador, ambientalista, administrador público, professor universitário e ativista sociocomunitário José Geraldo da Costa completa 88 anos.
Nesse mesmo dia, há oito anos, escrevi o texto abaixo, que li para ele e amigos em sua residência, na comemoração de seus 80 anos bem vividos.
As palavras e a admiração se mantêm.
Felicidades, Seu Zé e sua Maria! (E. S.)
NOS 80 ANOS DE JOSÉ GERALDO DA COSTA (18/03/2016) – O dia 18 de março, em 1936, foi uma quarta-feira. Quarta-feira é bem no meio da semana. E no meio está a virtude — “in medio virtus”, diziam os latinos. Ou: “Pelo meio irás muito seguro” (“Medio tutissimus ibis”, como registra Ovídio).
Foi nesse dia, mês e ano que em Recife (PE) nasceu José Geraldo da Costa, filho de Amaro e saído, em sua expressão, “do conforto ambiental interno” de sua mãe, Dª Odette.
Geraldo completa 80 anos e a cidade que, pelo visto, ouvido e vivido, escolheu para ficar deveria fazer festa.
Deveria brindar o muito que ele já fez, em pensamentos, ideias e ações, e deveria dele cobrar o muito mais que pode(ria) fazer — caso lhe fossem solicitados seus múltiplos conhecimentos, variados serviços e sólidas experiências, além do inquestionado compromisso com as coisas e causas locais (sobretudo locais), regionais, nacionais, mundiais, universais e que tais.
Mas Imperatriz ainda deve ao Zé Geraldo, isto é, deve/ria solicitar-lhe o concurso de seu talento e trabalho.
Formado na primeira turma de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, com vida vivida e serviços prestados à gestão pública em São Paulo, com possibilidade de transferir-se para outro país, a oportunidade, o querer ou o acaso acabou por trazer para Imperatriz esse patrimônio humano de fazer saber (como professor) e saber fazer (consultor, gestor, assessor).
Imperatriz conta com capitais intelectuais subaproveitados ou ainda não aproveitados. Trata-se de um desperdício indesculpável, que se debita, no Serviço Público, à conta de gestores incompetentes, inseguros, incapazes de romper a carapaça em que se encolhem e escondem, refratários a qualquer coisa que seja excelência, qualidade, inovação, ousadia, criatividade. Napoleão Bonaparte dizia do por que existem tão poucos estadistas: para ganhar o Poder, é preciso mesquinhez; para exercer o Poder, é preciso grandeza — e por isso as pessoas que têm grandeza dificilmente chegam ao Poder, porque não sabem, não querem ou não concordam em descer ao nível dos tapetes (baixeza e sujeira) para conquistar posições políticas no Executivo ou no Legislativo. Assim, quem é mesquinho raramente convida e convive com a grandeza, ou os grandes, de sentimentos, talentos e trabalhos nobres.
Sou depositário de produções (textos técnicos e literários) de José Geraldo, que recolhi ou dele recebi (e venho recebendo e conservando) desde a década de 1980. Quando, pela segunda vez, fui eleito presidente da Academia Imperatrizense de Letras, além de, em 2002, ter criado a Semana Imperatrizense do Livro (depois tornada Salão do Livro, SALIMP), iniciei, em 2003, um plano editorial que publicaria textos dos acadêmicos que ainda não tivessem livros próprios — na época, dos 33 membros da Academia, oito nunca tinham tido livro editado com seu próprio nome, e José Geraldo da Costa era um desses nomes. Assim, com boa apresentação gráfica, com projeto e concepção da capa do próprio autor, Zé Geraldo abriu o plano editorial, com a publicação do seu até agora único livro, “Ais Caem”, de poesia, como sugere o título, alusão e trocadilho com “haicai”, nome daqueles concisos poemas japoneses, surgidos no século 16.
Quando fui trabalhar e estudar (Direito e pós-graduação em Administração de Empresas) em Fortaleza, quem eu encontro lá: o irmão e quase sósia do Geraldo, o maior, melhor, mais querido e mais famoso livreiro da capital alencarina, o Gabriel. Pronto! Foi uma alegria só: quase que diariamente (ou noturnamente…) estava eu ali na Livraria Gabriel da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Eram compras e conversas muitas, lembranças e saberes divididos, ideias e ideais (e indignações cívicas) fortalecidos. E, claro, as recorrentes referências e relembranças relacionados ao José Geraldo, amigo (meu) e irmão (dele, Gabriel).
José Geraldo da Costa completa 80 anos, e se a cidade não faz festa esta não há de faltar no coração e espírito do mais jovem dos nossos oitentões.
Na Bíblia, o rico e bom Barzilai, que acolheu e alimentou Davi (que fugia do próprio filho e rebelde Absalão), já se considerava velho e alquebrado aos 80 anos, pelo que preferiu não aceitar o convite do rei para aproveitar as benesses da corte, quando Davi retomou o poder usurpado. Perguntou Barzilai (está lá no segundo livro de Samuel, capítulo 19, versículo 35: “Da idade de oitenta anos sou eu hoje; poderia eu discernir entre o bom e o mau? Poderia o teu servo ter gosto no que comer e beber? Poderia eu mais ouvir a voz dos cantores e cantoras? E por que será o teu servo ainda pesado ao rei meu senhor?”
Nos Salmos (Sm 90,10) salmeia-se: “Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando.”
Os falares e fazeres de José Geraldo não o revelam em idade oitentã. E se aqui e acolá o alcança alguma canseira ou eventual enfado, estes serão mais de “inconformações” e inconformismos cidadãos do que de inconformidades e indisposições físicas.
O talentoso e produtivo Zé Geraldo chega aos 80. Ainda tem muito chão pela frente. De José Geraldo a terra ainda haverá de lhe permitir muitos rastros de seus pés e muitos carinhos de suas mãos, caminheiro e cultivador que ele é.
Moisés tinha 80 e Arão 83 quando falaram de liberdade ao faraó. Geraldo bem que tentou, e o que falou, se foi escutado, não foi feito pelos “faraós” da atualidade.
E já que estamos falando em Bíblia (e Bíblia e Geraldo independem de religiões), Lameque estava prolífico aos 182 anos. E Matusalém, nem se fala…
Para José Geraldo da Costa, 80 anos, hum!, é só o começo.
Ou recomeço, para um homem que se recomeça e se reinventa todo santo dia.
Feliz aniversário, Zé.
E que seu Contrato com a Vida se renove por muitos e muitos anos.
(EDMILSON SANCHES)