Com uma pequena exceção, as listas de livros mais vendidos no Brasil em 2023 não tem brasileiros. Os ranqueados como favoritos dos leitores estão repletos, principalmente, de best-sellers norte-americanos, com a ficção, romances juvenis e autoajuda, como gêneros favoritos.
Aqui não cabe julgar leituras nem suas obras, afinal cabe a cada leitor escolher o seu próprio entretenimento ou forma de adquirir conhecimento. Mas é curioso perceber o quanto a literatura brasileira é pouco conhecida e valorizada em seu próprio país.
A brasileira Carla Madeira, com o maravilhoso livro “Tudo é rio”, é a única exceção no top 10 de livros mais vendidos em seu próprio país. O ranking foi dominado pela norte-americana, Coolen Hover, escritora de romances Young Adult, que aparece pelo menos duas vezes na lista, com as obras ‘É assim que começa”, e “É assim que acaba”.
Em 2022, Coolen Hover também figurou no primeiro lugar de escritora mais vendida no Brasil, novamente pelo livro “É assim que acaba”, que agora completa dois anos na lista de favoritos dos brasileiros. Um ano em que, novamente, tivemos apenas uma exceção no ranking: o romance nacional, Torto Arado, de Itamar Vieira, duas vezes vencedor do prêmio Jabuti.
Se voltarmos um pouco mais, em 2021, teremos o mesmo padrão: apenas um brasileiro no Top 10 de livros mais vendidos no Brasil. Naquele ano, o empresário e coach Tiago Nigro, conhecido como Primo Rico, figurava entre os maiores best-sellers com a obra de autoajuda e desenvolvimento pessoal, “Do mil ao milhão”.
Nem é preciso voltar mais anos para perceber que os escritores brasileiros não dominam as listas de mais vendidos em seu próprio território. Em alguns anos, não tivemos sequer uma obra nacional entre os favoritos dos leitores. Mas porque isso acontece? Falta de obras de qualidade? Falta propaganda? Ou a famosa síndrome do vira-lata?
Não é apenas na literatura que notamos que as obras nacionais são preteridas. Nos cinemas raramente vemos uma sala lotada por um filme nacional, ou passando a bilheteria de um novo longa da Marvel. E os escritores brasileiros sofrem o mesmo.
Os editores afirmam que este não é apenas um problema nacional, e que os livros de origem linguística inglesa também dominam os best-sellers do resto do mundo, inclusive em países europeus como França e Itália.
Soma-se isso ao fato de que, livros internacionais são mais fáceis de ganhar as prateleiras no Brasil, pois uma obra internacional só chega a outros países quando já se consagrou lá fora. Já no Brasil, estes livros estão enfrentando seu primeiro público, e ainda sendo testado no mercado. A grande dificuldade de publicar uma obra no Brasil também não contribui para um maior interesse dos leitores em obras nacionais.
Apesar disso, temos escritores brasileiros que figuram nas listas de mais vendidos ao redor do mundo. Paulo Coelho é muito conhecido e lido lá fora, mas nem sempre aparece na lista de mais vendidos em seu próprio país. Machado de Assis é reconhecido com um gênio da literatura, e sua obra “Memórias Póstumas de Brás Cuba” está entre os livros brasileiros mais vendidos ao redor do mundo. Mas raramente se vê a obra dividindo a prateleira com o novo romance americano do momento.
Ainda temos o agravante dos baixos índices de leitura no país, onde pesquisam revelam que mais de 60% dos brasileiros não têm o hábito de ler, e 30% nunca compraram um livro na vida.
Com o fechamento das livrarias, os preços cada vez mais competitivos e a avalanche de obras norte-americanas, o cenário nacional de escritores pode se sentir desmotivado. Mas quando vemos obras tão lindas quanto “Tudo é Rio”, e “Torto Arado”, ali no topo, a esperança de ocupar cada vez mais a estantes de leitores brasileiros, volta a acender.
Uma resposta
Infelizmente, nossa literatura tem caído no esquecimento.