O jornalista Elson Araújo sempre gostou de ler. E de escrever suas estorinhas desde a infância. Na vida adulta, foi profissionalmente um contador de histórias reais nos jornais impressos, no rádio e na televisão. Mais recentemente, tornou-se advogado. E hoje, ele entremeia essas três áreas com maestria. Nesta entrevista, ele, que é membro da Academia Imperatrizense de Letras, da Academia de Ciências Letras e Artes de João Lisboa e do Instituto Histórico e Geográfico de Imperatriz, faz um passeio pelo mundo da literatura, diz até que ponto ela é importante para a formação do advogado e de como ele se divide (e se diverte!) por estes três mundos. Vale a leitura!
Região Tocantina – Para você, qual é a importância da Literatura para a formação do jurista?
Elson Araújo – A literatura para o direito, e consequentemente para formação do jurista, é fundamental. Isso fica evidente quando se visitam alguns grandes nomes da literatura brasileira, e mundial, e se descobre que grande parte tinha formação jurídica. Direito e literatura são irmãos siameses. São intrínsecos. Na semana passada participei de um evento de extensão do curso de Direito do Ceuma/Imperatriz. O trabalho, veja que riqueza, era os acadêmicos escolherem uma obra literária para delas extraírem questões atinentes ao mundo do direito. Vi alunos emocionados, ao evocarem os conceitos e princípios apreendidos a partir leitura das obras estudadas. A literatura, ali ficou cristalino, tem o condão de humanizar o futuro jurista. A literatura humaniza, o SER humano!
Região Tocantina – Muitos juristas famosos fazem parte da história da literatura brasileira. Você acha que essa tendência ainda se mantém?
Elson Araújo – De alguma maneira a resposta anterior completa esta. Claro que sim! O acadêmico, ou jurista já consolidado, não pode renunciar a uma boa leitura. E não só obras técnicas jurídicas, que também são importantes e necessárias, mas também de outras áreas. Dessa relação com os livros, e com a academia na construção de artigos científicos, TCCs, teses, dissertações, a vivência da militância profissional, dificilmente não germina um escritor.
Região Tocantina – Sua trajetória pessoal é ligada ao jornalismo, ao direito e à literatura. Como você, na vida prática, une essas três áreas?
Elson Araújo – Sempre gostei de ler. O hábito veio da infância. Da audição de literatura de cordel, e do exemplo dos meus irmãos mais velhos, e de um tio, advogado, irmão do meu pai. Logo, aos oito anos de idade, quis também escrever minhas estorinhas, até então, guardadas só pra mim. Tornei-me repórter policial do Jornal O Progresso, concomitante com a mesma função no rádio. A cobertura das mazelas, das injustiças, dos dramas nosso de cada dia, a reflexão em torno do conjunto do que via, vivia, e recontava no rádio, no jornal e até na TV; os livros que lia, enfim, foram me empurrando para essa seara que tanto amo, que é literatura. Primeiro, com os arremedos de contos, depois com a tentativa da poesia, e recente uma paixão avassaladora pela crônica. Respondendo sua pergunta. Há uma convivência saudável e pacífica entre essas três áreas, apaixonantes. Digo em casa sempre: gosto dessa pluralidade.
Região Tocantina – Quais as suas inspirações literárias?
Elson Araújo – Pode até soar estranho, mas não há uma específica. Cada autor que a gente tem a oportunidade de auscultar, prescrutar- lhe a alma, vai deixando, alguns mais, outros menos, um pedacinho nele na gente. Mas, gosto muito de Jorge Amado e dos três fantásticos Rubem: o Fonseca, o Alves e o Braga. Aluísio Azevedo, em o Cortiço, também me marcou muito. Ah!, também gosto muito da forma como um escritor maranhense, Marcos Fábio, manuseia as palavras. Queria muito escrever perto do texto desses nomes consagrados da literatura brasileira (risos).
Região Tocantina – Você sente que o contato com a literatura o ajudou a ser um advogado melhor?
Elson Araújo – Não tenho dúvida de que a boa literatura humaniza o exercício de qualquer atividade profissional. A literatura é terapêutica. Cura, liberta e ajuda a construir um homem melhor.