Parte 1: Hoje homenageamos um colega que partiu sábado dia 07 de outubro. José Ronaldo Mendonça Fassehber foi um encontro alegre no mundo acadêmico, um mundo às vezes pesado devido os narcisismos dos egos inflados de professores e pesquisadores acadêmicos (somos levados a isso na formação escolar), protocolos e prazos apertados e doentios. Zé Ronaldo me apareceu como um amigo, um mentor, um mestre, um intelectual humilde, potente, inteligente, um respiro no trabalho e uma paixão em comum pelos povos indígenas do Brasil, pelo Etnoesporte e pelos Etnosaberes.
Com autorização da sua esposa Liliane Freitag, abaixo reproduzimos seu texto que se tornou público no nosso grupo de pesquisa em Etnoesporte no whatsapp. Agradecemos o texto belo de despedida(não haveria um texto melhor) e a amizade nova de Liliane.
Parte 2: As palavras aquecem e alimentam.
Como tenho dito, perdi mais um pedaço de mim…
Foi embora meu marido que agora segue em memórias e afetos;
Foi embora a voz de um inconformado com o desmonte de nossos direitos, com a violência de gênero, com a xenofobia, com os pseudomoralismos e com a violência de Estado.
Mas a voz dele irá continuar através dos milhares de alunos e alunas que passaram por ele durante o tempo em que esteve aqui;
A voz dele irá continuar nas militâncias que encampou, na preservação das águas, dos animais, enfim… do planeta. Vai continuar través de seus leitores, de seus amigos, colegas de profissão;
A voz dele também irá continuar em todo aquele que um que um dia foi ‘tocado’ por esse inquieto sujeito se levantava contra todas as formas de racismo e de todas as faces do fascismo.
Sobretudo, sua voz continuará nas memórias construídas com nossas filhas e nas memorias partilhadas com nossas famílias e amigos: – tanto aqueles mais recentes, quanto aqueles de longa data, – seus poucos, porém preciosos irmãos do peito.
Zhé e os seus significados irão continuar nas minhas lembranças. A começar pela fria cidade de Palmas, quando em 1999 nos conhecemos: ele, um mestre recém-chegado – descia as escadas com seu conhecido chapéu, cabelos longos, jaqueta de couro. Eu, eu já consolidada a um ano na mesma Instituição. Ambos em início de profissão, começamos linda amizade rodeada pelos mesmos autores, pela vontade de ser ‘ gente grande’ no campo da Ciência. A união desses gostos iguais e temperamentos tão diferentes, fez nascer um ‘amor racional’ entre dois jovens em início de profissão.
Zéh irá continuar na minha memória afetiva de quando me apresentou o ‘mundo indígena’ e quando, em 2000, resolvemos, como eu sempre digo, ‘reunir nossos livros’.
Zéh e seus significados irão continuar nas minhas lembranças daquele cair de tarde na aldeia Kaingang (2001) onde o pajé, – seu Zé Maria celebrou nosso casamento: sem fotos, sem espetáculos, mas repleto de toda a energia do sol que se punha. Foi magia pura.
Eu sempre disse que fui fisgada por um intelecto em corpo de homem lindo. Fui de fato uma sortuda!
Zhé irá continuar comigo nas memórias dos eventos que participamos. Também estarei ao seu lado – para sempre, – em nossas publicações conjuntas.
Ele continuará também nas memorias que tenho de nossas épocas ‘de sol’ quente e brilhante: como aquela que a vida nos presenteou com a preciosa Tarsila. Quando chegou Hannah, depois Mel.
Mas também continuará em tantos outros momentos: – como aquele em que perdemos a Tarsila com seus 6 anos: ah!!! nesse período a vida foi ‘fria conosco’!
De lá para cá, o sol continuou nascendo e se pondo, porém, nunca mais conseguiu aquecer aquele coração ( o meu coração) como antes… mesmo assim, seguimos!
Zhé, meu amado companheiro, sujeito tão diferente e ao mesmo tempo tão igual a mim, completou seu ciclo e virou, como Tarsila, ‘pozinho de pirlimpimpim’ ( explicação que demos a nossa pequena Hannah, em 2012 com seus 4 aninhos. Meu companheiro, também como Tarsila, será levado para as águas: ela, foi lançada na serena e límpida agua da pequena cachoeira no fim da trilha na Aldeia do Sol, em Guarapuava, ele, será levado ao mar, agora já liberto de suas dores e angústias, onde finalmente ‘livre’ foi se reencontrar com a natureza.
Se existe céu acho que esse lugar jamais será o mesmo.
Se Zhé estiver com Tarsila, acho que ‘enfim voltou a viver’.
Sigamos'( Liliane Freitag 14/10/2023 )
6 respostas
Que belo e pungente texto!
Obrigado, colega
Obrigado.
O professor Zé sempre será lembrado.
Texto potente e lindo. Zé era um docente admirável.
Lindo texto, muitas memórias,
Segue em paz Zé.
Sempre será lembrado.
TD vai ficar bem.