Hoje encontrei um antigo professor. É um daqueles professores que nada de produtivo deixam para o futuro dos seus alunos. Um professor que me marcou, talvez mais do que todos os outros.
O professor… era o que de pior havia no meu curso. Não tinha o menor interesse pelo trabalho que desenvolvia em sala. Não fazia a menor questão de se atualizar – ministrava uma disciplina que, só depois vim a saber, era importantíssima para a minha formação profissional, mas que, orientada por ele, tornou-se inútil e odiosa. Não tinha a menor simpatia, antes fazia questão de arrastar uma fama de poucos amigos. Nunca foi respeitado, sempre foi temido.
As aulas do professor… eram uma piada só: ele chegava, não trazia nada, ou quando muito um livro que para ele livro não era, porque nunca o abria, não usava o quadro, e ficava papeando com um ou outro aluno – os mais chegados, que lhe puxavam o saco. Suas provas eram quase sempre produções de texto, que ele não corrigia e, no final, aprovava a todos.
Sempre foi considerado por alunos e professores o peso-morto do curso. E não era referência para nada por lá. Um dia ele se aposentou. Ninguém notou que ele tinha deixado a cátedra. Nem os flanelinhas, pois desconfio de que ele não lhes pagava pela vaga em frente ao prédio.
Pois estou hoje no banco e o avisto no caixa automático. Fui ao balcão e ele estava grampeando uns comprovantes de conta. “Posso usar o grampeador, senhor?”, pedi. Notei que sua mão tremia um pouco. Usei o grampeador, agradeci e saí. Ele ainda ficou lá, acho que demorou mais um tanto para fazer uma tarefa que me pareceu custosa.
Hoje os caminhos da vida me trouxeram à docência. Sei que muitos alunos também, um dia, me encontrarão por aí, talvez operando, com vagareza, terminais inteligentes de bancos ultra-automatizados ou de supermercados high-tech. Não queria que eles me ignorassem, não queria que me tratassem como um estranho, que não demonstrassem por mim a menor afeição. Quero vê-los bem-sucedidos, felizes com suas escolhas, suas carreiras, talvez com um filhnho ou filhinha (de carne-e-osso) do lado. Quero que eles digam ao guri ou guria: “olha, esse moço foi meu professor…” com um brilho nos olhos. Quero sentir que eu, de alguma forma, fui importante na vida deles.
Quem diria! O meu professor, que nunca me ensinou nada que eu aproveitasse em sala de aula, me ensinou agora, tantos anos depois, uma lição importantíssima: não quero ser como ele. E isso já é muita coisa.