domingo, 3 de novembro de 2024

As vozes do silêncio,  no apagão

Publicado em 20 de agosto de 2023, às 9:30
Fonte: Elson Araújo – jornalista, advogado, escritor e membro da Academia Imperatrizense de Letras.
A burning lamp hangs in the dark on a blurred background. Imagem: FreePik Premium

“Há verbo no silêncio!”

Há verbo no silêncio! Quer uma prova disso?  O apagão da última terça-feira, 15, que por umas seis horas consecutivas afetou, segundo o Operador Nacional do Sistema (NOS) 29 milhões de domicílios em todas as regiões do País. É que com o País, parcialmente silenciado pela falta de energia elétrica, o silêncio pôde se mostrar, e demonstrar o quanto é poderoso, e com isso dizer muita coisa. O silêncio, para mim é loquaz.

Esqueçamos, por alguns instantes, os prejuízos e os desconfortos, principalmente a parte que coube ao blecaute nas redes sociais. Foram as primeiras a caírem em silêncio. Nesse particular, a queda no sistema elétrico, não me afetou muito. Além do mais, achei foi bom, porque me rendeu o texto de hoje. Desacelerei, e acabei foi ganhando!  Mas, nem todo mundo é igual e, sem rede, muita gente sofreu com a crise de abstinência.  “Isso, a globo não mostrou”

Perceberam como até as buzinas dos carros pararam de zoar? O motivo não é difícil de explicar. Com atividades laborais, esmagadoramente, dependente da energia elétrica, muitos obreiros ficaram em casa e outros retornaram para casa. Consequência disso: economia de combustível e menos buzinas nos atormentando, mais silêncio.

Sem os acústicos do WhatsApp, como já disse, o sistema de telefonia também foi afetado e tirou as redes sociais do ar; sem o vibrar, audível das geladeiras, sem o som, dos aparelhos de rádio e TV, das fábricas e indústrias, o silêncio foi rei por algumas adoráveis, pelo menos para mim, horas. Com isso, proporcionou momentos raríssimos  entre os sapiens das regiões afetadas pelo apagão, como mencionado, todas.

O silêncio temporário proporcionou até o milagre do reencontro de pessoas que, mesmo debaixo do mesmo teto, não se viam há muito tempo. Santo silêncio!

O apagão da terça-feira demonstrou como o silêncio é importante para vida dos humanos. A começar pelo fato de o fenômeno forçar uma desaceleração das coisas, e também das pessoas.  O período agudo da pandemia do coronavírus já havia comprovado isso. O mundo, naqueles tempos, mesmo com eletricidade, ficou mais silencioso com os homens e mulheres recolhidos aos seus lares. O mundo desacelerou. O sussurro dos ventos ficou mais perceptível, o respirar ficou melhor, e até as águas dos oceanos ficaram mais leves e limpas.

É bom viver o silêncio, mesmo   em situações forçadas, como foi o apagão da terça-feira. 

Quando o silêncio reina é possível, não só ouvir as batidas do coração da gente, mas perceber a abertura para aquela adiada conversa conosco. Penso, vivo isso às vezes, que uma conversa com a gente é saudável, e reforça nosso lado humano. Poderoso é o silêncio!

É de se concluir, em um   mundo cada vez mais barulhento, a importância do silêncio para o equilíbrio das coisas. O silêncio nos permite, entre muitas coisas, ouvir a nossa própria voz, pensar em nossos pensamentos, sentir nossas emoções e nos conectar com nossa espiritualidade. O silêncio também nos ajuda a relaxar, a reduzir o estresse e a melhorar a nossa saúde mental. Silenciar é nos permitir uma conexão com o presente, e no mínimo, a possibilidade para   apreciar as pequenas coisas da vida. Sem falar, que é do diálogo com o silêncio que se  forma um ser  humano mais criativo,  e  de onde brotam novas ideias.

Até o próximo apagão!

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