Por: Gabriel Barros Neres – Jornalista
Doze pessoas conseguem uma reserva no restaurante Hawkthorne, localizado numa ilha paradisíaca, para um jantar comandado pelo renomado chef Julian Slowik (Ralph Fiennes) e sua equipe de cozinheiros. Entre o elenco de personagens temos um ator em declínio e sua acompanhante interesseira, um casal que vive altos e baixos, três amigos investidores, uma crítica de restaurante e seu editor e Tyler (Nicholas Hoult), um apreciador/conhecedor de gastronomia, e grande fã do chef Slowik, ao lado de Margot (Anya Taylor-Joy), sua convidada de última hora.
Trata-se de um jantar muito elegante, desenvolvido especialmente para aquelas pessoas ricas e soberbas que vão ao restaurante em busca da melhor refeição de suas vidas. Um jantar que guarda surpresas chocantes para todos os envolvidos.
Dirigido por Mark Mylod, O Menu (The Menu, 2022) é um filme que varia entre suspense, terror e comédia com humor ácido. O diretor consegue conduzir muito bem a tensão crescente do filme, fisgando o espectador a cada novo prato apresentado.
Mas o gênero não é tão importante para o que o filme se propõe. Ao longo de uma hora e quarenta e oito minutos, senti que sua essência é criticar. Comparando com um iceberg, zombar do comportamento das pessoas ricas estaria na ponta, seria algo fácil e um lugar comum. Felizmente o filme vai além disso.
No começo do jantar, o chef Slowik faz um pedido aos fregueses: “Não comam. Por favor, apreciem, degustem, saboreiem”. Em outro momento, ele confronta um cliente que já jantou outras 11 vezes no Hawkthorne, pedindo-lhe para dizer o nome de algum prato consumido na última vez que esteve ali. A resposta é murmurada por sua companheira – e ainda estava errada.
Para Slowik, cada prato é único e especial que merece ser degustado sem pressa, assim como um livro que precisa ser lido no seu devido tempo ou uma série que deve ser assistida aos poucos para ser absorvida e refletida ao invés de ser maratonada em questão de horas e esquecida depois de um ou dois dias. Tanto critica o público específico, aquele que consome tão depressa a ponto de não apreciar tal produto, quanto a indústria cultural que, após o advento dos streamings, tem lançado muito conteúdo e sacrificado a qualidade.
Essas e outras reclamações estão presentes nos personagens que compõem O Menu. Tyler, por exemplo, representa o fã que sabe de tudo, mas que quando precisa colocar seus conhecimentos em prática, decepciona. É curioso que, no começo, ele parece ser um dos protagonistas, mas sua presença é bastante tímida, ficando quase esquecido em seu próprio canto, apreciando com deslumbre toda a situação do jantar. Já Margot é o oposto de Tyler. A personagem de Anya Taylor-Joy personifica o público comum, ela não está interessada naquela refeição chique ou nos discursos intelectuais que o chef promove a cada novo prato oferecido. Sua presença ali levanta dúvidas em Julian, ela é tão misteriosa quanto o próximo prato a ser servido. Margot e Julian em tela rendem alguns dos melhores momentos do filme.
Ralph Fiennes entrega a melhor performance do longa. Seu Julian Slowik é uma figura imponente mesmo quando está escondido no fundo da cena, intimida os fregueses com uma batida de palmas e é imprevisível, sempre fazendo o público pensar sobre qual seu próximo passo, qual é o próximo prato a ser entregue. Disponível no streaming Star+, O Menu vale tanto como um filme para entreter quanto para refletir e criticar alguns comportamentos envolvendo a arte e a sociedade contemporânea.