Por: José Neres – professor, escritor, membro da AML, ALL, SOBRAMES-MA, APB.
A mulher e sua história
No seio da sociedade
Ainda é pouco estudada
Em escola e faculdade
São figuras aguerridas
Valentes e destemidas
Rompem a dificuldades.
(Esmeralda Costa)
No início de 2020, o mundo viu-se assolado por uma pandemia que deixou grande parte da população atônica e com a saúde física e mental abalada. De repente, parece que saímos de um mundo conhecido e entramos em um universo distópico que se assemelhava a um filme de ficção científica. Trancadas em casa e recebendo a cada minuto uma enxurrada de informações desencontradas, muitas pessoas procuraram algum tipo de ocupação física e/ou mental para enfrentar o período difícil pelo qual todos passavam.
Foi nesse momento tão complicado de nessa história que a professora Esmeralda Costa, que tem formação superior em Letras pela Universidade Estadual do Piauí e pós-graduação em Literatura Brasileira e Africana pela URCA – Universidade Regional do Cariri, acabou despertando para um talento que andava adormecido por conta das lides cotidianas e pelas tarefas relacionadas com a profissão. Foi em plena pandemia que ela descobriu dentro de si o latente chamado da Poesia, mais precisamente da poesia em forma de soneto e de cordel.
Seus poemas começaram a circular entre os amantes da literatura e a chamar a atenção para a construção de imagens mentais que se consolidavam em forma de versos e estrofes carregados de ritmo e de imagens. Foi quase no final de 2020 que ela resolveu trazer à luz seu primeiro trabalho independente, o cordel intitulado Gênesis: a criação do mundo (editora Cordel e Arte), no qual, com o título já informa, a escritora estiliza o primeiro dos cinco livros escritos por Moisés e que faz um levantamento de aproximadamente duas dúzias de séculos da história da humanidade.
Em apenas 8 páginas e 28 estrofes, a cordelista cearense sintetiza a história da criação do mundo e os mais relevantes acontecimentos desse livro da Bíblia Sagrada. Utilizando o tom de conversa bastante presente nas obras em Cordel, Esmeralda Costa introduz o poema com os seguintes versos:
Eu vou contar pra vocês
Com tudo começou
Com perfeição nosso Deus
Uma história iniciou
Ele fez o Céu e a Terra
Isso muito lhe agradou.
Bem acolhida pelos leitores, a professora decidiu continuar nos caminhos da Poesia e, seguindo os ensinamentos do escritor russo Liev Tolstoi, que defendeu a ideia de que “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”, transformou em versos a história de sua terra natal no poema intitulado De Nova Roma a Campos Sales. Nessa obra, em 33 estrofes, a escritora traça um perfil histórico, social, turístico e econômico daquele município cearense situado cerca de 525 de Fortaleza e onde está sepultada a revolucionária Bárbara de Alencar, uma das mulheres mais importantes da história do Brasil.
E é justamente a figura de Bárbara de Alencar – também conhecida por ser avó do escritor José de Alencar – que motivou Esmeralda Costa a escrever os cordéis Bárbara de Alencar: Heroína nacional (Academia Cearense de Literatura de Cordel) e “Dona Bárbara” – de Pernambuco pro Crato e do Crato pro Brasil (projeto Sesc Cordel). Embora tenham como figura central a mesma personagem, os dois poemas mais se completam do que se anulam e possibilitam ao leitor um contato mais aprofundado com essa valorosa mulher que nem sempre é lembrada pelos pesquisadores da história do Brasil.
Faleceu nossa heroína
Aos setenta e dois de idade
O Brasil deve lembrar
A sua grandiosidade
Matriarca nordestina
Dona Bárbara fascina
Pela genialidade.
Além das obras individuais, Esmeralda Costa também participa de diversas antologias e faz parceria com outros poetas de renome, como é o caso de Pedro Sampaio, com quem escreveu A invenção de Gonzaga é o Ritmo Nordestino, e de Cearensidade Gonzagueana, com o também poeta Pedro Cavalcante. Nesses dois livros ou autores prestam homenagens ao cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989), considerado um dos mais importantes nomes da música brasileira de todos os tempos.
Aos poucos, o nome de Esmeralda Costa vem ganhando projeção nacional e seus trabalhos ganham reconhecimento entre admiradores e pesquisadores da cultura popular. Atualmente, ela faz parte Academia Internacional de Literatura Brasileira, da Academia Cearense de Literatura de Cordel e da Academia Poética Brasileira.
O que chama a atenção na produção poética dessa escritora, além de seu trabalho com as palavras, é sua capacidade de sintetizar temas e de compor narrativas que mesclam assuntos de interesse de determinadas esferas da sociedade com um ritmo agradável aos olhos e os ouvidos dos leitores. É sempre possível aprender um pouco mais lendo a obra dessa autora.
Mesmo sendo um momento terrível de nossa história, a pandemia serviu para mostrar a todos que há sempre alguma pedra preciosa prestes a brilhar em nossa cultura às vezes tão desprezada.
4 respostas
Sem palavras aqui de tão emocionada que estou. Muito obrigada, Neres. Você é mesmo fantástico!
Texto muito bem elaborado que conta resumidamente a trajetória poética da educadora, escritora e cordelista Esmeralda Costa.
Parabéns para a nossa poetisa! Que venha mais inspirações para que enriqueça a nossa história de forma mais agradável.
Belíssimo texto. É sempre bom valorizar iniciativas e talentos da literatura de cordel. Parabéns!!!