Por: Liana Melo – advogada, empreendedora e coach sistêmica.
Tentei postar este texto ontem, não deu tempo. Eu tinha uma extensa agenda para o dia 08 de março, passei a maior parte do dia servindo outras mulheres com o meu trabalho, mas também tirei um tempo para receber e aceitei o convite para um chá no final da tarde em minha homenagem para o qual fui sem sequer conseguir tomar um banho. Recebi cobranças do marido porque saí de casa às 7 horas da manhã e só retornei após às 20 horas, isto porque abri mão do compromisso no turno da noite porque já queria mesmo encerrar o dia, mas não sobrou energia para o texto. Isto foi só um dia tranquilo e divertido para quem passou a semana ouvindo profissionais e outras mulheres contarem o quanto tendemos a uma rotina sobrecarregada.
Este relato me leva a ocasião perfeita para falar da síndrome da Mulher-Maravilha. Já ouviu este termo? Conhece alguma mulher vivendo esta jornada da heroína?
Segundo explicou o psicólogo e mestre em Ciências da Saúde, Wagner Costa, no endereço eletrônico https://cfa.org.br/esta-sobrecarregada-e-exausta-voce-pode-ter-a-sindrome-da-mulher-maravilha/ , este não é um termo da saúde, mas é utilizado para definir o comportamento de mulheres que “…querem dar conta de tudo, resolver todos os problemas, serem perfeitas e ainda assim manter a beleza, o corpo perfeito e agradar a todos. A mulher, desde muito jovem, é cobrada para estar sempre bela, arrumada, a estar sempre feliz e pronta para resolver o problema de todos e cuidar das pessoas em sua volta”.
Vale lembrar que a Diana, personagem da Mulher-Maravilha vem de uma sociedade sem homens e por isto mesmo as mulheres locais tem esta postura de autossuficiência.
E ainda dentro da psicologia podemos falar do triangulo do -drama de Karpman que aponta três posturas que se ligam intimamente, onde uma não existe sem a outra. Ele as denominou de vítima, agressor e herói, ou seja, só existe uma vítima e um agressor porque também existe alguém no papel de salvador (herói) alimentando esta tríade.
Outro aspecto a considerar é o que a Renata Fornari, que é a formadora exclusiva do método Louise Hay no Brasil chama de VBL, sigla para: vício pela busca de aprovação. Somos uma sociedade forjada no patriarcado que domesticou as mulheres para um papel social ideal tornando-as sempre preocupadas com o julgamento dos outros e em como se comportarem para serem aceitas.
Frases como “ menina boa não faz isto”, “ se você fizer isto o papai vai ficar triste”, ou ataques como “ que menina burra”, “ não vai prestar para nada assim como sua mãe” e “ assim nenhum homem vai te querer” são suficientes para destruir as crenças de identidade de uma mulher. É do feminino nutrir e cuidar, mas conscientemente ou no inconsciente coletivo carregamos uma necessidade muito forte de transcender negativamente este papel e pegarmos uma carga excessiva simplesmente para sermos reconhecidas, vistas e aceitas.
A heroína, a chamada Mulher-Maravilha, é uma fêmea que ocupa um lugar que não é seu, consequentemente cria uma desordem nas relações, esta “Menina Superpoderosa” normalmente carrega a sensação de que se ela não fizer ninguém faz e uma sensação de injustiça muito grande que a torna a salvadora.
Bert Helinger, codificador da teoria constelação familiar, fala da importância de três leis naturais, uma delas é a do equilíbrio de troca que preconiza que não havendo uma equivalência na proporção entre o quanto damos e recebemos em determinada relação criaremos uma desordem no amor e quem dá demais se comporta como mãe e consequentemente afasta de si a pessoa a quem muito é dado. E por isto a heroína sente-se sozinha.
Já percebeu como é no cinema e nos quadrinhos? Normalmente o herói não casa, não descansa, está sempre alerta e tem dupla jornada e o mais agravante: usa máscara e esconde sua real identidade. Não seria este um papel pesado demais para uma mulher encenar na vida real?
A parte do nosso cérebro chamada didaticamente de cérebro reptiliano está sempre pronto para lutar ou fugir, era uma função muito necessária para o ser humano da pré-história, mas hoje, quando não precisamos mais estar 24 horas em estado de alerta, mas escolhemos estar, afinal, precisamos salvar o mundo, acabamos por desenvolver transtornos como stress e ansiedade. A sensação de que tem que dar conta de toda a demanda que nos é imposta nos coloca em um lugar de dor. E quem impõe esta demanda? As próprias mulheres que criam mulheres para agradar e que criticam mulheres ao invés de apoiá-las e acolherem seus sentimentos? E sem falar que vivemos na sétima nação com maior número de assassinatos de mulheres no mundo. Se sua velocidade de leitura é a de um leitor médio saiba que quase três mulheres sofreram uma agressão só nos 5 minutos que você passou lendo este texto.
Quem as mulheres querem salvar? Elas mesmas? Suas ancestrais que nos transmitiram memórias de dores em relação aos homens? Ou querem proteger suas descendentes de repetirem seu destino? Por quem querem ser reconhecidas e validadas? Por seus companheiros? Seus pais? Pela sociedade? Por que a necessidade de controle? Será que temem não serem amadas se não forem necessárias? Por que não se satisfazem com o lugar do feminino e acabam tomando para si os papeis dos homens? Fazem isto porque os homens não cumprem seus papeis ou os homens não o fazem porque seu lugar está ocupado?
Merecemos parabéns não por sermos mulheres virtuosas, não é este o objetivo da data, muito menos por darmos conta de vivermos neste paradigma de competição em que mulheres são doutrinadas na rivalidade. Então será que estamos de parabéns por sermos heroínas e Mulheres-Maravilhas? Claro que não! Que nossas consciências nos livre deste destino. A data em celebração é do dia internacional da mulher, se trata de receber homenagens e parabéns não pelo que fazemos ou deixamos de fazer, pois o que fazemos ou deixamos de fazer simplesmente torna nossa vida mais fácil ou mais difícil. Hoje comemoramos o SER, o simples fato de ter nascido mulher, a data de hoje refere-se a crenças de identidade ao O EU SOU e não a capacidades.
Parabéns mulher, parabéns porque você é especial não pelo que você faz, mas simplesmente porque um dia você disse sim a vida e veio ao mundo como mulher. Parabéns por existir! Parabéns por ser esta força feminina!
E que neste mês de comemorações você atente ao fato de que somos mais da metade da população e que a minoria, os homens,são educados por nós mulheres, então nós podemos sim mudar este discurso sexista que nos levou a nos compararmos e consequentemente nos vermos como rivais e substituir o paradigma da competição pelo da cooperação. Podemos sim nos admirar, nos amar e nos apoiar, não precisamos lutar contra os homens, eles tem seu lugar na nossa sociedade, precisamos apenas sermos rede de apoio umas para as outras ao invés de perpetuadoras de discursos que não nos favorece.
Amo você mulher, porque a energia feminina que pulsa em mim, é a mesma que lhe mantem de pé, amo você porque você nada mais é do que uma extensão de mim desfrutando a vida por aí. Somos todos um com tudo e com todos, eu sou uma com você e isto me deixa feliz. Parabéns para nós!