(Por: Marcos Fábio Belo Matos – Jornalista, professor e escritor. Vice-Reitor e Diretor de Comunicação da Ufma)
Se a minha memória não me trai, uma das primeiras aulas que tive, então calouro do Curso de Comunicação da UFMA – Habilitação em Jornalismo, ali pelos anos de 1991, foi com a professora Zefinha Bentivi. Já então sua fama a precedia como uma grande professora de Redação, pelos cursinhos da vida. E, para nós, recém-chegados, já era um privilégio estar ali, na sua presença, com todo aquele poder simbólico.
Isso já tem 32 anos. Zefinha era então uma jovem professora universitária, cheia de vida, que falava a plenos pulmões e conseguia o que todos nós, ali naquela sala, cheios de sonhos e esperanças universitárias, queríamos: magnetizar os futuros Jornalistas, Radialistas e Relações Públicas para o poder, a importância e a beleza que era o mundo da comunicação – mundo até então outro, baseado na mídia, calcado no papel impresso, tocado a máquinas de escrever, fotografias a filme, gravações a fita e telefone fixo – de casa ou de orelhão.
Era a disciplina de Introdução à Comunicação (ou algo como isso). Zefinha falava bonito, suas aulas mais pareciam uma grande pregação – em prol da democracia, do valor das relações humanas em meio ao poder da técnica, da importância de uma boa formação humanista para ser um bom profissional. Isso entre uma e outra elucubração teórica, entre a escola de Frankfurt e José Marques de Melo, por exemplo.
Depois da minha formatura, fui correr mundo, mudei de cidade, de vida, diversas vezes, e me afastei de São Luís e suas relações. E meio que me afastei de Zefinha por uns 20 anos.
Fomos nos encontrar de novo pelas estradas do Maranhão, correndo os campus da UFMA para apresentar a ideia de um movimento que pretendia repensar as bases da nossa universidade, chamado “Pacto Pela UFMA”. Fizemos a viagem do Pacto, depois fizemos outras andanças, durante a campanha do professor Natalino Salgado a reitor.
Foi um reencontro que me encheu de energia e novas esperanças.
Energia porque eu, por essa época, estava meio jururu, meio combalido, confesso. Estava há 5 anos na batalha pela finalização do meu tratamento de câncer, indo e vindo de São Paulo; tinha pedido, em 2015, exoneração do meu cargo de Diretor do Campus da UFMA de Imperatriz e isso me deu um gosto amargo de não ter terminado minha missão, por absoluta falta de condições de saúde. E, vendo-a depois de tantos anos e com o mesmo espírito jovial e feliz, eu fatalmente me espelhei para perceber que, sim, a vida pode ser muito boa – apesar dos dissabores, que sempre serão muitos. Lição aprendida com a mestra, sem sala de aula…
E esperança num bom futuro para a nossa UFMA. Pois eu sabia que, onde estivesse Zefinha, ali também estariam boas energias, estaria um projeto, antes de qualquer coisa, muito humano e que valorizava as pessoas.
Não me enganei. Convivi esses três anos com ela, entre reuniões burocráticas; eventos da extensão e cultura (ela é quem comanda a PROEC – a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura); visitando autoridades para fechar acordos, convênios, parcerias; visitando os colegas da imprensa para divulgar o Guarnicê de Cinema; em almoços, jantares e outras comedorias; discutindo resoluções, pareceres, portarias e assemelhados; em reuniões de conselhos e de gestão… sempre aprendendo, sempre percebendo aquele seu olhar arguto, capaz de enxergar o humano sobre o técnico, testemunhando as suas muitas iniciativas para dar à UFMA mais cultura, mais alegria, mais capilaridade social – e isso tudo no meio de uma pandemia, não nos esqueçamos.
Acho que convivi com Zefa, em sala de aula, uns dois semestres, o que perfaz 120 horas/aula. Mas continuo seu aluno. Aprendo com sua generosidade, com sua honestidade, com as ótimas piadas que ela conta, com aquele riso que sai fácil e enche qualquer espaço, com sua imensa capacidade de negociar e abrir espaços, muitas vezes com uma frase espirituosa que desmonta o interlocutor, com seu encantamento pela vida e pelas pessoas.
Isso porque, professora em essência, quando ela deixa a sala de aula, continua ensinando. Sempre.
2 respostas
Excelentes são as lembranças boas dos estudantes em relação aos seus professores e essas marcas devem ser compartilhadas para que mais pessoas e, principalmente, professores(as) confirmem a beleza de ser professor(a).
Parabéns!!!!
Resgatar um mestre que tanto nos ensinou e ensina é um grau de amadurecimento, respeito e humildade inigualável.. mestres de muitas vidas e caminhos.. viva Zefinha