O que vem a ser um intelectual? Eis uma pergunta que pode trazer diversas respostas e suscitar inúmeros debates. Quando elaborou seu famoso Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, o professor e filólogo Francisco da Silveira Bueno definiu como uma das possíveis acepções para essa palavra algo relativo à “pessoa dada aos estudos literários ou científicos”. Conforme pode ser visto no verbete, esses conceitos remetem mais diretamente a dois campos do saber: literatura e ciências, excluindo outros conhecimentos.
Tentando trazer mais luz a essa discussão, em uma entrevista datada de 2004 e disponível na internet, o historiador Joel Rufino dos Santos considera que os conceitos de intelectualidade podem ser vistos de modo mais amplo ou de forma mais restrita. Se, por um lado, todas as pessoas que trabalham com as ideias e com a inteligência podem ser de alguma forma consideradas intelectuais, torna-se necessário lembrar também que alguns indivíduos que se dedicam a produzir conceitos e teorias que podem alterar a percepção das demais pessoas com relação a determinados assuntos não podem ficar fora dessa categoria. Partindo-se dessa visão defendida por Joel Rufino dos Santos, os conceitos relativos a o que é um intelectual podem ser estendidos a pessoas que se destaquem em outros campos do saber.
Há alguns intelectuais que são reconhecidos internacionalmente e outros que são divulgados apenas em determinadas regiões. No âmbito das letras e da historiografia, há nomes como o matemático, linguista e filósofo Noam Chomsky, que é considerado o pai da linguística moderna e que revolucionou os estudos da linguagem ao desenvolver os estudos da Gramática Gerativa Transformacional e demonstrar que o ser humano tem uma tendência inata à produção e estruturação de textos. Outro nome importante é o da escritora e ativista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que além de escrever romances de grande aceitação por parte do público e da crítica especializada, também tem desenvolvido teorias e manifestos relacionados com a educação de crianças e sobre os perigos que podem advir da aceitação de uma visão única da história.
No Brasil, há também diversos intelectuais que, embora nem sempre conhecidos do grande público, têm prestado relevantes serviços à história do pensamento humano. Um desses intelectuais é o geógrafo, cientista e jornalista Milton Santos (1926-2001), mundialmente reconhecido por seus estudos sobre os conceitos de espaço e de paisagem. Há também o médico, geógrafo e cientista social Josué de Castro (1908-1973), um intelectual bastante destacado por fazer um mapeamento da problemática da fome e indicar possíveis soluções para tal situação. No campo da educação é possível destacar também o nome do professor Geraldo Caliman, que introduziu no Brasil os métodos e os conceitos da Pedagogia Social, que se preocupa com as pessoas em situação de exclusão social. A professora Maria Cândida Moraes é outra intelectual mundialmente reconhecida por seus estudos sobre as relações entre educação e complexidade, com a defesa da tese sobre o Paradigma Educacional Emergente. Além de defender suas próprias teorias, essa pensadora também é reconhecida como divulgadora das ideias de Edgar Morin e de Paulo Freire, com os quais sua obra sempre dialoga.
Com relação à diversidade e à equidade na divulgação do conhecimento produzido, nota-se que, pelo menos nas últimas décadas, com o advento da internet e de outras tecnologias, é possível ter acesso às pesquisas realizadas por intelectuais pertencentes a etnias que muitas vezes foram, por motivos históricos, silenciadas, como é o caso dos estudos e das tradições indígenas, orientais e afrodescendentes. Os estudos relativos às questões de gênero e de outras causas sociais também têm alcançado uma dimensão de visibilidade que antes não era possível.
No caso do Maranhão, que tem oferecido à cultura brasileira nomes de relevância como Gonçalves Dias, Aluísio Azevedo, Ferreira Gullar e João Mohana, entre outros, há também diversos nomes voltados para os estudos educacionais, como é o caso da professora e poetisa Laura Rosa (1884-1976), que escreveu um longo estudo intitulado “As Crianças”, no qual analisa os métodos e modos de educação infantil em diversas partes do mundo. Mais recentemente, alguns pesquisadores que se dedicam ao estudo sobre a presença do negro nas diversas esferas da sociedade têm publicado livros como “Jornais do Império e o Cativeiro no Maranhão” e “O Negro no Maranhão” (de Manoel dos Santos Neto), “Insurreição de escravos em Viana – 1867” e “Breve memória da comunidade de Alcântara” (de Mundinha Araújo). Também não se pode deixar de citar no rol de intelectuais maranhenses nomes como Jomar Moraes, Arlete Nogueira da Cruz, Sebastião Moreira Duarte, Lourival Serejo, Carlos de Lima, Benedito Buzar, Carlos Gaspar, Rossini Correia, Alberico Carneiro, Terezinha Rego e tantos outros que ilustram nosso cenário científico e cultural.
Importante salientar que, conforme defende o professor Carlos Machado, em vídeo disponível na internet, é preciso dar visibilidade à produção, à história e à produção intelectual de todos os pesquisadores, independentemente de etnias, classe social, credo ou linha ideológica. Se isso ocorrer, toda a sociedade sairá ganhando.