Em Coopers Chase, um retiro para aposentados localizado no sudeste da Inglaterra, um grupo de quatro idosos se reúne toda quinta-feira, no salão de jogos, para discutir crimes não solucionados do passado. O que era um hobby se torna algo mais prático quando um empreiteiro local é encontrado morto em sua própria casa, vítima de um golpe na cabeça. A partir daí, o quarteto composto por Elizabeth, Joyce, Ron e Ibrahim colabora com a polícia para desvendar o crime e outros segredos que rondam o simpático retiro.

O Clube do Crime das Quintas-Feiras (Intrínseca, 2021, 400 páginas), escrito pelo britânico Richard Osman, se encaixa em um subgênero do romance policial chamado cozy mystery (mistério aconchegante, em tradução livre). Apesar do tema de assassinato, o livro entrega uma leitura muito leve, rápida, com capítulos curtos e fluidos. Existe o típico humor britânico ácido que funciona bem, sem exageros e que contribui para o clima leve da obra. Nesse tipo de história, no entanto, o mistério acaba importando menos, mesmo que tudo gire em torno da solução do crime.

A história é narrada majoritariamente em 3° pessoa, acompanhando o dia a dia de Coopers Chase, mas às vezes muda a perspectiva para a 1° pessoa, sob o ponto de vista de Joyce nas páginas de seu diário. É interessante a escolha de idosos como detetives, pois a morte ronda Coopers Chase. Vez ou outra Joyce lembra ao leitor que qualquer minuto pode ser o último daquelas pessoas que já passam dos 70 anos de idade – não apenas referindo-se ao quarteto protagonista, essa lembrança se estende a alguns dos coadjuvantes que marcam presença na história. Além disso, idosos costumam ser subestimados. O grupo que compõe o Clube do Crime usa e abusa da idade para negociar seu envolvimento com a polícia, quebrando regras sem nenhum medo das consequências – afinal, quem prenderia septuagenários inocentes que podem apenas responder “sem comentários” para a acusação de interferir na investigação?

Elizabeth assume o papel de liderança dentro do grupo, passando instruções aos outros integrantes, além de ser muito perspicaz, inteligente e misteriosa. Diferente dos outros personagens, sua profissão não é revelada, mas é seguro especular que tenha sido algo relacionado à inteligência britânica, considerando sua rede de contatos. Joyce também se destaca, graças ao seu diário conseguimos acompanhar de perto seus pensamentos, suas emoções e suas opiniões sobre os mistérios em Coopers Chase.

Ron Ritchie e Ibrahim possuem menos presença do que Elizabeth e Joyce, mas funcionam como uma boa dupla em interrogatório. Ron é ex-líder sindical, mas ainda costuma fazer protestos na casa de repouso e está indiretamente conectado ao caso, pois seu filho, Jason, conhecia o falecido empreiteiro e está no topo da lista de suspeitos, pelo menos na lista feita pela polícia.

Diferente de muitas histórias de mistério, a polícia nesse livro é bem competente. Eles avançam em sua investigação em paralelo ao Clube do Crime. Além disso, Chris Hudson e Donna De Freitas possuem carisma e simpatia, mesmo em tentativas infrutíferas de ameaçar os quatro velhinhos com a prisão. Possuem também seus próprios dilemas. Chris já está numa idade avançada e não se sente bem com sua própria aparência, lutando contra o sobrepeso e a vontade de comer hambúrguer e batata frita. Já Donna, provavelmente a personagem mais jovem do livro, tem ânsia por uma aventura, por caçar serial killers e resolver crimes complexos ao invés de fazer palestras e ficar no trabalho do escritório.

O Clube do Crime das Quintas-Feiras é um livro aconchegante, para passar o tempo. É leve, divertido e rápido. Também surpreende, seja com o desfecho para seus mistérios, seja com a expectativa criada no início da leitura. Até o presente momento possui duas sequências – O Homem que Morreu Duas Vezes e A Bala que Errou o Alvo – e uma adaptação cinematográfica está a caminho. Pelo visto a vida do grupo de velhinhos detetives será mais longa do que eles esperam.