Por: Hyana Reis – escritora e jornalista.
Lembro de andar sobre as ruas de Brasília com muita apreensão e medo, temia que, no dia 01 de janeiro, acontecesse tudo aquilo que veio ocorrer uma semana depois: ataques terroristas e tentativa de golpe. O clima de medo já vinha perdurando há dias na capital do Brasil, o policiamento era gigantesco e as ameaças, constantes.
Mas quando Luís Inácio Lula da Silva subiu a rampa do Planalto, tudo se dissipou. Com representantes do povo por meio de pessoas negras, indígenas, crianças e adultos, o sentimento era de união e alegria.
Parece distante aquele primeiro dia do ano de 2023, onde milhares de pessoas ocupavam a Esplanada e as ruas de Brasília. Por todo lado se encontravam apoiadores com o vermelho característico, gritando palavras de ordem e cantando por corredores, vias, espaços públicos e privados. O clima era de festa e nem um pouco intimidador. O terror só veio quando, ao invés do vermelho, o distrito foi tomado pelo verde e amarelo.
Acompanhei in loco o momento histórico da posse de Lula, e posso relatar a tranquilidade com que toda a festa ocorreu, sem violência, ou registro de brigas. Pessoas de todo o Brasil, e do mundo inteiro, querendo um pedaço, mesmo que pequeno, de um dia que ficou marcado na história do país.
Por isso, foi com enorme tristeza que, após estar em segurança na minha casa, e no meu estado, vi pela televisão e internet a nossa capital sendo tomada pelo ódio e violência, onde há pouco havia alegria. De ver destruído patrimônios que poucos dias atrás eu havia admirado. Um privilégio que, a partir de agora, muitos talvez nunca terão. Tanto da nossa arte e da nossa história se perdeu em apenas uma tarde.
Mas, mesmo com todos os esforços, a nossa democracia não foi tirada de nós. Prédios se reconstroem, ruas se limpam, móveis se compram, mas essa mancha na nossa história nunca será apagada. Por isso, manterei viva a lembrança daquele 1 de janeiro de 2023, quando achei que o Brasil teria um pouco de paz.