Por: Elson Araújo – Advogado, jornalista e escritor; membro da Academia Imperatrizense de Letras.
Memória e poesia é o nome do livro da professora Nilza Lago, uma compilação das inquietações da veterana educadora, em forma de poesia, organizada pelos filhos e netos para “celebrar e imortalizar sua vida, suas memórias”.
Fernando Cunha, um dos filhos da hoje aposentada professora, que por aqui fez história, me disse ontem que a família planeja brevemente fazer o lançamento da obra.
Fui convidado, ainda no ano passado, a fazer o texto de abertura do livro. Convite que muito me deixou comovido. Conheço Nilza Lago desde minha adolescência e sempre me cativou seu amor pela nossa cultura, da qual durante muito tempo foi protagonista a partir das diversas posições públicas que ocupou.
Na edição deste sábado de O progresso abro espaço para publicar o que nasceu do meu coração enquanto lia o manuscrito de Memória e poesia e que agora figura como prefácio do livro.
Ei-lo
A poesia não se explica. Não há uma fórmula perfeita. Até parece que ela, com vida própria, é quem escolhe a gente. Nasce de lugares, de situações do passado, presente, e alcança até o futuro. Nasce do amor presente, do amor ausente, das saudades imorridas, daquelas que alegra, mas também machuca a gente. Nasce da água, da terra, do fogo e do ar. Poesia é vida! Elas nascem, sobretudo, no interior das almas leves e conectadas com o amor existencial, como nesta obra é retratado pela professora Nilza Lago.
Fui convidado pelos familiares dessa grande mestra a escrever um texto preliminar sobre o livro de poesias que aqui se apresenta, o que me deixou muito honrado e com um sentimento de muita responsabilidade, afinal a professora Nilza é uma personagem que tem sua marca na educação, e na formação cultural da cidade.
Pensei escrever na terceira pessoa, mas a cada poema lido ia me emocionando e com os olhos marejados decretei, a mim mesmo, que seria Impossível, depois de mergulhar no universo poético de Nilza Lago, não deixar o coração falar na primeira pessoa.
Gosto da poesia justamente porque, por mais que se tente, ninguém consegue de forma absoluta explicá-la. Ela escolhe a gente, e pronto: se apresenta para o mundo. Nesta obra, magistralmente, de forma apurada, perfeita, correta, límpida, a professora Nilza debulha seus sentimentos, estado de espírito, percepções sobre as vidas vividas, e das vidas em torno dela envolvidas, num verdadeiro transbordar do seu “eu lírico” e natural de se expressar.
A querida professora Nilza Lago revisita parte do seu caminhar como filha, esposa, mãe, avó, professora; sem desprezar o carinho pelos amigos e pelas rosas, que tanto ama. Também não deixa de fazer memória da infância, vivida no seu torrão natal, a maranhense Chapadinha, traduzida por ela em “Meu Torrão” como um leito de babaçuais. Santuários de sabiás e bem-te-vis”
Neste mesmo poema é possível enxergar a pequena infante Nilza buscando peixinhos no riacho perto da casa vovó Gaída.
–Buscava peixinhos, que se iam de mim, para rumos ignorados…Eu dizia, peixinho eu também vou! –
Imagino hoje a autora no avarandado de sua casa, cercada pelo amor dos filhos, filhas e netos, na sua cadeira de balanço, e entre um balançar e outro, repetindo para si o que escreveu no já destacado poema: “Quanta saudade sinto de mim, menina”
Ora na infância, ora na sala de aula, ou destacando seu lado cristão. No nascimento das netas, na exaltação das vitórias dos filhos, por quem se derrete, de amor, da primeira à última página deste livro, a amada mestra viaja pelo túnel do tempo poemando as suas, nem sempre, doces e adoráveis lembranças; como por exemplo, as circunstâncias que a obrigaram a se separar, aos 12 anos, da mãe. Situação, que apesar de triste, originou o poema “Mãe Querida”, onde ela registra: a dor da separação, quando eu tinha apenas doze anos rasgou as veias do meu tão pequeno coração. A saudade quase me matou”
No poema Nada, de 1983, a professora Nilza Lago sintetiza um pouco a sua jornada aqui neste canto do universo chamado Terra. :
Assim é minha vida:
Depois de escalar a existência
No ápice do viver
Olhei para baixo…
… e, nem os pés vi.
Pois a poeira do destino
Cobriu o NADA
Que era o TUDO em
Minha vida…
Esta obra, mesmo sendo poética, não deixa de ser um livro de memórias. Em cada poema, é perfeitamente possível viajar e se emocionar pelos caminhos percorridos até agora pela autora e pelo recorte de cada uma das passagens mais importantes da sua vida.
Boa viagem!
Boa leitura!