sábado, 19 de abril de 2025

A árvore de natal

Publicado em 25 de dezembro de 2022, às 19:11
Imagem: Unsplash.

Por: Heridan Guterres – professora da UFMA e escritora.

A década era a de 1950. Tinha eu pouco mais de sete anos de idade. O ano anterior tinha sido marcado por uma grande perda em minha vida. Na véspera de natal, enquanto os fogos eclodiam, eu segurava a mão de minha mãe, me despedindo definitivamente dela. Lutara bravamente e eu, mesmo muito menina, estive a seu lado noites a fio até aquela noite de natal, quando sorrindo, ela partiu. 
Para mim então, o natal passou a ser marcado pela ida de mamãe e por uma vontade que me fazia viajar na imaginação. Morávamos em uma cidade do interior e mesmo sendo muito humildes, até a morte de minha mãe comemorávamos o natal. 

Naquele tempo a data era comemorada exclusivamente com a ida à igreja para assistir a missa do galo. Depois, voltávamos para casa, onde nos aguardava uma ceia gostosa, com o frango assado e sucos de frutas do quintal. Lembro que quase todas as casas eram assim e pouquíssimas residências possuíam o que eu jamais vira e sempre povoava meus sonhos de menina: uma árvore de natal.

Ouvia dizer que na capital, muitas casas tinham esse objeto de decoração e eu ficava a imaginar como seria.. pensava mil coisas e comecei cada vez mais a desejar ver a tal árvore de natal. Em minhas divagações, eu pedia a Deus para me mostrar minha mãezinha (o que nunca aconteceu após sua morte) e a ver uma árvore de natal.. uma única vez, ao menos, eu pedia ao rezar, todas as noites!!!

Naquela ano de 1950 eu fui passar as férias em uma fazenda de um tio que tinha certa condição. Era dezembro, e o movimento da casa me fazia esquecer por algumas horas, minha condição de criança órfã. As mulheres da família matando e temperando os capões gordos, fazendo bolos de macaxeira e tapioca, outras limpando a casa… cada qual com seu afazer. 

Lembro que era final de tarde, pouco mais que cinco horas e a noite já começava a jogar seu manto negro sobre o terreiro, quando eu fui chegando na copa da casa…lembro que um antigo lampião já estava aceso. Aquele compartimento, onde seria servida a ceia do natal estava impecavelmente limpo e bem cuidado. No armário colonial as taças cintilavas e, sobre a mesa, a louça branca antevia o que seria a ceia natalina.

Aproximei-me da mesa, a olhar para as taças e juro que em minha cabeça jamais passou a ideia do que eu veria a seguir. Saindo de detrás do armário ela me apareceu. Linda e cintilante, toda verde, com bolas e enfeites coloridos. Luzes de todas as cores brilhavam de alto a baixo, piscando para mim. 

Fiquei petrificada; meus pés colados ao chão e um grito congelado na boca. Na mente o pensamento único: a árvore de natal!!! Eu que nunca tinha visto uma, mas não sei porque tinha certeza do que era e passados um tempo, quando finalmente meu grito ecoou pela casa, despertando a todos, ela piscou intensamente e brilhando com suas luzes coloridas, voltou para detrás do armário.

Os parentes ao chegarem à copa, só viram uma menininha paralisada, apontando para o armário negro. Todos em alvoroço, querendo saber o que acontecera.. Quando finalmente consegui contar o que vira, a surpresa foi geral, pois mesmo meu tio, que era considerado um homem de posses, não tinha em sua casa uma árvore de natal. Incrédulos, enquanto uma tia me dava um copo de água com açúcar e pedia pra eu repetir pela milésima vez o que vira, quatro homens da casa afastaram o armário, a fim de comprovar minha história, mas nada encontraram. Triste não quis comer e cedo fui me deitar. 

Naquela noite, outro acontecimento marcaria a data..ela, minha mãezinha me apareceu em sonhos. Vestia um de seus vestidos longos e a seu lado estava, mais uma vez, a cintilar, me encantando, a árvore de natal!!!

(Conto produzido a partir do relato de Eriomar Pavão, cidadã pinheirense e minha mãe, a quem dedico este texto que há anos prometi transcrever para o papel!!! Feliz Natal, mamãe!)

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