Por Hyana Reis – Jornalista e escritora.
2022 foi um ano de descobertas de novas histórias, escritores e gêneros literários. Leituras que ensinaram, confortaram e me fizeram refletir. Dos mais de 50 livros lidos esse ano, muitos me marcaram e vários entraram no meu ranking de melhores livros da vida.
Por isso, resolvi fazer essa pequena retrospectiva literária para elencar minhas leituras favoritas deste ano e, quem sabe, te influenciar a ler algumas delas.
Pequena coreografia do adeus
Aline Bei
Segundo livro da escritora brasileira, Aline Bei, e obra indicada ao prêmio Jabuti deste ano, “Pequena coreografia do adeus” conta uma história delicada e ao mesmo tempo brutal sobre o abandono e a complexidade das relações familiares. Usando novamente a poesia para descrever uma narrativa, a talentosa escritora (que já figura entre as minhas favoritas) nos dá um vislumbre sobre a vida de Júlia,, filha de pais separados, onde sua mãe não suporta a ideia de ter sido abandonada pelo marido, enquanto seu pai não suporta a ideia de ter sido casado.
Ensaio sobre a cegueira
José Saramago
O famoso livro do escritor português já figura entre os clássicos há décadas. Mas somente em 2022 pude mergulhar nessa leitura. Este foi meu segundo contato com uma obra de Saramago – minha primeira leitura foi “O evangelho segundo Jesus Cristo”- e foi a partir daqui que carimbei minha carteirinha de fã.
O livro traz uma intrigante (e viciante) história sobre uma epidemia que causa uma cegueira em todos os humanos, e o caos que a doença causa, onde as relações humanas e as dificuldades de prover a própria sobrevivência nos mostra uma face assustadora da humanidade, em um cenário distópico.
Todo dia a mesma noite: a história não contada da boate kiss
Daniela Arbex
Mesmo acompanhando pelos noticiários, TV e internet, ao ler esse livro-reportagem de Daniela Arbex percebemos o quão pouco sabemos sobre a dimensão de uma das maiores tragédias da história brasileira. Com relatos brutais, e descrição de cenas fortes (alerta gatilho), a jornalista nos transporta para dentro da história, onde enxergamos esse crime sobre os olhos das vítimas, das famílias, dos sobreviventes, e daqueles que participaram dos resgates dessa trágica noite, que não tem mais fim. “Todo dia a mesma noite” ocupa o primeiro lugar de melhor leitura de 2022, na minha humilde lista.
O avesso da pele
Jeferson Tenório
Mais um vencedor do prêmio Jabuti – que eu sempre acompanho para buscar indicações de novas leituras nacionais- essa obra de ficção urbana nos traz o relato de um filho, que por meio de flash back, conta a história do pai: negro e morto brutalmente durante uma abordagem policial.
Uma história que, infelizmente, é a mesma de tantas famílias, e tantos brasileiros, que choram uma das faces mais cruéis de racismo. Com maestria Jefferson nos faz chorar, e refletir sobre violência e as relações raciais. Para quem, assim como, é negro, vai se enxergar em cada página e em cada medo.
Ciranda de pedra
Lygia Fagundes Telles
Nossa dama da literatura, e única escritora brasileira indicada ao Nobel, nos deixou esse ano. E ao ler “Ciranda de pedra” percebemos ainda mais a grande perda que sofremos. A genialidade e ousadia de Lygia nos faz acompanhar avidamente a história de uma família de classe média e sua complexa relação familiar, onde a mágoa, a traição e a mentira estão sempre rondando essa ciranda. Vale ressaltar que este é uma obra extremamente a frente do seu tempo, trazendo inclusive personagens queers em plenos anos 50.
A biblioteca da meia-noite
Matt Haig
Percebendo que as obras brasileiras e de língua portuguesa dominaram minhas preferências, finalizo essa lista com uma obra do escritor inglês, Matt Haig. “A biblioteca da meia-noite” tem uma premissa incansavelmente explorada esse ano nos cinemas, streamings e literatura: o multiverso.
A obra traz reflexões dos diferentes “eus” que existem, e as diferentes vidas que estão vivendo. Apesar de não ser algo novo, a forma que Matt escreve essa história justifica o livro ter figurado por tantos meses na lista dos mais vendidos. Uma narrativa simples para uma premissa tão complexa, que nos ajuda a ler com leveza, e ter a sensação de moral da história, no fim da leitura.