Por: José Neres – Professor. Membro da AML, ALL, Sobrames-MA
E finalmente chegamos ao período das festas natalinas. Pessoas entram e saem de lojas. Acotovelam-se para pegar o último produto anunciado pelo locutor. Ficam em uma fila enorme para pagar as compras. Bolsas, sapatos, celulares, perfumes, bijuterias, produtos para casa, roupas, acessórios, produtos de informática, bicicletas, carteiras, etc etc etc… Livro? Não, livro não. Livro é um presente difícil de dar e de receber. Quem dá quase sempre o tem como última opção. Quem o recebe nem sempre aprecia esse tipo de presente. As raras livrarias que ainda resistem em nossa cidade geralmente fecham no mesmo horário. Poucas filas e a clientela de sempre fazem parte desse cenário desolador.
Mas, felizmente, ainda há quem goste de dar livros, não importando a data ou ocasião. Felizmente ainda existem pessoas que adoram receber livros, em qualquer data, em qualquer ocasião, por qualquer motivo. Neste fim de ano, que tal dar livros de presente? Que tal dar livros de autores maranhenses, para valorizar quem batalha diuturnamente para manter acesa a chama da cultura letrada em nosso Estado?
Gosta de poesia? Que tal presentear seu amigo (secreto/oculto/invisível) com o 21 ou A Cidade enquanto Azula o Tempo, de Agamenon de Jesus, um dos bons poetas de nossa Ilha e que vem construindo uma poética que oscila entre o lirismo e a crítica social. Garanto que seu amigo ou amiga vai gostar de poemas como “Aurora”, “Tempo dos Mirantes” e “A Memória das Árvores”, entre outros. Você também pode escolher o mais recente lançamento de Ronaldo Costa Fernandes, poeta, crítico e prosador maranhense radicado em Brasília. Em cada página de seu A invenção do passado, o leitor pode encontrar metáforas e construções poéticas que encantam e desnorteiam em cada verso. Poemas como o que dá nome ao livro e “Lavoura” podem fazer parte de qualquer antologia de melhores textos da língua portuguesa. Já sei, você está apaixonado/a e pretende oferecer um livro que exale amor e carícias em forma de palavras? Então aconselho Por que não falar de amor(es), da escritora Waléria Soares. Quem receber o livro saberá que muitas vezes “O que importa é o amor” e terá verdadeiras lições “Sobre amor verdadeiro” e ainda por cima entrará em contato com uma jovem poetisa que começa a mostrar seu trabalho nos campos da poesia.
Ah, você acha que quem irá receber o livro não gosta de poesia e prefere estudos acadêmicos? Não tem problema. Ofereça Histórias e Memórias da Balaiada, um volume contendo 14 estudos bastante atualizados sobre esse conturbado e ainda pouco explorado momento de nossa história. O livro foi organizado pelos professores Elizabeth Sousa Abrantes, Josenildo de Jesus Pereira e Yuri Givago Alhadef Sampaio. Garanto que quem for ler o livro vai aprender muito. Para conhecer um pouco mais de nossa cidade, você pode ler e/ou oferecer o livro Singularidades do Espaço Urbano em São Luís: Toponímia, memória e ressignificação, um trabalho organizado pelas professora Zulimar Márita Ribeiro Rodrigues e Márcia Manir Miguel Feitosa, contendo estudos sobre diversos aspectos da ocupação e da história da capital maranhense.
Caso você goste de contos e queira compartilhar esse prazer com as pessoas próximas, uma boa pedida é A Moça da Limpeza, de Lindevânia Martins, uma excelente prosadora que vem se destacando por meio de uma linguagem bem elaborada e uma forma contundente de tratar temas polêmicos, principalmente voltados para as relações de gêneros e a violência cotidiana que tanto nos assusta. Mas também pode oferecer Pulp Maranhense, livro de contos/novelas publicado pelo jovem escritor e professor Mauro Cézar Vieira, que mostra um lado ficcional mais sombrio com relação à cidade de São Luís, investindo em uma narrativa mais noir e cheia de peripécias que giram entre o sobrenatural e a ficção científica. Uma excelente oportunidade de mergulhar nas ruas e becos sombrios, onde podem estar escondidos muitos mistérios.
Prefere romances? Adquira e dê de presente A Voz do Destino, da experiente escritora Dorinha Marinho, que desta feita traz ao público uma história que remete a um mundo de injustiças, de discriminação e de inúmeros problemas que aparecem na vida das personagens e que precisam ser solucionados para que o mal não prevaleça. Esse mundo de injustiças pode ser encontrado também no novo romance do escritor, pesquisador e professor Rinaldo de Fernandes, intitulado Eu não quis te ferir, que explora os diversos aspectos da violência, seja ela física, moral, verbal ou comportamental, explorando também o câncer social chamado de preconceito racial. Trata-se de um livro forte e que pode despertar diversas formas de recepção. Mas, sem dúvida, um livro cuja abordagem social merece aplausos.
Uma biografia? Sem dúvida recomendo Maria Firmina dos Reis e o Cotidiano da escravidão no Brasil, do juiz e pesquisador Agenor Gomes. Trata-se de uma pesquisa de fôlego que joga novas luzes sobre a trajetória de vida de uma das mais revisitadas escritoras das letras maranhenses. Nesse livro, o autor traz para o público uma série de novas informações não apenas sobre a vida da biografada, mas também sobre a escravidão no Brasil. Obra imperdível.
E se nenhum de seus amigos gostar de livros? Restam então duas opções: presentear a você mesmo com um (ou vários) dos títulos acima citados ou de outros que aparecerem, afinal, é sempre muito bom afagar-se com novas aquisições; a segunda opção é mais drástica: deixar de lado essas amizades que desdenham da leitura e formar um novo círculo de amizades, já que da família é mais difícil de livrar-se.
De qualquer modo, neste último texto de 2022, desejo a todos vocês um próximo ano com muita paz, alegria, saúde e… muitas leituras!
2 respostas
Um grande passeio pelos diversos gêneros e bons autores. Eu gosto de livros, conhecimento e cultura nos proporciona esquecer o tempo.
Muito bom, Neres! Texto bem sugestivo para os amantes da Literatura Maranhense.