“Mas por que é o mês da consciência negra, e não a humana?”; “Somos todos humanos”, “Isso é vitimismo”, “Mas o Morgan Freeman disse que não quer um mês da consciência negra”. Se você é uma pessoa negra com acesso à internet, já deve ter se deparado com pelo menos uma dessas frases no mês da consciência negra, que celebramos em Novembro. Uma data instituída em homenagem ao dia da morte Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência, e mais um entre os milhares de negros mortos no Brasil.
Um mês que deveria ser de celebração e conscientização se transforma em um desfile de racismo velado, escancarado, estrutural… O que apenas mostra o quanto dessa data é tão necessária. Se existe mês da consciência negra, é justamente porque falta muita consciência humana.
Dizer que somos todos iguais é de uma grande inocência ou mau-caratismo. Eu sou uma pessoa negra que sofreu racismo em pleno mês da consciência, chorava, não só porque fui novamente vítima de um crime, mas por saber que ele se repetiria até o fim da vida. Sim, avançamos no debate sobre o racismo, mas não em seu combate.
No mesmo dia em que sofri discriminação racial, acompanhei no jornal mais dois casos de racismo que repercutiram: o cantor Seu Jorge, ofendido durante um show no sul do país, e um jovem inflencer, que precisou abandonar o prédio em que morava por ameaças da vizinha, que não suportava morar no mesmo lugar que um negro bem-sucedido.
Casos como esses, praticados contra negros com visibilidade e que levaram a população a realizar protestos, ou até mesmo o movimento Black Lives Metter, são a exceção, e não a regra. Eu que tantas vezes fui vítima de racismo, muitas vezes sequer podia denunciar à polícia. Como provar esse crime? E quantas vezes ele foi realmente punido?
Se houvesse consciência humana, não haveria racismo. Não haveria tantas notícias de corpos negros violados, assassinados, “confundidos” com bandidos, e muito menos os milhares que não chegam aos jornais, não chegam na mídia, e na maioria das vezes, sequer chegam à delegacia.
Se o 20 de novembro lhe incomoda, ela atingiu exatamente o seu propósito: tocar na ferida do racismo. Enquanto aqueles que respeitam o mês da consciência negra, nos fica a parte de celebrar.