Wanda Cristina da Cunha e Silva, de São Luís/MA, é poetisa, contista, cronista e romancista.Jornalista, compositora e professora. Licenciada em Letras (UEMA) e Comunicação Social – Jornalismo (UFMA). Especialista em Língua Portuguesa; Comunicação e Reportagem; Teoria da Literatura e Produção de Texto; Educação Musical e Ensino de Artes. Pós-graduanda em Literatura Brasileira no contexto dos clássicos. Professora da Rede Estadual de Ensino e aposentada pelo TRT-MA.
Membro efetivo da Academia de Letras do Paço de Lumiar/MA; sócia e fundadora da Associação Maranhense de Escritores Independentes (Amei); integra a Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil – Coordenadoria do Maranhão – AJEB/MA; sócia fundadora da Academia de Belas Artes do Rio Grande do Sul (ABARS) e da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – no RJ (ALSPA – RJ); membro do Núcleo Académico de Artes de Portugal (NALAP) e da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão. Membro da Academia Brasileira de Letras e Artes Minimalistas. Presidente da Academia Maranhense de Trovas e Delegada da União Brasileira de Trovadores em São Luís do Maranhão.
Tem oito livros publicados.Integra várias coletâneas maranhenses e nacionais. Ganhou vários prêmios como compositora e escritora. Atualmente, dedica-se à produção coletiva de trovas e prepara a publicação de um livro de romance e outro de contos. Usa sua arte como instrumento de combate à violência contra mulher. Na poesia, trabalha temas líricos, filosóficos, políticos, sociais e de gênero. Na prosa, suas protagonistas são exemplos de superação e resiliência, denunciando uma sociedade falocêntrica abusiva.
ENFIM, SÓS!…
Marilene e Josué namoraram durante sessenta e sete longos anos. No dia do casamento, a igreja estava lotada de parentes e amigos. A noiva, com oitenta e nove anos, entrou solenemente de bengala, passos trôpegos e lentos por causa da catarata nos dois olhos em estado bem avançado. Vestido branco longo deslumbrante e véu pomposo. Marilene, no altar, pediu bênção ao noivo, deu um tapa no padre e disse que não queria mais casar-se com aquele ladrão de juventude.
COLECIONADOR
Colecionava caixas de sapato para guardar os caminhos por onde andava. E os pés descalços não souberam voltar pra casa na meia… idade… ida sem volta.
FEMINICÍDIO
Ela ajoelhou-se. Ainda assim, ele cravou-lhe a faca.
ACIDENTE
A família encontrou tristeza nos sapatos ensanguentados sob o pneu.
VELÓRIO
O vento veio anunciar sua morte. Mas era tarde. Todos os olhos choviam sobre o caixão.
SUPERAÇÃO
Caiu… Levantou.
MÁ COMPANHIA
Quando Luzia conheceu Pedro, ela deixou de luzir.
C’EST FINI
A minha finitude
me amedronta,
e a minha alma
é devorada pelos gafanhotos.
Não preciso perder a matéria
para me sentir morta.
A própria vida se encarrega de ser a minha sepultura,
enquanto construo a minha lápide dentro de minhas incertezas.
Por isso, eternizo-me todo dia no epitáfio de minhas poesias.
RESSURREIÇÃO
Um pedaço de pão molhado no vinho
Dor no peito, morte certa.
A noite me assusta
Mas de manhã vou permitir
que testemunhas me vejam sair do túmulo intacta
depois da missa do terceiro dia.
PESCADA
Meu olhar é um peixe que tiraste do mar pra ver navios no teu porto.
Parto ao encontro de tua alma,
porta que se abre para
aventuras no gemido de tuas preces.
Meu peito, então, é aberto para extrair vísceras da paixão.
Peixe frito sobre a nudez de teu corpo:
naufrágio na banha quente.
2 respostas
Maravilhosa!
Esplêndido.