Tereza Bom-fim é professora Associada III da UFMA/CCim, em Imperatriz (MA). Fez pós-doutorado em Letras na UNESP-Araraquara (SP), doutorado em Educação Brasileira na Universidade Federal do Ceará (UFC), mestrado em Educação na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-SP) e graduação em Letras pela UEMA.
Publicou: A Literatura Infantil para Maiores de Dezoito Anos (2018); Asas da Imaginação (2013); O livro-de-imagem: um (pre)texto para contar histórias (quatro edições), obra que recebeu o selo Altamente Recomendável na categoria teórico, pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), em 2001; Professor-leitor: de um olhar ingênuo a um olhar plural (2007 e 2022); Um lobo total mente mau? (2021); À Flor da Pele (narrativa poética); Ditos & Feitos (poesias).
Atuou como leitora-votante para a FNLIJ, no período de 2004 a 2016.
É membro da Academia Imperatrizense de Letras desde 2005.

CHOVE LÁ FORA

Da estante, retiro um bom livro
Busco um lugar aconchegante
Daí em diante
Mergulho em cada página
Inverto pensamentos
Aparo arestas de ideias sisudas
Disfarço medos
Arranjo coragens
Prossigo…
Escorrego para a página seguinte
Sacudo planos
Reordeno trajetos
Incremento fatos.
Me viro
Me desdobro
Mudo o rumo da história.
Me vejo
Me escuto
Me acolho
Esqueço a conversa fiada.
Tô nem aí!
Importa o que acontece
Agora
Aqui…
Cessa a chuva!

FOI DE LAVAR A ALMA

Ele veio…
Na bagagem:
Palavras doces
Desejos contidos
Tocou-me com o olhar
Fiquei eriçada
Ele se foi
Sem matar sede alguma.
Disse-lhe, num tom de provocação:
“Quando voltares, venha com mais sede”.
Ele, imediatamente:
“Volto logo”.
Quanta sede:
A dele
A minha
A nossa.
O pote de nossos desejos transbordou…
Foi amor se derramando pra tudo quanto é lado.
Foi revigorante:
Pra pele, pro corpo inteiro.
Foi de lavar a alma!

TEU MANUAL

Para eu “te ler”
não foi preciso
más nem
mais palavras…
O dito
O não-dito
Bem ou mal
ditas…
Linhas
Sublinhas
Entrelinhas
Do A ao Z
foi fácil
perceber…
Agora,
o teu manual
Eu já sei ler!

DOÇURA SEM IGUAL

Minha mãe era doceira,
a melhor da região.
Difícil era resistir
(a)provar seu doce uma só vez…

Eu sei que você vai dizer
que, se houvesse
uma competição,
sua mãe iria vencer!

Escute o que lhe digo
É a mais pura verdade
Eleger qualquer delícia
que a minha mãe fazia
não era feitiçaria!
Mamão com leite,
batata doce com coco,
caju cristalizado ou
mergulhado na calda.
não precisava enfeite.

Deixa eu te contar um segredo:
Em cada doce, uma poção,
um ingrediente sem igual.
É amor maternal!

FACTO OU FICÇÃO?

Há quem chame isto de intuição:
Uma “gramática” que deita suas bases
na nossa capacidade imaginativa, criadora
e no que mais aconteça em nosso coração.

Ler o mundo externo e o das letras,
entendê-los como o acaso,
é falta ou escassez de fundamentos.
Ler a nossa interioridade não é mera fantasia,
tampouco sorte ou loteria.

Nesse ‘outro mundo’ vasto de sinais,
temos que ser capazes de decifrar:
O que há de (pre)conceito no que estou vendo?
Quais simbolismos se ocultam por trás de cada evento?

Qualquer ruído, som, pessoa, fato, tudo
e cada pequeno detalhe tem “luz própria”…
Sou eu quem precisa estar sóbria!