Sou um inveterado fã dos eufemismos. Adoro-os, mesmo. Os eufemismos são a mais fantástica invenção da linguagem verbal para amaciar as afirmações dolorosas, apaziguar os conflitos. Aquela expressão que cabe como uma luva quando não há mais espaço para asperezas ou desesperanças.
Os eufemismos ainda vão salvar o mundo! Os eufemismos aliviaram já o pesadelo de muitas guerras iminentes. Os eufemismos são o remédio exato para aqueles momentos em que as relações amorosas nem tão amorosas estão. Os eufemismos já evitaram muitos sopapos na cara e muitas balas no peito.
Viva os eufemismos! Viva a sua capacidade de dizer uma dureza com cinquenta por cento de maciez. A sua habilidade em fazer sangrar sem dor. As artimanhas em fazer o mau parecer menos mau – ou, dependendo do autor, até parecer bom. A sua proeza de desconstruir e reconstruir o que não foi desconstruído, mas que pareceu outro, de fato outro.
Acho que todos os que são hábeis em manejar os eufemismos deveriam ser elevados à categoria de diplomatas ou arautos da “maciez social” (um eufemismo para anticonflito). O contrário do eufemismo é a hipérbole. Os hiperbólicos arderão no fogo do inferno, levados que são pela língua infame e infrene, pela falta de compostura e de espírito de bem-aventurança, por uma sinceridade cega e inconsequente.
O céu aos eufemistas! O céu e todas as benesses para esses que conseguem, duramente, transformar fel em mel sem nenhuma transubstanciação além da aparência.