A professora Ana Elizandra Ribeiro tem duas identidades. Quando não está em suas atividades docentes, na rede pública estadual e municipal de Santa Luzia-MA, ela é Anna Liz Ribeiro, poeta com participações em mais de uma centena de antologias mundo afora, escritora com oito livros solo e ganhadora de diversos prêmios, como o Prêmio Alejandro Cabassa, concedido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro – UBE/RJ, um dos mais importantes do Brasil, que já teve entre seus vencedores maranhenses nomes como Ferreira Gullar, Nauro Machado, Salgado Maranhão, Paulo Rodrigues e Luiza Cantanhêde. Com mais uma obra recém-lançada, “Ainda que seja tarde”, um olhar sensível sobre os tempos pandêmicos, a autora reflete  nesta entrevista sobre a importância da leitura e da literatura neste mundo tão adverso, revela seu desejo de empreender no campo da arte e ainda desvela um pouco da sua trajetória pelos caminhos da escrita. Vale a leitura.

Região Tocantina – Para você, qual a importância da literatura?

Anna Liz Ribeiro – A literatura é necessária para refletir, mostrar, dar outros sentidos, estetizar a vida, as nossas experiências. Inclusive em momentos trágicos, como um pós-guerra, uma pandemia, um momento crítico na política, etc. E como arte da palavra é espaço de interação social e é um meio de humanização. Sem a arte, sem a literatura não haveria Humanidade, tampouco História.

Região Tocantina – A poesia ainda tem lugar no mundo?

Anna Liz Ribeiro – Mesmo com todo avanço tecnológico, mesmo vivendo com uma velocidade violenta, ainda há espaço e tempo para a poesia. Eu diria que a poesia é o respiro deste tempo voraz.

Região Tocantina – Como fazer o jovem gostar de literatura e, em especial, de poesia?

Anna Liz Ribeiro – Despertar o gosto pela literatura passa pelo encantamento. É preciso envolver as pessoas (os jovens) na magia da leitura. Então, eu penso que o(a) poeta, as pessoas que trabalham com a literatura, primeiro devem ser apaixonadas e depois devem ser encantadoras de palavras.

Região Tocantina – Qual é a trajetória de Anna Liz como escritora?

Anna Liz Ribeiro – A escrita surgiu na minha vida como sobrevivência, eu não falava sobre meus sentimentos (ainda hoje tenho dificuldade de falar), então a escrita é um espaço em que me sinto livre. Escrevo desde a adolescência. Mas foi em 2008 que resolvi publicar meu primeiro livro de poesia – um apanhado de poemas escritos na adolescência. De lá para cá, já são oito livros solo, organização de duas antologias com textos de autoras maranhenses, participação em várias antologias publicadas no Brasil e em outros países; participação em feiras nacionais e internacionais; posse em várias instituições literárias no Brasil e em outros países; destaque em alguns concursos literários nacionais e internacionais. Sou grata pela minha trajetória!

Região Tocantina – O que dizer para quem lê sua entrevista neste momento e pensa em também trilhar o caminho da literatura, como autor(a)?

Anna Liz Ribeiro – Todo caminho é construção. Primeiro de tudo, é preciso acreditar em si mesma, ter uma chama dentro de si.  Outra coisa importantíssima é ter humildade, saber ouvir os mais experientes, aceitar críticas e ser autocrítica. Estudar é fundamental. Ser autor independente não é fácil, é preciso ter coragem. Na minha trajetória, muitos me deram a mão, tanto financeira como literariamente.  Mas antes disso, eu sempre acreditei, visualizei e busquei. Com um tempo, as conquistas e o reconhecimento vêm. Paciência, fé, humildade, trabalho são fundamentais em toda trajetória.

Região Tocantina – Quais seus projetos futuros na literatura?

Anna Liz Ribeiro – Empreender com literatura. Além de escritora, quero ser empresária da área literária, promovendo muitas ações nesse campo. Tenho alguns projetos escritos e já realizados, como o “Poesia ponto a ponto – a voz da mulher maranhense”, que agrega literatura e bordado, com o objetivo de divulgar e valorizar a produção literária dessas mulheres (escritoras e bordadeiras) por meio de uma arte milenar – o bordado. O projeto já foi exposto em Portugal, no Encontro Internacional de Jornalistas e Escritoras. Assim, tenho outros projetos em execução como “Incentive um(a) jovem a ler”, “Oficina de leitura e escrita”, “Poesia na sala de aula”.

Região Tocantina – Que leituras influenciam você, como autora?

Anna Liz Ribeiro – Houve um tempo em que eu lia muito a produção literária do século XIX e do início do século XX e essas leituras influenciavam a minha escrita. Ultimamente, tenho lido mais a produção contemporânea, tanto de autores consagrados, como de amigos escritores.  Gosto de ler de tudo, vou filtrando. Mia Couto é uma referência para mim, na Literatura Portuguesa Contemporânea. E Luiza Cantanhêde, Wanda Cunha, Paulo Rodrigues, Carlos Vinhort, Evilásio Jr e vários outros e outras têm sido leituras de cabeceira. Eu tenho lido mais mulheres.

Região Tocantina – Para você, qual é o papel, hoje, da literatura feita no Maranhão para a literatura brasileira?

Anna Liz Ribeiro – Historicamente, a literatura maranhense sempre foi destaque nacional e internacional com uma produção vasta e de muita qualidade, no entanto centralizada por muito tempo. Quando se falava de literatura maranhense, pensava-se logo em São Luís e em Caxias. Hoje, o que vemos é que a literatura maranhense saltou os muros dos centros e tem se espalhado por todo o Estado. Então, estamos vendo escritores do interior do Maranhão sendo destaque em concursos literários estaduais, nacionais e internacionais. Pensemos então que o Maranhão é um berço da literatura que tem se alargado.