O jornalista e escritor João Marcos, de João Lisboa, iniciou um projeto que é um verdadeiro bálsamo cultural. Chamado, apropriadamente, de “Projeto Ler Transforma”, ele visita escolas públicas e distribui, de forma gratuita, livros para os alunos e alunas, num gesto de amor aos livros e à leitura. Iniciada em agosto, a iniciativa está aberta a colaborações de quem puder doar, de qualquer lugar. Nesta entrevista, ele explica como o projeto funciona e aonde quer chegar. Confira.
Região Tocantina – Qual a importância deste projeto de leitura?
João Marcos – Eu encaro a leitura e a educação como necessidades básicas para qualquer cidadão. Às vezes as pessoas tendem a levar a leitura como um hábito de poucos, mas eu vejo como uma forma de sermos pessoas mais críticas e atentas ao que acontece no mundo ao nosso redor. No entanto, eu não posso ser inocente ao ponto de dizer que todos têm o mesmo acesso à leitura, aos livros. Isso sim seria fugir da realidade. E é nesse momento em que o projeto Ler Transforma entra: de levar o livro diretamente para o jovem que é, sim, um leitor em potencial. O nome do projeto não é por acaso, pois eu realmente acredito no poder que um livro tem. Eu fui impactado pela leitura, agora chegou a minha vez de proporcionar isso a outras pessoas, mesmo sendo em um nível regional.
Região Tocantina – Como ele acontece, na prática?
João Marcos – Bom, tudo começa com uma campanha de arrecadação de livros por meio da internet, principalmente pelo meu perfil no Instagram. Todos os livros são frutos de doações. Então, estabeleço uma meta e começo a campanha. Quando consigo livros o suficiente, vou até uma escola municipal ou estadual que tenha ensino médio e, com a permissão da direção da escola, ministro uma palestra sobre a importância da leitura e depois entrego os livros para os alunos presentes. Os livros, no entanto, são entregues embalados em um envelope e assim a pessoa não sabe que livro vai estar levando para casa. É como se fosse um “encontro às cegas com um livro”. Me inspirei em um projeto semelhante que acontece em alguns países de língua inglesa. A pessoa compra o livro e não sabe qual será a sua próxima leitura.
Região Tocantina – Para você, quais as vantagens da leitura?
João Marcos – Um dos maiores ganhos da leitura, além daquilo que a gente sabe que é expansão de vocabulário, conhecimento de mundo e ser um ato terapêutico, eu vejo que a leitura nos torna pessoas mais empáticas. George R.R. Martin diz que um homem que lê vive mil vidas, mas o que não vive apenas uma e eu compartilho muito desse conceito. Os livros são universos múltiplos, infindáveis. Você se emociona, se entristece e até sente raiva. Todas as emoções humanas são exploradas e isso é que nos faz especiais.
Região Tocantina – Quem pode colaborar com o projeto e quem pode participar dele?
João Marcos – Todo mundo! Seja doando um livro ou cinquenta, todos têm a oportunidade de participar. A única coisa que posso dizer, que é uma “regra” do projeto, é que eu priorizo livros de literatura, independente do gênero. Para quem mora em Imperatriz, João Lisboa e região, eu vou pegar os livros pessoalmente, mas se alguém tem desejo de doar e é de outro estado, a gente combina tudo lá mesmo pelo meu Instagram (@jjoamarcos). Antes da última ação eu recebi uma caixa de livro de Belo Horizonte-MG. Então, não tem dificuldade. É só estar de coração aberto e disposto a participar.
Região Tocantina – Você é jornalista e escritor. Qual o peso que o hábito de leitura teve nessas escolhas?
João Marcos – Ler para mim é um hábito diário. Se não estou lendo, estou pensando sobre o que escrever. Claro, existem dias com mais intensidade que outros, mas tudo é um processo de aprendizagem. Estou em uma fase da minha vida que escolhi ler com mais calma. Antes eu lia muitos livros por mês, como se estivesse em uma disputa comigo mesmo, mas hoje estou mais tranquilo. O escritor precisa ler e isso é tão importante quanto escrever. Porém, eu gosto muito de livros de fantasia e estou nutrindo um amor por biografias, que é algo que um dia pretendo escrever. E reafirmo: a leitura mudou os rumos da minha vida.
Região Tocantina – Quais os planos para o futuro do seu projeto?
João Marcos – A primeira ação do projeto aconteceu no dia 26 de agosto deste ano e foi simplesmente sensacional. Os estudantes do Centro de Ensino Rio Amazonas, que fica na minha cidade, João Lisboa, abraçaram a ideia e a direção da escola não mediu esforços em fazer este evento acontecer. Ministrei a palestra e depois distribui 230 livros. Os feedbacks foram emocionantes. No mês de outubro deste ano, quero fazer uma segunda ação e dessa vez tenho a meta de arrecadar 500 livros, visto que a próxima escola que receberá o evento tem mais de quatrocentos alunos somente em um turno! Então, é uma tarefa árdua, mas que faço com todo prazer. No momento, eu sigo sozinho no projeto, mas só no sentido de organização e execução, pois todos os que doam ou compartilham a ideia estão comigo. Penso em um dia levar esse projeto para outras cidades e até mesmo montar uma equipe. Talvez um dia vou poder dizer que o projeto Ler Transforma distribuiu mais de 10 mil livros. Vai ser incrível, não é?