Existe uma coisa boa na nostalgia. Ela traz a sensação de relembrar de um tempo que já passou, quando éramos mais felizes e inocentes, menos ocupados com os afazeres da vida adulta e mais preocupados em nos divertir com qualquer coisa. Mas, junto com essa boa sensação de reviver o passado, a nostalgia traz a inevitável realidade de saber que essa fase feliz e inocente ficou no passado.
Mas e quando a nostalgia traz um sentimento de melancolia e tristeza? Homem-Aranha: Azul (Salvat, 2015) apresenta um pouco disso. O quadrinho, lançado originalmente em 2002 pela Marvel Comic, traz Peter Parker no Dia dos Namorados relembrando a mulher que foi seu primeiro grande amor: Gwen Stacy, tragicamente morta pelo Duende Verde.
A história começa com um flashback de um confronto com o Duende Verde, cujo desfecho é a perda da memória de Norman Osborn. Como consequência dessa situação, Peter se aproxima do filho de Norman, Harry Osborn, e dos amigos Flash Thompson e Gwen Stacy. Ao mesmo tempo, Peter Parker precisa lidar com sua vida dupla de Homem-Aranha, tirar fotos para ajudar a tia idosa e lidar com as aulas da universidade.
Homem-Aranha: Azul é sobre o início do amor trágico entre Gwen e Peter. Por mais que a trama traga aparições de super-vilões como Abutre, Lagarto e Rino, e também apresenta um outro interesse amoroso ao protagonista, o foco principal permanece em Gwen e Peter. Jeph Loeb, o roteirista, soube recriar bem o texto e os elementos típicos dos anos 1960 e 1970, como gírias e personalidades, a estrutura do ‘vilão da vez’, a sensação de progressão da história e a inocência das histórias em quadrinhos daquela época. O roteirista também tem bastante mérito ao tonificar a voz do narrador Peter Parker, trazendo ora a ironia da situação narrada, ora a melancolia por já sabermos o destino daquela história.
A arte, assinada por Tim Sale, também é bem competente em emular os traços sessentistas/setentistas de Steve Ditko e John Romita ao mesmo tempo em que traz uma modernidade exigida para uma história dos anos 2000. Ele traz expressões exageradas que eram típicas da Era de Prata dos quadrinhos – por exemplo, quando um personagem está feliz e confiante ele carrega um sorriso largo e com dentes perfeitamente brancos; quando está confuso, sua boca murcha e os olhos se arregalam. O trabalho de cores é muito bem feito e diversificado, trazendo diferentes cores quentes e frias, não ficando apenas no azul do título.
Todos esses elementos de roteiro e arte criam uma história simples e nostálgica, combinando com a proposta de Homem-Aranha: Azul, mas ao mesmo tempo melancólica por sentirmos a tristeza nas palavras de Peter, afinal qualquer pessoa poderá ‘ouvir’ o que foi dito na história, exceto a pessoa a quem foi endereçada toda aquela história. É uma HQ que vale a pena ser lida para se apaixonar por Gwen Stacy e se sentir confortável numa época de inocência.
Homem-Aranha: Azul fez parte de um projeto conhecido como Quadrilogia das Cores, cujo objetivo era fazer com que alguns personagens da Marvel relembrassem aventuras ao lado de amores perdidos. Demolidor: Amarelo, Hulk: Cinza e Capitão América: Branco complementam a série. Todas essas histórias contaram com uma equipe criativa liderada por Jeph Loeb e Tim Sale.
Uma resposta
Uma das mais comoventes histórias dos quadrinhos do Aranha..
Uma mescla bem elaborada de ação com um mergulho na essência das angústias vividas e revividas pelo Peter Parker.