Não que a gente deva sair por aí fazendo piada com doença, mas o TOC (transtorno obsessivo compulsivo) pode causar situações bem engraçadas. Na sala de espera, enquanto aguardam o famoso psiquiatra Dr. Palomero, um grupo de pacientes manifesta as mais diferentes manias ao lidarem com a demora do médico em chegar ao consultório. Os pacientes são levados a interagir entre eles, o que rende ao espectador boas risadas. Risadas com respeito, claro.
Não se espante se, ao assistir ao filme TOC TOC, disponível na Netflix, você se identificar com este ou aquele personagem. Todos nós temos manias. Você não está sozinho. Aliás, se o filme fosse sobre TDAH (Transtorno de deficit de atenção com hiperatividade) você, certamente, se identificaria com algo também.
A verdade é que, neste mundo louco, manter a saúde mental está difícil. Ainda mais com essas versões do DSM-5 com tanta doença nova, que daqui a pouco vai ser uma neurose para cada habitante da Terra. A próxima versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais vai trazer o Transtorno do Luto Prolongado. Ou seja, o sofrimento, por mais de um ano, por uma grande perda, será considerado doença.
E o que dizer do Transtorno de Acumulação? As senhorinhas fissuradas nas vasilhas da Tupperware, o que será delas? Nem sei o que dizer das minhas canetas. E não se iluda. Não haverá atestados ou licenças médicas, mas um inibidor de recaptação de serotonina para chamar de seu.
Na minha saga da saúde mental, passei por vários psicólogos atrás de um diagnóstico. Fiquei revoltada quando uma psicóloga disse que meu diagnóstico era “ser humano normal”. Não era possível. Tinha que haver alguma explicação para aquilo tudo.
E nessa busca obsessiva, sem trocadilhos, por favor, cheguei onde eu queria. Já tenho o meu: TOC. Uma mistura de “uffa” com “eu já sabia” tomou conta de mim. Demorei para entender que as sessões já eram um tratamento por si só. E que eu não estava ali para ser diagnosticada.
Depois de viver por anos me auto impondo normas excessivas, aprendi o quanto daquilo era meu e o quanto era do contexto e história de vida. A profissão de professor aumenta a busca por perfeccionismo e o medo de não ser suficientemente boa para os demais. Afinal, lidar com gente é lidar com as neuroses dos outros. Por isso, convido o leitor a fazer o mesmo. Dar uma chance para o autoconhecimento, se deparar com o diagnóstico “ser humano” e aceitar para doer menos ou pegar sua neurose de estimação e ser feliz.