quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

De contos, causos e oralidades – De todas as formas, ler é mágico!

Publicado em 3 de julho de 2022, às 7:50
Imagem: Marcia Montenegro.

Helena Frenzel – romanista, especialista em Literatura e professora de Espanhol e Português Brasileiro como línguas estrangeiras.

Vivo fora do Brasil, porém sempre me interessa o que vem sendo produzido em termos de literatura em meu país, sobretudo no contexto da literatura maranhense. Dia desses, tive a sorte de assistir a uma série de vídeosdisponibilizados pelo professor José Neres no Instagram. Nesses vídeos, ele fala sobre a literatura infantil e juvenil produzida no Brasil e, mais especificamente, no Maranhão. Alguns dos autores e autoras citados por ele eu já conhecia, incluindo Márcia Montenegro, autora de um livro que tive a alegria de, junto com uma colega alemã, traduzir para o alemão. Estou falando do cativante O valor de cada um, o primeiro livro da Márcia para o público infantil e juvenil.

Quem acompanha a autora nas redes sociais, pode ver que ela faz um trabalho maravilhoso e louvável para incentivar a leitura. Diferente de muitas pessoas, que publicam seus livros e ficam esperando que, por um milagre, eles sejam lidos e tenham muito sucesso, Márcia prefere investir em programas que incentivam a formação de leitores, promovendo contações de histórias e saraus de leitura nos mais variados lugares, onde quer que potenciais leitores se encontrem.

Todos nós, que hoje declaramos amor aos livros, tivemos, algum dia, um encontro marcante com um texto que nos transformou, seja por meio de um professor, professora ou de alguém da família, ou fora dela, que vivia autenticamente a paixão pelos livros e pela contação de histórias. Nesse campo, posso dizer que tive várias mentoras, a começar por minha mãe adotiva, que lia para mim quando eu ainda não sabia tirar leite das letrinhas, e também minha tia, que me contou mais de mil e uma histórias populares. Daí que, nesse ponto, o trabalho de promoção de leitura feito pela Márcia só merece aplausos, e, claro, cada vez mais apoio!

Quem acompanha seu trabalho pode ver que ela não está ali só promovendo seus livros. Em cada evento de contação ela está criando oportunidades para o nascimento de sonhos, e apostando num futuro que só pode ser bom quanto mais leitores atentos e críticos tivermos no mundo. Os livros dela, por si só, já encantam. O trabalho de divulgação é mais que um complemento, é algo que faz com que as palavras saiam do papel e ganhem vida, e até dancem diante da gente.

O valor de cada um, o primeiro livro, com ilustrações de Xande Pimenta, encantou a mim e a todas as pessoas que eu conheço que tiveram a chance de lê-lo, ou de ouvir a história sendo contada. Neste livro, a autora usa conceitos básicos da matemática para falar de maneira lírica, e ao mesmo tempo lúdica, de questões que envolvem o desafio de “ser” humano desde sempre, sobretudo de “ser” humano em nosso tempo.

Pitoco, o segundo livro voltado para o público infantil, escrito em parceria com Priscila Trindade e com ilustrações de Patrícia Paulozi, traz a questão do individualismo, e da ilusão da autossuficiência, e eu digo “ilusão” porque é contra o funcionamento da natureza pensar que uma criatura pode viver sem precisar de nenhuma outra, ou do ecossistema. Ou seja, mais uma vez temos clara a ideia de que, no mundo, ninguém pode ser verdadeiramente alguém sem levar em consideração o outro e seus saberes.

Ano passado, consegui expor alguns exemplares de O valor de cada um e de Pitoco, dentre outros livros de varias editoras brasileiras, na Feira do Livro Infantil e Juvenil da cidade de Saarbrücken, na Alemanha. Ao final da exposição, pessoas vieram falar comigo e me agradeceram por eu ter conseguido trazer alguns títulos em português para a exposição daquele ano, o que enriqueceu bastante o evento. Elogiaram vários títulos, dentre eles, O valor.

Já o terceiro livro da Márcia para o público infantil e juvenil, também com ilustrações de Xande Pimenta, é o “geométrico” e super necessário De todas as formas, um livro que só poderia ter sido escrito nesse nosso tempo, um tempo no qual reina a atitude pequena de achar que uma única visão de mundo é a correta, e que todas as demais estão erradas; um tempo no qual se tenta apagar os traços de diversidade que a natureza, a cada segundo, nos mostra que é o natural, porque uma mata em que só há espécies de um único tipo não pode sobreviver por muito tempo neste planeta. Aliás, a própria natureza prova que homogeneidade é algo que não existe nela, e que quando é produzida, por meio de mono cultura, por exemplo, só serve para causar prejuízos a outras espécies e ao planeta. Ou seja, mais uma vez a autora se utiliza de conceitos matemáticos para falar de questões essenciais do ser humano, a começar pela identidade.  

Em resumo, os três livros acima citados tratam de temas mais do que relevantes para nossa vida, e não usam de um tom professoral ou doutrinário, apenas nos mostram diferentes situações e nos convidam, de forma muito elegante e criativa, a pensar com carinho sobre cada uma delas.

O mais recente lançamento trata-se de uma viagem musical pelo alfabeto, um livro que reúne textos e canções, em vários ritmos, cantadas pela própria autora, que também tem na música e no teatro raízes profundas. Chama-se Ciranda das Letras. Mais uma vez, o que vemos no Ciranda é a ideia de reunir os mais diversos conhecimentos e deles tirar o melhor para fomentar o principal: o amor à leitura, às artes e ao conhecimento.

Não é um trabalho lindo e super importante? Claro que sim, já que propicia algo que dinheiro algum no mundo pode pagar, ou seja, dá oportunidade para que almas desabrochem, para que possam ter contato com diferentes formas de ver e pensar o mundo. Enfim, é isso! Leia livros, não só os da Márcia, deixe-se encantar e transformar por eles. Afinal de contas, de todas as formas, ler é mágico!

Em tempo: o primeiro livro da Márcia Montenegro é um romance mais que apaixonante. Tem uma protagonista forte, inspiradora, e uma história cativante do início ao fim. Se chama A Rosa Silvestre e foi lançado na Bienal do Rio de Janeiro em 2017. Vale muito a pena conferir.

Uma resposta

  1. Escrever é uma necessidade, física e anímica. Contar o que escrevo é uma extensão dessa necessidade que se confunde com o deleite. Acredito mesmo que escrevo para ter o que contar e conto para continuar escrevendo e sigo, encontrando nas artes o meu jardim secreto.
    Obrigada, Helena Frenzel, pela dedicação em divulgar livros e escritores onde quer que estejam, unindo o distante, aproximando e criando pontes, fazendo arte do prazer de apreciar um livro e, conectando-se a ele, multiplicá-lo para muitos. Meu muito obrigada ao “Notícias da Região Tocantina” pelo necessário espaço dedicado à Literatura. Um grande abraço!

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