Quero falar um pouco da minha experiência na feirinha de livros deste ano, 2021. Sim, a Feira Europeia do Livro Infantojuvenil que acontece todos os anos na cidade de Saarbrücken, na Alemanha. Já falei dessa feirinha aqui, num outro texto desta coluna.
A edição deste ano foi um tanto especial. Talvez porque quase – quase! – pudemos esquecer que estávamos fazendo tudo no meio de uma pandemia, se bem que relativamente controlada, dado que boa parte da população da região já está vacinada contra o famigerado “Coronga” e/ou faz testes regularmente. Como já nos acostumamos a trabalhar usando máscaras, e mantendo os protocolos de higiene e distanciamento, ninguém reclama mais, virou o “novo” normal.
Bem, pelo menos para mim esta edição da feirinha foi especial, e por vários motivos. O que será que existe de bom e prazeroso em se trabalhar de graça? Boa pergunta. É que não encaro minha atuação nesta feirinha como um trabalho cujo sentido se reduz ao modelo mercantil, vejo muito mais como um tipo de missão: ajudar a preparar um lugar onde as pessoas possam se sentir confortáveis para se sentarem num sofá, ou numa poltrona, e abrirem um ou mais livros para ler ou folhear.
Também para que crianças carentes, que nem sempre têm acesso a livros, possam ter a chance de procurar, na exposição, um ou mais títulos que lhe agradem e possam lê-los, ou mesmo tenham a chance de participar de uma leitura ou oficina com os próprios autores, de ouvir o seu livro favorito – quem sabe – sendo lido por quem o escreveu ou ilustrou, ou por outra pessoa. Ou mesmo possam estar presentes a peças teatrais e teatros de bonecos.
O aplauso e a alegria das crianças ao final de cada apresentação é puro alimento para a alma, tanto para autores e artistas, quanto para quem está nos bastidores, cuidando da estrutura. A pessoa participa desses eventos também para ter a oportunidade de ouvir gente que ama e trabalha com livros falar sobre o seu trabalho, ou mesmo de como se pode encontrar um bom livro, e o que se pode considerar “bom”, que é um conceito muito relativo. Claro que um bom livro é aquele que consegue prender o leitor, do título à última página, ou aquele cujas histórias ficam em nossa memória. E desses, havia muitos títulos em exposição, em várias línguas, e desta vez vários títulos também em português brasileiro, já que tenho muito mais contato com autores e autoras no Brasil do que com autores e autoras portugueses.
Sim, mas além da satisfação de ajudar a criar um ambiente para promover a leitura, também tive a oportunidade de ter contato com autores/as, ilustradores/as, editores/as e, não menos importante, com os leitores/as. Aliás, ganhei até presentes: gravuras lindas de um ilustrador catalão.
Claro que o trabalho não é só flores, pois é preciso estar preparado para empilhar caixas, cadeiras, recolher lixo, separar lixo, etc., bem como ficar na portaria controlando a entrada e fornecendo informações aos visitantes. No entanto, é prazeroso.
Observar os visitantes, sobretudo as crianças, se deleitando com os livros, com as histórias ou com as leituras é algo que não tem preço, é algo que vale mais do que qualquer dinheiro neste mundo! O paraíso de cada um tem a ver com o que a pessoa carrega no coração. O meu paraíso é um lugar cheio de livros, e de gente que ama a companhia dos livros, e trabalha, até de graça, para vê-los serem lidos por vários olhos, e abertos por várias mãos.