sexta-feira, 22 de março de 2024

O comportamento da mulher implicará decisivamente nas projeções demográficas do mundo até o final do século.

Publicado em 24 de novembro de 2020, às 19:23
Imagem: Kzenonn 123RF

Márcia Castelo Branco – Administradora de marketing, mestre em educação, professora, escritora e membro da Academia Açailandense de Letras.

Até certo tempo, as mulheres desde muito cedo entendiam que vinham ao mundo com um papel singular, casar, ter filhos, cuidar apenas de tarefas domésticas e limitar seu mundo apenas à família e educação dos filhos, suas filhas seguiam na mesma perspectiva perpetuando esse comportamento feminino na sociedade dos séculos passados. Isso até o século XIX era um relato comum e normal entre as mulheres, a partir daí esse comportamento vem sendo transformado, desde então as mulheres vêm conquistando espaço no mercado de trabalho e cada vez mais perseguindo seus ideais, sonhos e sucesso na carreira.

Todas essas mudanças circunstanciais, o acesso ao mercado de trabalho fez com que muitas mulheres decidissem por não terem filhos e trocarem a maternidade por diplomas de nível superior e por profissões em diversos segmentos, até mesmo algumas que antes eram ocupadas exclusivamente por homens. Isso demostra que a mudança do comportamento feminino não foi irrelevante na virada do século, é um fator que implica não apenas no impacto do mercado de trabalho ou na economia, mas também na demografia do mundo inteiro, uma vez que todas essas mudanças de postura da mulher na sociedade são de certa forma global.

As prioridades da mulher contemporânea estão cada vez mais distantes do sonho de ter filhos, como acontecia até o século passado, aquela velha frase de muitas mulheres que: “Tenho quase tudo só falta um filho!”, já não é uma declaração substancial entre elas. Podemos ver mulheres realizadas profissionalmente e com níveis de satisfação pessoal desejável, porém, sem filhos, isso tem se tornado comum entre as mulheres do século XXI. Optar por não ter filhos ou por tê-los depois de várias outras realizações pessoais também vem influenciando na quantidade de filhos que decidem ter, uma vez que ter filhos mais tarde reduz o tempo para a fecundidade e consequentemente a quantidade dos mesmos. Esse comportamento pode impactar as gerações futuras, como afirmam várias pesquisas sobre população demográfica.

Uma pesquisa feita pela Universidade de Washington, nos EUA, publicada no dia 14 de Julho de 2020 na revista científica The Lancet, mostrou que, até 2100, pelo menos 23 países terão suas populações reduzidas pela metade. A razão por trás disso é a queda da taxa de fecundidade, proveniente da mudança de comportamento feminino que não tende a recuar.

Na década de 1950, as mulheres tinham, em media, 4,7 filhos, esse número passou para 2,4 em 2017 e pode chegar a 1,7 até o final desse século. O ideal seria que a taxa de fecundidade alcançasse a media de 2,1, o que asseguraria a reposição populacional, uma vez que naturalmente os filhos são sucessores de seus pais, levando em consideração eventualidades naturais, como a morte precoce de um dos membros antes da vida adulta.

Ainda na linha de pesquisa da Universidade de Washington, os dados indicam que, de uma lista de 195 países, 183 terão uma taxa abaixo do nível de reposição, entre eles Espanha, Japão e Tailândia, países que já possuem taxa de fecundidade inferior a 2,1. Entre esses a China, país mais populoso do mundo, com 1,3 bilhões de habitantes, que, segundo a pesquisa, sofrerá uma queda impactante que deve ser de 48% – ou seja, uma população de 732 milhões em 2100.

O Brasil segundo dados do IBGE – Instituto brasileiro de geografia e estatística, afirma que até a data de referência em 1º de julho de 2020, a população do Brasil chegou a 211,8 milhões de habitantes, crescendo 0,77% em relação a 2019. Já pesquisa da Universidade de Washington, nos EUA, aponta que o pico da população brasileira será em 235 milhões de pessoas. Em 2100, o número de pessoas que vivem no Brasil será de 164 milhões, uma diminuição significativa comparando com os dados atuais do IBGE.

Toda essa mudança implicará significativamente em fatores externos como os impactos ambientais, o que seria de certa forma positiva, porém, por outro lado a pesquisa aponta que, principalmente em países desenvolvidos essa realidade pode inverter a pirâmide etária apresentando um número maior de idosos e menores de crianças e jovem, o que pode ser um problema sócio-econômico no futuro, uma vez que o mercado, a indústria demanda por números maiores de jovens no mercado de trabalho, o que atingirá os setores de produção e também de arrecadação tributarias dos países.

Essas são previsões futuras que podem ser moldadas conforme o comportamento feminino, que vem mudando o perfil da família atual, onde a mulher cada vez mais vem ocupando um papel em destaque, muitas vezes ocupando o lugar de progenitora do lar, e isso fez com que a mulher repensasse o tamanho dessa família, a rotina dupla pode deixar de ser uma opção para elas que tem optado pela profissão ao invés de filhos. Como afirma Bilac (apud CARVALHO, 1997), é possível que as mudanças ocorridas na família contemporânea tenham sido provocadas pelas mudanças de papéis e a nova condição feminina.

É certo que a mulher transformou seu papel na sociedade, abandonando tradições e limitações que antes eram como uma fórmula da sociedade onde ela estava encaixada apenas como uma figura provedora do lar. Ao romper todos esses paradigmas, ela toma para si outra identidade além de mãe e esposa, e passa a decidir o que fazer do seu corpo, tomar decisões pessoais, entre elas a de gerar ou não uma criança.

 “Quem sabe com o avanço tecnológico os bebês não possam mesmo ser trazidos ao mundo através de cegonhas tecnológicas”? Enquanto essa colocação é apenas uma brincadeira desta escritora que decidiu por ter apenas um filho, levando em conta alguns fatores aqui expostos, o mundo já se preocupa com o futuro demográfico que estará nas mãos da mulher.

Referencias bibliográficas:

BILAC, E. D. (1992). Sobre as transformações nas estruturas familiares no Brasil. Notas muito preliminares. Texto apresentado no Seminário Família Brasileira – Desafios nos processos contemporâneos. Rio de Janeiro, CIAS.

Fontes:

IBGE. ( Instituto brasileiro de geografia e estatística )

BBC News/Brasil.

https://www.bbc.com/portuguese/blogs/para_ingles_ver

https://super.abril.com.br/sociedade/estudo-preve-queda-brusca-na-taxa-de-fecundidade-mundial-o-que-isso-representa/

7 respostas

  1. O “mercado” demanda um número maior de pessoas? Bem, isso ocorre porque achamos que nossa missão é suprir o mercado, ou explorar para manter o mercado (leia-se “os ricos que ditam as regras do mercado”).
    Se realmente a população reduzir pela metade a MÃE NATUREZA irá agradecer. Nossa presença no planeta tem sido altamente parasitária. Veja “our planet”, documentário de David Altemborough.

  2. Mais uma vez as mulheres irão decidir sobre eventos que serão revolucionários para a humanidade, foi assim com a primeira revolução (Neolítico ou revolução agrícola que levou o homem a evoluir como sociedade . A mulher é mesmo genial.

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