Era um dia quente em Imperatriz. O professor Álvaro, um homem discreto e de vocabulário refinado, havia sido eleito vereador. Nunca se imaginara na política, mas acreditava que poderia fazer a diferença. No dia de sua posse, vestindo um terno desajeitado, subiu ao púlpito da Câmara Municipal, observando os colegas que já dominavam os jogos políticos.
— Senhores, — começou ele, ajustando os óculos, — é com grande humildade que aqui me apresento. Explorei profundamente os problemas de nossa cidade. Expô-los-ei, com a clareza que a função requer e os princípios que guiarão minha atuação: transparência, ética e compromisso inabalável com a verdade.
A expressão “expô-los-ei” ecoou pela sala, arrancando sorrisos contidos. Álvaro, alheio às reações, prosseguiu com seu discurso cheio de erudição:
— A política, senhores, deve ser a extensão da sala de aula, onde se educa com base na razão e na virtude. A educação é o instrumento mais poderoso de transformação. Sem ela, não avançaremos nem um femtômetro.
Marcos, um dos vereadores mais experientes, trocou olhares com seus colegas, já antecipando as piadas que viriam. Álvaro falava como em uma conferência acadêmica, cada frase elaborada com precisão. Ele acreditava na força das palavras, mas não sabia que, na política, o que mais valia eram as ações nos bastidores.
As semanas seguintes confirmaram suas dificuldades. Nos corredores da Câmara, “expô-las-ei” virou uma piada recorrente. No entanto, Álvaro seguia tentando implementar seus projetos. Reuniões intermináveis e debates vazios sobre nada o esgotavam. Sua proposta de revisão no currículo das escolas foi engavetada, assim como outras ideias que trazia da sala de aula.
Álvaro continuava fiel aos seus princípios, mas começou a perceber que seus esforços eram em vão. Um dia, após mais uma sessão improdutiva, Marcos se aproximou:
— Álvaro, eu respeito sua honestidade, mas te aconselho e voltar a dar aulas. Você é bom no que faz, mas aqui não é o seu lugar. A política é outra coisa.
A verdade daquelas palavras o atingiu em cheio. Durante o mandato, Álvaro lutou contra a correnteza, tentando manter a integridade em um sistema corrompido. Ao fim, saiu sem grandes realizações, mas com a consciência limpa.
Antes de deixar a Câmara, organizou um último evento, uma conferência sobre educação. No auditório, com poucos presentes, falou sobre sua paixão pela docência, o papel transformador da educação e sua visão para o futuro, e concluiu:
— Expô-los-ei às verdades que aprendi aqui, — disse em tom solene. — Honestidade, senhores, é o único caminho possível para a verdadeira mudança. Nesta câmara, não a vi!
Quando terminou, ouviu risos distantes e alguém gritou:
— Não se preocupe, professor. Quanto aos preguiçosos desta casa, expô-los-ei! — E tantas outras risadas se seguiram.
Desta vez, Álvaro sorriu também. Ele compreendia que seu lugar era na sala de aula, onde realmente poderia fazer a diferença. Voltar a ensinar era voltar para casa.
A política seguiu seu curso, mas Álvaro, mais sábio, entendia que sua missão era educar. Ele recomeçou sua jornada com o mesmo amor pela verdade e pela educação, mas agora sem ilusões sobre o mundo político.

SOBRE O AUTOR – Humberto Cupertino Barcelos nasceu em Formosa, GO, mas reside no Maranhão desde a infância. Por isso, se identifica como “goianense”, uma fusão de goiano com maranhense. É graduado em Letras – Língua Portuguesa e pós-graduado em Docência do Ensino Superior, além de possuir uma segunda licenciatura em Marketing Digital.
Membro da Academia Imperatrizense de Letras, onde ocupa a cadeira 17, lançou, nos últimos anos, os livros “Viver Não é Suficiente” e “Onde Está a Poesia?”, ambos em verso, além de “A Moça de Pele Marrom” e “A Noiva do Rio”, em prosa, nos formatos impresso e audiolivro.
Através das redes sociais, Humberto realiza um trabalho contínuo de divulgação da literatura maranhense, apoiando as iniciativas das Academias de Letras e seus acadêmicos. Seu objetivo é aproximar a comunidade, especialmente os jovens, dos projetos promovidos pelas Academias, com foco na educação literária.