terça-feira, 18 de março de 2025

PROJETO UM CONTO AOS DOMINGOS – #002 – SABER MAIS (Altair Damasceno)

Publicado em 13 de outubro de 2024, às 9:10
Imagem: Jornal O Progresso de 12.10.2024

Faculdade de direito de Colatina, novembro do ano de 1974. Era o ano de minha formatura em direito e tudo que fazíamos, todos os alunos do quinto ano, era voltado para festa de formatura, que estava marcada para 20 de dezembro desse mesmo ano.
As aulas já pareciam enfadonhas. Nós nos achávamos já bacharéis, despreocupados com todas as disciplinas, como se a nota final já tivesse sido alcançada.
O professor já não era olhado como tal, mais parecia a beca que usaríamos na colação de grau. Nada que ele dizia parecia ter alguma importância.
Alguns professores, cúmplices do nosso descaso com suas aulas, muitas vezes usavam o seu horário para falar de outros assuntos. Rememoravam o tempo de faculdade, falavam do início da advocacia, das muitas causas ganhas e quase nada das perdidas.
A mim me parecia, naquela altura do curso, que era total perda de tempo ficar atento ao que o professor dizia. Sim! Tínhamos professores que usavam todo o tempo de sua aula para entregar o máximo que sabiam. Amavam o que faziam e se desdobravam para fazer daqueles alunos excelentes advogados.
Um desses professores me vem à memória e com ele um episódio que marcou minha vida de estudante e até mesmo minha vida profissional: Dr. Agesandro Costa Pereira, presidente da OAB-ES à época.
Dr. Agesandro, excelente advogado, processualista de primeira linha, em meu último ano de direito, lecionava Direito Processual Civil. Era doutor, não por decreto de D. Pedro, mas por ter defendido tese e publicado um livro a respeito.
Em suas aulas expunha as melhores teses e com exemplos pertinentes, porque dizia: verba movent, exempla trahunt (as palavras movem, mas os exemplos arrastam).
Lembro e não esqueci jamais. Era a última aula do dia, já bem tarde. E no fundo da classe eu, sem prestar atenção no que o professor dizia, conversava. Era uma aula ministrada pelo Dr. Agesandro. Ao final dessa bendita aula, aconteceu um diálogo que marcou a minha vida. Dr. Agesandro, dirigindo-se a mim, falou:

– Doutor Altair – chamava a todos nós de doutor – queria que o senhor, de forma sucinta, tecesse um comentário sobre os temas que eu trouxe a lume nessa aula.
Eu fiquei estático. Não me lembrava nada do que fora dito naqueles intermináveis cinquenta minutos. E o Dr. Agesandro, do alto dos seus 1,58 metros de altura, me olhava com um olhar inquisidor, esperando uma resposta. E ele parecia divertir com minha situação. Eu tinha que responder alguma coisa. Levantei e disse:

– Preclaro e insigne professor! Eu concordo em gênero, número e grau com tudo que o senhor disse nessa aula.
Dr. Agesandro, sem esperar sequer que eu me assentasse, destacando cada palavra, disse:

– Doutor Altair, considerando o tempo que me formei em direito, o meu mestrado e doutorado em direito processual civil, posso lhe afiançar, com toda certeza, que o senhor, para concordar comigo, tem que saber tanto quanto eu. E para discordar, tem que saber mais ainda.
Fez-se um silêncio tumular na sala. Dr. Agesandro pegou o seu livro, saiu lentamente da sala de aula sem sequer olhar para trás. E ficou para mim uma lição que guardo até hoje.

Imagem cedida pelo autor.

SOBRE O AUTOR – Altair José Damasceno – Titular da cadeira de n° 22 da Academia Imperatrizense de Letras, nasceu nas Minas Gerais, em Mantena, uma cidade do contestado entre Minas e o Espírito Santo, no dia 15 de outubro de 1950; filho do Seu Geraldo e da Dona Alzemira. Nos primórdios de sua infância, seus pais mudaram-se para Barra de São Francisco e logo a seguir para a cidade de Ecoporanga, também no ES., onde iniciou os seus estudos. Aos onze anos de idade, foi estudar no Seminário Comboniano de Ibiraçu-ES, e, em 1965, foi enviado para o Seminário Maior de São José do Rio Preto-SP, para os estudos de filosofia e Teologia. Formou-se em Direito pela Faculdade Gildásio Amado – FADIC – de Colatina-ES, onde colou grau de Bacharel em Leis em 1974. Advogou por 12 anos, na cidade de Ecoporanga-ES, mudando-se para Açailandia-MA, em 1987, onde exerceu o magistério e a advocacia até 1993, quando se mudou para Imperatriz, onde advoga até hoje para várias empresas da Região Tocantina. Altair é pós-graduado em Direito Processual Civil e Direito do Trabalho. É membro da Igreja Evangélica Nova Aliança, onde exerce o voluntariado, colocando os seus serviços advocatícios em favor dos membros menos favorecidos.

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