terça-feira, 15 de outubro de 2024

O Mel…

Publicado em 3 de agosto de 2024, às 19:18
Fonte: Fabio José Cardias-Gomes. Docente-pesquisador de Psicologia na UFMA-Imperatriz. Psicólogo Clínico e do Exercício e Esporte.
Imagem cedida pelo autor

Assim ouvi…

            Que o povo Tenetehar (Guajajara) foi criado por Maíra, que é uma criação de Tupã-Nhanderu, o grande criador da cosmovisão do tronco Tupi-Guarani.

            Maíra tinha um irmão, Mucura, formando a dualidade Maíra e Mucura, duas forças da Natureza, do Cosmos Tenetehar.

            Criou a água, as caças, os peixes,  o dia e a noite, tudo foi Maíra quem criou, até o bem-viver foi estabelecido por Maíra, a conexão mais direta com Nhanderu. O trabalho de Aline Guajajara sobre Mitos e Ritosd Guajajara explica bem as histórias que ouviu sobre Maíra, das mais velhas matriarcas de sua aldeia e seu avô Rufino Guajajara.

            Os irmãos criadores, nem sempre gêmeos, e mesmo lados opostos, nem sempre humanizados, estão presentes nas mitologias indígenas brasileiras, talvez nas latinas e universais. Outro exemplo, O povo Aruá, de Rondônia, possuem dis irmãos criadores Andarob e Paricot, eum uma dinâmica simbólica muito parecida com Maíra e Mucura, que exploraremos em outro momento.

            Ao participar do ritual do Mel na aldeia Wyrataymira, no Território Araribóia, me aproximei um pouco mais desse povo, um dos maiores em população indígena no Maranhão, e no Brasil, e iniciar a entender a importância do mel e sua simbólica para esse povo. Foi entre os dias 15 e 21 de julho, meus filhotes Raoní e Laurinha participaram, ainda sem entender, como eu.

            O ritual do mel é o mais importante para esse povo, bem como para os povos de recente contato com os Awá-Guajás, tupi. É de difícil realização, envolve a busca do mel na floresta, envolve teatralização ritual, como o ritual do Porcão que invade a aldeia com os animais, na qual a mesma é protegida pelos guerreiros, teatralizando, simbolizando a união comunitária, em torno do mel. O mel alimenta o corpo e a alma, e a união das abelhas é a união de um povo.

            Aline Guajajara, em seu livro, diz que poucos tamui(idosos) sabem fazer a festa e as canttorias que somente nesse ritual são expressas, tamanha a raridade e especialidade deste ritual. Dura muitos dias, envolve cantarias muito especiais, ritos específicos, e repetem ser o ritual mais raro de acontecer e o mais rico entre eles.

            Ao presenciar o ritual do mel na aldeia Wyrataymira aprendi um pouco mas dessa ancestralidade tão especial e que desejo aprofundar. Tomei o mel, reencontrei a ministra Sônia Guajajara entre seu povo, bem como Suluene Guajajara e outras matriarcas da cultura tão profunda e desconhecida pela sociedade em geral. Mas também guardada como segredos pelo seu povo especial,, no coração do Maranhão e da Amazônia.

            Katu ahí…Salve Maíra!

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