A literatura é algo muito vasto e que traz dentro de si uma imensa quantidade de curiosidades sobre autores, obras e/ou situações inusitadas. Vamos a seguir trazer cinco curiosidades, todas de domínio público, sobre nossa literatura.
1 – Maria Luísa Lobo
Embora a professora e escritora Laura Rosa tenha sido a primeira mulher a tomar posse como imortal da Academia Maranhense de Letras, ela não foi a primeira mulher a ser eleita para os quadros da Instituição. Em 1935, oito anos antes da eleição de Laura Rosa, foi eleita a escritora Maria Luísa Lobo. No entanto, ela perdeu os prazos regimentais e não tomou posse na AML.
Há pouquíssimas informações sobre a senhora Maria Luísa Lobo e sua produção intelectual. Entre essas poucas informações, está o fato de ela ser filha do escritor e ativista cultural Antônio Lobo e de haver publicado o livro de crônicas intitulado Traços na Areia, que foi bastante elogiado por Domingos Barbosa. Sem dúvida de que aqui existe um bom espaço para novas pesquisas.
2 – Estudar para quê?
O cônsul de Portugal no Maranhão, o senhor Joaquim Coelho Fragoso, era um homem bastante afeito às lides comerciais. Pelo gosto dele, seu filho Augusto Tasso Fragoso seria destinado a trabalhar como caixeiro em uma loja de ferragens. Contudo, o garoto demonstrava grande inclinação para os estudos e para as ciências.
Foi o jornalista Temistócles Aranha – pai do escritor José Pereira da Graça Aranha – que tentou dissuadir o teimosíssimo cônsul português a entregar o menino Augusto para o comércio. Mas essa não foi uma tarefa fácil. O senhor Joaquim defendia a tese de que o Maranhão precisava mais de pessoas trabalhando atrás de um balcão do que de pensadores ou pesquisadores. A persistência de Temistócles deu resultado. Augusto Tasso Fragoso (1869-1945) se tornou um militar, historiador e escritor renomado e, além de haver governado o Brasil em um curtíssimo período entre a deposição de Washington Luís (1869-1957) e a posse de Getúlio Vargas (1882-1954), tornou-se um dos homens mais respeitados em todo o território brasileiro.
Porém, mesmo assim, o velho cônsul, até seus últimos dias de vida, continuava defendendo a ideia de que seria melhor para o General Tasso Fragoso ter seguido carreira no comércio da capital maranhense. Para ele, os estudos afastavam os filhos do restante da família.
3 – Um defensor dos animais
Nascido na cidade de Caxias, o filósofo, matemático e escritor Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927) acabou tornando-se um dos maiores defensores dos ideais positivistas em terras brasileiras. Ele, com a colaboração de seus correligionários Miguel Lemos, Manuel Pereira Reis e Décio Villares, idealizou as linhas gerais da Bandeira Brasileira, sendo também o possível responsável para inscrição “Ordem e Progresso” no centro da bandeira.
Constantemente, aquele homem sério, todo vestido de preto e geralmente acompanhado de um livro e de um guarda-chuva, era visto pelas ruas do Rio de Janeiro pedindo que as pessoas não maltratassem os animais e que tivesse respeito por todos os seres vivos. Seu cuidado para com os animais era tão grande que ele mesmo não se permitia alimentar-se de qualquer produto que exigisse o sacrifício de alguma vida. Dessa forma, sua alimentação era basicamente composta por frutas, legumes, verduras, água e chás. Chamava a atenção das pessoas da época seus sapatos, que eram confeccionados com panos, pois ele jamais usaria um produto que contivesse algo derivado de animais, como o couro, por exemplo.
4 – Humberto e Coelho
Apenas oito dias separam o falecimento de Coelho Neto (1864-1934) e de seu conterrâneo, confrade e amigo Humberto de Campos (1886-1934). O primeiro faleceu no dia 28 de novembro e, no dia 05 do mês seguinte, o autor de A sombra das tamareiras deu seu suspiro final.
Até próximo aos momentos finais de sua vida, Humberto de Campos costumava anotar em seu diário as informações mais importantes de seu dia a dia. Além das enfermidades na bexiga e da dificuldade em enxergar, o escritor sofria também as constantes notícias do falecimento de alguns amigos. Dessa forma, ele anotou em seu diário o passamento do médico e cientista Carlos Chagas (1879-1934) e dias depois, em 24 de novembro registrou uma conversa que teve com Jorge, um dos filhos de Coelho Neto, acerca do estado de saúde do autor de Rei Negro. A situação era deplorável. Coelho Neto não mais tinha forças para falar, apenas gemia e tinha seu corpo repleto de escaras.
Possivelmente por estar já bastante debilitado, Humberto de Campos anotou em seu diário no dia 27 de novembro o falecimento de seu amigo Coelho Neto. Ele ainda pensou em ir ao sepultamento do amigo, mas seu estado de saúde não lhe permitia tal esforço físico e psicológico. Enviou uma “uma braçada de cravos vermelhos” para o caixão do Principe dos Prosadores Brasileiro e pôs um ponto final em seus diários secretos.
Dias depois, durante um procedimento cirúrgico, Humberto de Campos partia rumo à eternidade.
5 – Uma carta
Josué Montello (1917-2006) sempre teve uma grande admiração pela pessoa e pela obra de Coelho Neto. Ainda adolescente, Montello decidiu enviar uma carta ao autor de Turbilhão. Juntamente com a carta, enviou também cópias de alguns de seus textos. Sendo muito ocupado, aquele professor, escritor e político possivelmente não teria tempo para responder às tantas correspondências que provavelmente recebia de seus admiradores. Porém, para sua surpresa, Coelho Neto respondeu com os seguintes dizeres:
Continue a trabalhar nas letras que o aguardam para honrá-las.
O contato entre os esses dois conterrâneos aparentemente findou por aí. Talvez aquela cartinha de adolescente tivesse ido parar em uma lixeira ou talvez tivesse sido incinerada em uma daquelas ocasiões em que papéis velhos são descartados por não serviram mais a seus propósitos. Porém, muitos anos depois, quando Montello ocupou o cargo de Diretor Geral da Biblioteca Nacional, encontrou sua missiva devidamente arquivada. Foi um momento de muita emoção.
4 respostas
Quem sabe, eu ainda escreverei uma cartinha ao José Neres dizendo:
“Continue com suas letras, que eu devoro todas”.
José Neres. Um brilhante escritor e professor. Parabéns!
Um texto recheado de informações que acabam passando em branco. Não tinha idéia sobre o Cônsul Portugues Joaquim Coelho.
Os textos do poeta e confrade José Neres, demonstram sempre um conhecimento árduo e imenso da Literatura. Ele vai fundo em seu trabalho.
Parabéns José Neres!