Há alguns assuntos que deveriam ser mais discutidos dentro e fora das salas de aula, mas que causam tanto desconforto na comunidade escolar que acabam sendo relegados a um segundo ou terceiro plano. Quase sempre essas temáticas são tratadas como se fossem meros casos de exceção, embora sejam recorrentes nos diversos níveis de ensino.
Uma sala de aula não é o local onde apenas são ensinados e aprendidos os conteúdos previstos na estrutura curricular. Às vezes, é necessário que a comunidade escolar pare um pouco para comentar, discutir e tentar solucionar algumas situações que podem dificultar todo o processo educacional. A seguir, veremos alguns deles, claro que sem a pretensão de esgotar tão vasto assunto. Há muito mais a ser discutido…
INCIVILIDADES
De acordo com os dicionários, incivilidade é uma atitude grosseira, uma descortesia ou uma indelicadeza cometida por alguém durante o convívio social. Uma sala de aula deveria ser um local onde imperasse o fino trato ente as pessoas e onde o debate de ideias fosse o centro das atenções. Mas, infelizmente, isso nem sempre acontece.
Não é raro alguém testemunhar troca de impropérios durante as aulas, uso de palavrões descontextualizados e agressões verbais, tanto por parte do alunado, quanto na relação entre alunos e professores, até mesmo entre gestores, discentes e docentes. A falta de respeito mútuo rapidamente vem se tornando uma regra nos ambientes escolares.
Podem ser colocadas também no âmbito da incivilidade o uso de fones de ouvido e de aparelhos celulares durante as aulas, os desrespeitos verbais, as tentativas de burlar regras predefinidas, injúrias sociais e raciais, assédios morais e sexuais, além do bullying, do cyberbullying e de muitas outras atitudes que precisam ser repensadas.
VIOLÊNCIAS
A escola e seus entornos têm se tornado um fértil campo para práticas violentas. Além das ações que podem ser encaixadas nos terrenos das incivilidades, há algumas situações nas quais o uso da força bruta ou de pressões psicológicas deixam marcas internas e externas nas vítimas.
Muitos são os casos de agressões físicas dentro e fora da escola. Quase sempre motivados por banalidades e por falta de um diálogo ou de preparo para conviver com as diferenças ou com ideias contrárias. Não se pode esquecer também que, muitas vezes, os alunos são alvos de traficantes ávidos por aumentarem seus lucros e o alcance de seus territórios de influência. Dessa forma, banheiros, pátios, corredores, quadras de esporte e até mesmo a sala de aula se tornam pontos de circulação de mercadorias ilícitas.
SAÚDE MENTAL DOS ALUNOS
Não é difícil encontrar situações em que, durante uma aula ou mesmo no intervalo, um/a aluno/a mude bruscamente de comportamento, passe a fixar o olhar no vazio e mergulhe em uma crise de pânico ou em um episódio de depressão. Em alguns casos, isso dura poucos minutos e a pessoa se recupera antes mesmo de seus companheiros perceberem o que aconteceu. Muitas vezes, porém, a situação se torna mais duradoura e precisa de alguma intervenção profissional.
Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, estudar pode ser uma tarefa estressante e que consome muita energia. O aluno recebe pressão de todos os lados: da família, da escola, de si próprio e de toda uma comunidade que cobra resultados imediatos. Somado a isso, ainda há o fato de que muitos jovens são vítimas de abusos, vivem em situação de risco, nem sempre mantêm boas relações familiares e ainda por cima estão em fase de alterações físicas e psicológicas. Nem todos conseguem controlar essa confluência de pressões e às vezes externam suas angústias no ambiente escolar, seja em forma de lágrimas, seja em forma de cortes pelo corpo, na busca de que uma dor física suplante uma incômoda angústia que parece não ter fim. Como esperar que alguém se concentre nos estudos, se tem dificuldade até mesmo em olhar-se em um espelho?
A dúvida é: será que os professores e demais atores educacionais sabem como agir durante tais episódios?
SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES
Não são apenas os alunos que vivem pressionados. Os professores também algumas vezes não conseguem contornar as pressões internas e externas. Inúmeros são os casos de profissionais afastados de sala de aula por causa de problemas psicológicos. Há depoimentos de docentes que sentem calafrios, ressecamento labial, tremores, dores físicas, crises de ansiedade e até mesmo desejo de recorrerem a medidas drásticas como automutilação e suicídio quando se aproxima o horário de saírem de casa rumo à escola onde trabalham.
Esses profissionais vivem em seus limites e precisam de um acolhimento e de tratamento adequado para que possam voltar às salas de aula e exerceram a função para as quais se prepararam a vida inteira. No entanto, em muitos casos, acabam se tornando alvo de piadas, deboches e risadinhas tanto por parte dos colegas de profissão, quanto por parte do alunado e do corpo diretivo da escola. É um preguiçoso”, “Não quer dar aula”, “Vive inventando doença”, “Toda semana é um atestado!” Quando um professor não sente alegria naquilo que faz, todo o processo de ensino e aprendizagem pode ficar comprometido. O professor não é um ser autômato, programado para ministrar aulas em série. É um ser humano que precisar ser ouvido e ter suas necessidades básicas satisfeitas.
Esses são apenas quatro tópicos que deveriam ser mais discutidos em sala de aula, em palestras e em campanhas voltadas para toda a comunidade escolar. Não se pode esperar que haja melhoria na aprendizagem se o corpo e a mente de alunos e professores clamam por socorro.