Na noite do dia 09/04, na Sessão Solene de premiação da 4ª edição do Concurso Nacional Pedro Ivo de Poesia, organizado pela Academia Maranhense de Ciências, Letras e Artes Militares (AMCLAM), no auditório da Associação Maranhense de Escritores Independentes (AMEI), em São Luís, em belíssima festa literária, com o espaço lotado, eu, Evilásio Júnior, fui agraciado com o primeiro lugar no certame, que contou com a participação de poetas de diversas partes do Brasil.
Na 3ª edição, de 2023, fiquei em segundo lugar, o maranhense mais bem colocado naquela ocasião, mostrando que a literatura que vem sendo produzida em nosso estado, mesmo sem muito apoio do poder público, de órgãos responsáveis pela cultura, tem uma força imensa, rompendo com os silêncios impostos, mas que não conseguem calar a poesia. Aliás, ser poeta é acreditar no poder da palavra além das interdições, plantando na garganta do homem o grito por humanidade, por algo que possa dar um sentido elevado ao existir.
Voltando à noite do dia 09, não fui eu que venci o Concurso Nacional Pedro Ivo de Poesia, com o Poema “Andanças,” mas a literatura do Vale do Pindaré, a Literatura Maranhense. Eu não faço literatura para me representar, faço-a por uma perspectiva de coletividade, de alteridade, levando a cartografia do meu lugar, as marcas daquilo que me fazem ser o que sou, falando através dos silêncios das pessoas que me antecederam, sendo as mãos daqueles que não puderam escrever, sendo a boca que ecoa os ensinamentos orais aprendidos com os mais velhos. Eu não ando só, minha poesia é constituída por diversas camadas de vozes e de falares.
Tudo que eu ganho é uma forma de celebrar os que me antecederam, que me dão força, que sustentam a minha caminhada, que pavimentaram com suor, lágrimas, sangue e luta o que venho colhendo agora. Não acredito em conquistas individuais, eu sou a continuidade da força vital que a ancestralidade me doa para as minhas realizações. Como bem sinaliza a sabedoria da filosofia Ubuntu: “Eu sou porque somos”.
E, por fim, como poetizara Luiza Cantanhêde: “Minha palavra é de coisa vivida”. A minha palavra é a camada de muitas vivências, muitas gerações. Os calos nas mãos de meus ancestrais, são hoje palavras vivas em minhas mãos; o que não foi dito ontem, hoje é “a voz que rompe os exílios/ explode a garganta do silêncio”. Só acredito nas palavras que gritam além das interdições; só acredito na palavra que sangra, que é viva, que pulsa, que tem carne, osso, alma. A palavra para mim é um lugar sagrado, de memória e de continuidade.
ANDANÇAS
podem arrancar o meu chão
mas ainda tenho as retinas
retidas no céu
sobrevivo a muitas mortes
trago em mim
a beleza da vida
levo a leveza dos espinhos
e a dureza das pétalas
não me calo mais
a voz que rompe os exílios
explode a garganta
do silêncio
não me canso mais
os calos nos pés demarcam
com a força da luta e do luto
que ainda não é tempo
de descanso
enquanto paro para pensar
algo em mim pede movimento
levando-me levemente para longe
ainda que eu tenha as raízes
fincadas neste lugar
podem arrancar o meu céu
mas ainda tenho o chão
onde piso.