terça-feira, 10 de dezembro de 2024

500 palavras

Publicado em 4 de abril de 2024, às 20:27
Fonte: Marcos Fábio Belo Matos – jornalista, professor e escritor. Membro das Academias Bacabalense e Imperatrizense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Imperatriz (IHGI)
Number 500 vector font alphabet. Yellow 500 number with black background. Imagem: FreePik Premium

Tenho TOC – Trantorno Obsessivo Compulsivo. Há vários tipos de TOC. Há aquele em que a pessoa verifica, compulsivamente, portas, janelas, cadeados, senhas. Há aquele em que a pessoa tem mania de limpeza ou de organização – a casa parece sempre desarrumada. Há aquele em que a pessoa só usa determinadas cores (que ficou muito famoso com o Roberto Carlos). Há uma infinidade de outros (coloque, para testar, no Google, “Tipos de TOC” e você vai ver uma lista enorme…).

O meu é de contar. Contar as coisas, para mim, virou, com o tempo, uma rotina. Conto quantos degraus tem a escada do meu prédio; quantos degraus até o terceiro andar do prédio da faculdade – dividindo, claro, por lance de escada…; quantos passos da porta da minha casa até a padaria (ida, num dia, ida e volta, no outro…); quantas dentadas podem ser dadas numa banana; quantos cortes podem ser desferidos numa salsicha (aumentando, a cada salsicha, mais um); quantas respirações até terminar o comercial do jornal; quantos movimentos da escova para fazer uma escovação dos dentes; quantas palavras num título de jornal. E por aí vai…

Digo isso para explicar o título dessa crônica. 500 palavras é a quantidade exata de cada texto que escrevo a vocês, todas as quartas-feiras, aqui neste espaço. Neste caso, 500 sem o título. É um ótimo exercício para meu TOC – que, é bom que eu explique, nunca me fez sofrer. Pelo contrário, organizou a minha vida, de certa forma, para o cartesianismo necessário a uma existência adulta…

A cada semana, então, entrego-lhes 500 palavras. E me esforço para que não sejam 500 palavras quaisquer. Tento lhes dar sempre o melhor. Tento não deixar palavra sobrando, palavra sem sentido, palavras fracas de significação, palavras que soem, de alguma forma, preconceituosas ou pernósticas ou desinteressadas. Tento lhes oferecer as melhores palavras que eu tiver naquele dia. Alegre, triste, pensativo, angustiado…as palavras têm que ser sempre as melhores – ou, pelo menos, as mais belas para representar aquele tipo de emoção.

Parece pouco, mas não é. Ler 500 palavras, às vezes, pode ser um ato de sacrifício. Ou de opressão. Ou de dor e desesperança. Ou, pelo contrário, um ato de libertação, esperança e luz. “A boca fala do que o coração está cheio”; o teclado, também.

Já aconteceu de escrever um texto, achando que era o melhor que eu poderia oferecer aos leitores e leitoras. E acordar, no dia seguinte, com a sensação de que aquelas não eram as 500 palavras mais apropriadas para dizer. O que fazer? Neste caso, recorro ao meu arquivo de textos e escolho outro, que esteja mais a contento, que diga algo de forma melhor. E retempero e reidrato e refogo, para servir a quem me lê. Exatamente como faz a nossa mãe com aquele resto de frango que sobrou do domingo. Na segunda, por obra da expertise e do amor, ele vira uma bela torta suculenta…

É preciso vigiar sempre as palavras que lhes dou. Os leitores não merecem qualquer coisa, afinal.

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