Todo candidato a presidente, governador ou prefeito deveria ler o livro “Carta Urgente — Da ‘Revolta Cidadã’ à Utopia Brasil”. Todo político deveria tê-lo, lê-lo e discuti-lo — se possível, e é possível, implementar suas ideias, sugestões, receitas. A (re)leitura da obra é recomendável, em especial nestes tempos de ano eleitoral — que no Brasil é de dois em dois anos…
Em setembro de 1999, o advogado Ulisses de Azevedo Braga (falecido em 30/01/2011) lançou o livro “Carta Urgente – Da “Revolta Cidadã” à Utopia Brasil”. Ulisses Braga tornou-se a referência do movimento, que ficou conhecido como “Revolução de Janeiro” e que literalmente pôs pra fora um prefeito de Imperatriz no ano de 1995. (A obra traz também um relato de Ulisses Braga e documentação fotográfica sobre a “Revolução de Janeiro”).
A partir daquele furacão de cidadania, que derrubou nulidades políticas e administrativas e levou a cidade à intervenção estadual, Ulisses Braga erigiu um livro, verdadeiro monumento de reflexão político-filosófica e prática cidadã. Lançado inicialmente em Imperatriz, o livro ganhou o país, com outros lançamentos e sessões de autógrafos, inclusive na capital, Brasília.
Reservei este espaço para documentar o que escrevi e disse acerca da obra e seu obreiro. Fui autor de um dos textos de apresentação do livro e orador oficial da noite de lançamento, ocorrida no auditório da Associação Médica de Imperatriz.
A seguir, a apresentação do livro, onde destaco, entre outros aspectos, os diversos “projetos” de cidade sonhados por outros autores e os sonhos de cidade e de país que Ulisses Braga projeta, com detalhes, em seu livro.
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APRESENTAÇÃO AO LIVRO “CARTA URGENTE”, DE ULISSES DE AZEVEDO BRAGA – (EDMILSON SANCHES)
Caro Destinatário desta Carta Urgente:
Há pessoas que acham que sonhos vêm do sono, de um estado de letargia, e que o espaço para eles se circunscreve à mente. Não; os sonhos provêm da realidade, de uma situação de vigília, e para ela retornam, “materializados”, com as alterações/adequações, positivas ou não, a que forem submetidos pelas influências e desvios do meio.
Sonhos não são o contrário da realidade; são parte dela. Assim como o espírito dá vida ao corpo e a ele se integra, os sonhos é que animam, isto é, dão alma à realidade e a ela se incorpora. Dois-em-um. Indivíduo ― ou seja, o dois que não se divide, o DUO (dois) que é UNO (um), o par irrepartível, casal inseparável, dupla indivisível.
À Luther King, Ulisses de Azevedo Braga tem um sonho, do qual também não se separa, embora reparta com outros. (Vantagem comum a sonhos, amor e conhecimento: quanto mais se divide, mais se multiplica).
O sonho de Ulisses é pulso, pulsão, pulsação. Pulso forte, social. Pulsão consciente, cidadã. Pulsação enérgica, energética, espiritual. Pulso, não impulso; pulsão, não compulsão. Um sonho que é materialidade gráfica neste livro. E que poderia (deveria) ser realidade sociopolítica neste País.
Nesta sociedade de espinhos, ninguém poderá dizer que alguém não falou de flores. Ulisses Braga não só fala de flores: ele prepara o buquê, ele entrega a “corbeille”.
Esta Carta Urgente bem que merece um “A. R.”, o Aviso de Recebimento. Porque o que deve ser urgente, mesmo, não é a Carta, mas a resposta a ela.
Ulisses é nosso “filósofo sociopolítico” mais carnal, espiritual, social: pensa/a/dor, vivencia/a/dor, soluciona/a/dor. Este livro demonstra isso; não é um produto tão-somente de um esforço intelectual, mas de uma prática político-social, de uma angústia espiritual, um sofrimento pessoal. Não é só obra de reflexão, mas de “reflexação”, ação refletida, reflexão e reflexo da ação.
Ulisses prega, ou prevê, o fim do Poder, do Poder como está sendo exercido, onde (quando) a Pátria comunal, nacional, vira patrimônio pessoal ou, no máximo, grupal. A Pátria é o patrimônio formado pelos muitos pobres e afanado pelos poucos ricos. A Política é o veículo do Poder, pelo Poder, para o Poder, e leva no porta-malas assistencialismo material e escravismo mental. Junto com a comida para o estômago, com o dinheiro para o bolso, o remédio para a doença, vai a anestesia para a alma, o modelador de vontades, o anulador de opções.
Este livro traça um novo modelo de Cidade e de Estado. Sugere regras, um Credo, crenças, práticas. A Utopia não é o não-lugar, é o lugar pensado e possível, feito a partir das mesmas gentes e mesmos agentes hoje (sobre)viventes.
Ulisses Braga escreve a fórmula geral, desenha a forma ideal, molda a fôrma final. O livro é quase um “toolbook”, um livro-ferramenta: vai além do pensar e mostra os passos para a realização. O que Ulisses não pode fazer é o que cada um deve fazer, indivíduo-socialmente, socioindividualmente: avaliar a proposta, agregar-lhe outros valores e, sobretudo, mobilizar-se rumo à prática que leve à construção solidária, cooperativa, da nova realidade política, social, econômica, jurídica, cultural e filosófica ― a Democracia Participativa.
Um novo “ethos”, uma nova práxis, um novo ser. Um novo ser, uma nova “pólis”, um novo Estado, um novo Cosmos. Ulisses executou um trabalho de Hércules. Fez uma obra de gênio (“gênio”, aqui, o homem excepcionalmente dotado de força criadora e criativa).
Mas ― já o disseram ― o mal dos gênios é que quase nunca são devidamente reconhecidos em sua época. Quantos mestres-de-obra, quantas obras de mestre, meu Deus, lançaram fundamentos e fundações!… O Éden, da Bíblia; Canaã, a terra santa prometida a Abraão; a República, de Platão; a Utopia, de Morus; a Cocanha, dos franceses; a Luilekkerland, dos holandeses; a Schlaraffenland, dos alemães; o reino de Panicone, dos italianos; a Terra de Dilmun, do povo mesopotâmico; a Cidade do Sol, de Campanella; a Nova Atlândida, de Bacon; o Novo Mundo Industrial e Societário, de Fourier; a terra de Eusébia e a terra dos Méropes, de Teopompo de Quios; as Ilhas Afortunadas, de Iâmbulo; a Idade de Ouro, de Virgílio, Ovídio e outros; a Ilha dos Bem-Aventurados, de Hesíodo, Luciano “et alii”; a ilha de Bran e o Tír na n-Og, o país da juventude, dos celtas; o Walhala, dos escandinavos; a Terra Sem Mal, dos tupis-guaranis; a “yvy-nomi mbyré”, a “terra onde se esconde”, dos índios nandevas; a São Saruê, dos nordestinos; a Pasárgada, de Bandeira…
São cidades dos sonhos e sonhos de cidades. Pensadas como espaço pessoal ou comunitário, onde a vida e a convivência são prazerosas, de amores e louvores, sem preocupação com trabalho, alimentação, saúde… ou planejadas com regras, para seus habitantes desfrutarem do direito à participação, à expressão, à construção coletiva do seu próprio “locus”, de seu próprio destino e felicidade.
A partir da experiência cidadã de uma cidade, Ulisses Braga, arquiteto de futuros, desenha uma planta para uma comunidade municipal e também para a comum unidade nacional ― brasileira, no caso. Não é tarefa fácil ― senão não seria trabalho para Ulisses, desde a mitologia grega um símbolo da capacidade humana de superar as adversidades.
A teoria dos “Grandes Homens”, de Thomas Carlyle, credita o progresso humano aos esforços de indivíduos excepcionais. Para ele, “a história do mundo nada mais é que a biografia dos homens notáveis”.
Ulisses de Azevedo Braga é um homem notável. Construiu uma obra cujas intenções, honestas, exequíveis, certamente merecerão a compreensão, as atenções e as ações, senão dos seus contemporâneos, ao menos dos seus pósteros.
Pois essa parece ser a sina dos seres e das obras onde há gênio. A origem grega já advertia: “gênio” significa “ter nascido, vir a ser”.
Ulisses Braga nos oferta um belo presente.
O futuro te manda lembranças, Ulisses.
EDMILSON SANCHES
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