Muda o tempo, inventam-se dispositivos, máquinas, programas, aplicativos que nos trazem um mundo novo, mas uma coisa nunca muda: as relações sociais são feitas de encontros. Sejam eles cara a cara, por meio de uma rede social qualquer, de um chat ou de um aplicativo de relacionamento.
É sobre essa necessidade dos encontros que o mais novo livro da Hyana Reis vai, em grande medida, falar. “Amores em tempos de @” é um mapeamento de como nós estamos nos comportando neste universo – virtual, simulacral, século XXI, com todos os seus meandros, seus altos e baixos, suas esquinas escuras, seus lovers e haters, suas dores e delícias cheias de pixels…
Aqui você vai encontrar, revestidos pela pele da ficção, personagens que, em algum momento das suas relações, já cruzaram o seu caminho. O cara que não responde às mensagens no aplicativo; a menina que não ouve o áudio e por isso está por fora do que acabou de ser decidido na sua vida real/virtual; o motorista do aplicativo que acaba sendo quase um psicólogo; a mulher que só se envolve se o @ der match perfeito… Talvez você até já tenha vivido algo assim, vai saber. Se uma dessas situações já lhe aconteceu, ou todas, relaxe – a literatura é o espelho da vida, desde tempos imemoriais.
Hyana tem uma escrita ágil, bem trabalhada e é uma arguta observadora do seu tempo. Cronista de mão cheia, detetive perspicaz, observadora aplicada do mundo que a rodeia, ela nos brinda, em seu terceiro livro, com este espelho de uma sociedade que aprendeu (ou está aprendendo!) a viver e se comportar a partir das telas dos smartphones, das relações líquidas descritas por Bauman, dos likes e deslikes que performatizam nossas atitudes.

Lendo e pensando sobre essas histórias, que se dispersam pelas páginas, mas bem poderiam estar numa conversa de aplicativo, num chat de jogo online ou numa webchamada, tenho a nítida impressão de que Hyana atualiza (e bem!) a frase-aforismo do poema de Gonçalves Dias: “A vida é combate”.
Esta vida – a nossa vida de cidadãos/cidadãs imersos em tanta informação, desinformação, em tantos follow, unfollow, emojis, grupos, correntes, avatares, comentários, cancelamentos e outros (digi)tais – nada mais é que um enorme “combyte”, uma luta árdua pela sobrevivência no gigantesco “pangeia virtual” em que tudo isso se tornou.
Ler este livro, se você se sente meio perdid@ em tanta virtualidade, pode ajudar, de alguma forma, a ter um certo alento e a compreender melhor o cosmos que @ rodeia.
Eu li e dei like…

O projeto “LITERATURA MARANHENSE EM FOCO” é uma iniciativa do Site Região Tocantina, em conjunto com o Jornal O Progresso, coordenado pelo jornalista Marcos Fábio Belo Matos.