Comemorado anualmente no dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher é um marco na luta de direitos das mulheres. A data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas na década de 1970 e simboliza a luta histórica das mulheres, que foi evoluindo ao longo dos anos, em busca de direitos iguais e combate ao machismo e à violência. A data é marcada por manifestações, eventos e reflexões sobre a importância da equidade e do empoderamento feminino.
Entre vários avanços e conquistas, está também a criação do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015 e celebrada também pela UNESCO. A data é comemorada no dia 11 de fevereiro e tem por objetivo promover o acesso igualitário e a participação plena das mulheres e meninas na ciência.
A celebração também visa reconhecer a contribuição significativa das mulheres para a ciência e tecnologia, além de incentivar as jovens a seguirem carreiras científicas. Apesar dos avanços, o número de mulheres e meninas nesses campos ainda é minoritário, representando desafios a serem superados para garantir a plena igualdade de gênero. Dessa forma, a data se torna significativa para promover a diversidade e a inclusão no mundo científico. Um dos caminhos percorridos é o acesso e as oportunidades de ensino dentro das universidades.
Um relatório realizado pela Agência Boris destacou um aumento significativo do número de mulheres como autoras e coautoras de publicações científicas no país. De acordo com o relatório, essa participação cresceu 29% nos últimos anos. Em 2022, as mulheres representaram 49% da produção científica nacional. Atualmente, o Brasil ocupa o terceiro lugar entre os 18 países analisados com maior presença feminina na ciência.
MULHERES NA UFMA
A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) reconhece a luta das mulheres para ocupar seus espaços na sociedade, por meio do fomento e da promoção da igualdade de gênero e valorização da mulher profissional e pesquisadora. Desde programas de incentivo à pesquisa liderada por mulheres até a implementação de políticas de equidade de gênero em seus departamentos, a UFMA tem demonstrado um compromisso sólido em combater às disparidades de gênero na ciência.
De acordo com a pró-reitora da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP), Ana Carla Araújo Arruda, a Universidade conta com um total de 1.841 mulheres em seu quadro, sendo 903 docentes e 938 técnicas.
No que se refere às pesquisas, por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI), são disponibilizadas bolsas para o desenvolvimento de pesquisas científicas em diversas áreas do conhecimento. Atualmente, os programas contam com 746 mulheres e meninas, em um total de 1.363 pessoas, distribuídas em programas na graduação e no ensino médio. Um dos resultados positivos dessa inclusão também pode ser contabilizado em premiações de eventos científicos. Aproximadamente 70 por cento dos trabalhos premiados no SEMIC/ SEMITI 2023, são de participantes femininas.
Total de mulheres e meninas nos programas:
O reconhecimento também se manifesta por meio dos recentes destaques: dez pesquisadoras da Universidade foram agraciadas com o 18° Prêmio Fapema – Bicentenário Gonçalves Dias, evidenciando suas notáveis e atuantes contribuições para a ciência; a UFMA também conta com discente de Artes Visuais premiada na II Edição do Prêmio Jovem Quilombola Inovador; professora do Curso de Direito da UFMA conquistando seu segundo grau acadêmico, na 4ª universidade mais antiga do mundo; jovem autista do curso de Letras-Português EAD da UFMA aprovada no seletivo do IBGE; prêmio conquistado por discente da UFMA no processo seletivo de Artigos Científicos da ESMAM, entre tantas outras mulheres que atuam diariamente em prol da ciência.
Segundo Flávia Nascimento, pró-reitora da Agência de Inovação, Empreendedorismo, Pesquisa, Pós-graduação e Internacionalização da UFMA (AGEUFMA), os expressivos números de mulheres destacadas na UFMA são reflexo do compromisso com a equidade.
“As mulheres estão ocupando cada vez mais espaço em diversas esferas da sociedade. Na universidade isto não é diferente. Quando avaliamos a participação das mulheres na pesquisa e pós-graduação da UFMA é notável o crescimento do número de pesquisadoras, bolsistas de produtividade em pesquisa, orientadoras e líderes de grupos de pesquisa . Importante destacar também a presença de mulheres em cargos de gestão. Esta diversidade fortalece nossa comunidade acadêmica, enriquece nossas pesquisas e amplia nosso impacto na sociedade. No entanto, reconheço que ainda há desafios a superar para garantir a plena igualdade de oportunidades e representação, em especial, em algumas áreas do conhecimento . A AGEUFMA busca continuar promovendo políticas inclusivas e apoiando iniciativas que promovam a participação e o reconhecimento das mulheres na pesquisa, inovação, pós-graduação e empreendorismo. Juntas, podemos construir um ambiente acadêmico acolhedor, verdadeiramente inclusivo e diversificado” frisa.
IGUALDADE DE GÊNERO
A luta pela igualdade de gênero é antiga e busca desconstruir uma problemática estabelecida historicamente, em que o papel da mulher e do homem foram delimitados, e a mulher foi privada de acessar determinados espaços, entre eles, o trabalho fora do lar e os espaços de desenvolvimento e construção do conhecimento científico, como afirma a professora e pesquisadora sobre igualdade de genêro Patrícia Rakel de Castro Sena.
A professora explica que, com a delimitação de papéis, ocorreu uma hierarquização em que se atribuiu um maior valor tanto social quanto econômico ao trabalho realizado pelos homens, incluindo também a produção científica. “Aos homens coube o trabalho produtivo associado à questão da racionalidade, objetividade, liderança e, portanto, o lugar em que a ciência positivista se desenvolve, e à mulher coube o espaço do trabalho reprodutivo, do cuidado, muitas vezes não remunerado”, afirma.
Rakel esclarece que hoje as mulheres já ocupam esses espaços de trabalho, estudo e pesquisa, porém com ressalvas e em menor número. “As mulheres hoje conseguem acessar mais espaços, porém, dentro desse acesso, existe um processo de hierarquização dos cargos que elas ocupam. E essa hierarquização na promoção de lideranças, dentro dos empregos e das instituições, acaba fundamentando e reproduzindo a violência de gênero. Então é preciso pensar essa violência contra as mulheres e todas as suas interseccionalidades”, pontua.
PRODUÇÃO CIENTÍFICA
Apesar das problemáticas, os avanços nos direitos das mulheres são significativos, e a presença feminina na produção científica contribui dentro e fora da Universidade. Projetos de pesquisas voltados para o benefício da mulher são desenvolvidos na UFMA, por mulheres, com o intuito de levar melhorias para a classe e sociedade, no geral.
É o caso do projeto da professora de medicina do Câmpus de Pinheiro e do Programa de Pós-graduação de Saúde Coletiva, Câmpus São Luís, Sarah Fiterman Lima. O projeto tem por objetivo analisar a saúde sexual e reprodutiva de mulheres migrantes, adultas e adolescentes venezuelanas, que se deslocaram para o Estado do Maranhão. Na investigação, foram entrevistadas 32 mulheres.
Em relação ao Dia Internacional da mulheres e meninas na ciência, a discente afirma que, apesar dos desafios enfrentados pelas mulheres no ambiente científico, como a discriminação, o preconceito e esteriótipos ainda existentes, a data é uma oportunidade de promover o acesso de mulheres e meninas à ciência de forma igualitária “o que pode abrir outras oportunidades na ciência e no trabalho, sendo uma relevante estratégia para o enfrentamento das iniquidades de gênero enfrentadas pelas mulheres nesses espaços”, pondera.
Lima cita medidas que podem promover a igualdade de gênero. “Por meio de Políticas de Igualdade. Implementar políticas institucionais que promovam a igualdade de gênero em todos os aspectos, criando programas de mentoria para mulheres cientistas, proporcionando suporte e orientação; Equidade em Recursos e Financiamento, monitorando e corrigindo possíveis disparidades e oferecendo opções de trabalho flexíveis para ajudar na conciliação entre carreira e vida pessoal”, pontua.
Orientanda de Sarah no projeto, a estudante de medicina Catarina Gaspar comenta a importância da mulher na Universidade e no campo da pesquisa, e o encorajamento de outras mulheres para ocupar esses lugares. “Por muito tempo, vivemos em uma sociedade onde apenas o homem exercia o trabalho e era visto como “capaz”. Atualmente, cada vez mais, as mulheres vêm adquirindo espaço em todos os setores, e, na Universidade, não é diferente. Acredito que a importância não se resuma apenas a conquistar um espaço, mas, principalmente, a encorajar outras mulheres a entender que todas elas podem atuar onde quiserem, inclusive na ciência e na pesquisa”, aponta.
A pauta da diversidade é igualmente trabalhada por Ana Carolina Celidonio. Aluna do curso de medicina, é orientanda da professora Sarah no projeto que tem como foco o estudo da saúde mental da população LGBTQIA+ do Maranhão. A aluna destaca a versatilidade das mulheres e como elas são capazes de realizar qualquer tipo de atividade.
“Diria que não há limites para a participação feminina em áreas que, antes, eram exclusivamente masculinas. Na pandemia de covid-19, ficou evidente a necessidade de profissionais competentes, independentemente de seu gênero. No Brasil, temos o exemplo de que o sequenciamento do genoma do SARS-CoV-2 foi realizado por uma equipe coordenada por uma mulher, a doutora Jaqueline Goes. Então, as mulheres são, sim, capazes de produzir conhecimento e revolucionar as áreas em que se encontram. A representatividade é essencial para que meninas possam se identificar e confiar em seu potencial”, destacou.
Os projetos de pesquisa voltados para mulheres não se restringem apenas à área da saúde. É o caso do projeto desenvolvido pelo grupo de pesquisa Mídia e Democracia (MID), coordenado pela professora do curso de Comunicação Social e vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom), Rakel de Castro. O estudo tem por objetivo analisar o atendimento de mulheres vítimas de violência nas delegacias. Hiza Júlia Leal, aluna de Comunicação Social-Jornalismo, faz parte do projeto e destaca como ele pode melhorar a vida das mulheres e ajudar na construção de um mundo melhor.
“Cada dia, entendemos quanto é essencial sermos plurais e entendermos outras lógicas além das dominantes para um desenvolvimento sustentável. Quando se trata de gênero, a situação não é diferente: Quantos problemas existem hoje por causa da falta de mulheres na ciência? Quantas mulheres poderiam ter sido potencializadas pela Universidade e pelo estudo? Infelizmente, essas perguntas não serão respondidas completamente, mas elas seriam feitas se não houvesse mulheres hoje preocupadas com o seu espaço e a sua história? Essa é a questão da diversidade, ela permite que vejamos questões além das que já estão pautadas, e a história das mulheres é uma dessas pautas”, opinou.
A UFMA se destaca como uma instituição comprometida em promover e valorizar o espaço da mulher na ciência. Por meio de iniciativas inclusivas e políticas de igualdade de gênero, a Universidade tem trabalhado ativamente para criar um ambiente acadêmico que reconheça e valorize as contribuições das mulheres cientistas.