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Soube hoje, final de tarde, que neste 4 de março de 2024 a querida amiga e minha diretora em todo o Ensino Médio completou 96 anos. Quem disse que vaso bom não dura muito?! Eis então um bom, ótimo, excelente e superior exemplo: Irmã Maria Gemma de Jesus Carvalho, a inesquecível Irmã Clemens, diretora do Colégio São José, da Associação das Irmãs Missionárias Capuchinhas, avança para além da metade da década que a levará a um século de vida, em 2028…
Estudei na segunda metade dos anos 1970 no Colégio São José, em Caxias (MA). Era o Segundo Grau, hoje Ensino Médio, três anos. Eu vinha da escola pública, o Ginásio Duque de Caxias, do Projeto Bandeirante. Aos 13 anos, passei em um seletivo ou seleção do Banco do Brasil e, depois de exame admissional de saúde com o médico Humberto Coutinho, na Casa de Saúde e Maternidade de Caxias (Rua Libânio Lobo, no prédio que ficou conhecido como “Sinhá Castelo”), fui admitido como o primeiro menor estagiário ou menor aprendiz da agência do maior banco do País em Caxias. Mesmo ainda rapazote, raciocinei: “Se o salário de menor trabalhador dá para pagar uma escola particular de Segundo Grau, por que ocupar uma vaga em escola pública?”
Fui para o São José e já no primeiro ano de estudo candidatei-me a presidente do Grêmio Santa Joana d’Arc. Fiquei na vice-liderança. O Roldão Ribeiro Barbosa, hoje professor-doutor da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão), ficou em 1º lugar, mas, pouco tempo depois, abdicou e eu fui empossado à frente do Grêmio.
Foi sobretudo por essa função na Organização Estudantil da respeitada Escola capuchinha que passei a ter vez e voz e interações com a Direção do Colégio São José — vale dizer, com a diretora Irmã Clemens (como era chamada e mais conhecida à época).
Nos demais anos do Ensino Médio, meu trabalho para o alunado credenciou-me a reeleições sucessivas, anuais.
E Irmã Gemma / Clemens acompanhando… No final do terceiro e último mandato, dela recebi um diploma pelo “atuante desempenho no Grêmio na função de Presidente (1975/1977)”.
Depois que passei décadas e décadas fora de Caxias, deixando pegadas e digitais em pelo menos dezoito Estados brasileiros, além de Europa e Estados Unidos, sempre que retornava a Caxias visitava o Colégio e a “casa das Irmãs”, no centro de Caxias. As emoções eram sempre a surpresa carinhosa e a recepção bondosa, com Irmã Gemma, Irmã Sueli, Irmã Rita, Irmã Eucaristia e outras religiosas querendo saber de mim, ou dizendo que acompanhavam à distância essas e aquelas informações sobre minha vida etc. etc.
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Irmã Gemma faz 96 anos. Trago, de presente, lembranças do passado: o texto “Uma Irmã de Ouro”, escrito e publicado em 11 de junho de 2000, quando a querida Irmã completou 50 anos de vida religiosa.
Vamos rever/reler. (EDMILSON SANCHES)
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UMA IRMÃ DE OURO
Domingo passado, dia 11 [de junho de 2000], a cidade de Caxias testemunhou um momento raro: 50 anos de vida religiosa de uma de suas mais queridas freiras, a Irmã Gemma Carvalho, diretora do Colégio São José.
Natural de Oeiras, Maria Gemma de Jesus Carvalho foi a primogênita entre os três filhos de Dona Natividade e “seu” Mílton (que tiveram também Antônio Carlos, militar da reserva e professor universitário, e Luís Geraldo, auditor da receita Federal, aposentado).
Foi em Teresina que “tudo” aconteceu. Enviada para continuar os estudos na capital do Piauí, a jovem e bela Maria Gemma pretendia fazer Medicina. Queria tratar dos males do corpo. Não deu certo. Decidiu-se por cuidar das coisas do espírito e da mente. Quis ser freira e professora.
O que levou uma jovem atraente, inteligente, bem posta (era secretária do governador do Estado, José da Rocha Furtado, no Palácio de Karnak), festeira (dançava muito bem valsa e tango “y otras cositas más” nos bem-comportados bailes da época) a seguir uma vida de limites, rações e orações?
Há algo de indizível, de indecifrável, às vezes inadmissível mas quase sempre inafastável, em uma decisão que fuja dos padrões ditos e tidos como pragmáticos, impostos pela tal “vida moderna”. Em 1948, isso aconteceu a Maria Gemma de Jesus Carvalho, que, em vez de formar-se médica, preferiu rimar “religião” com “educação”.
No seu nome, algo como que já vaticinado: “Maria” e “de Jesus” a liga aos hagiônimos, aos nomes sagrados; “Gemma” traduz rica semântica — alimento e joia, ambos preciosidades, referência de valor –; e “Carvalho” lembra fortaleza, longevidade, persistência no tempo, com oferta de sombra, para os exaustos do caminho, e lenho, para os carentes de calor.
Com essa riqueza e predestinação onomástica, Maria Gemma apresentou-se para servir a Deus por intermédio de suas criaturas: Jesus Cristo e os seres humanos, elementos cheios de imperfeições e aspirações.
Foi Irmã Eucaristia (também piauiense, de União, e igualmente dos quadros do Colégio São José) quem a encaminhou, em Teresina, à Irmã Filomena, que repassou à pretensa noviça as primeiras informações e orientações sobre o “peso” e as consequências da decisão de ser freira. As duas, Eucaristia e Maria Gemma, se davam muito bem, reproduzindo a igual amizade que havia entre os pais de ambas — Arminda Barros e Benedito de Jesus Nery, os pais de Eucaristia. Em 1950, Maria Gemma de Jesus Carvalho fez sua profissão de fé.
O Colégio São José, criado em 1937, esperou 20 anos por sua mais permanente diretora. Irmã Clemens (era esse seu nome religioso na época) chegou em 1957 em Caxias e até hoje dirige o sexagenário educandário. Estudiosa, igualmente dedicada aos ensinos do século e do sagrado, Irmã Gemma Carvalho estudou Letras Neolatinas e Ciências Religiosas no Rio de Janeiro. Foi além e aperfeiçoou-se em cursos de pós-graduação. De vez em quando, sua competência como educadora e administradora afastava-a de Caxias para realizar outras missões que a Ordem lhe atribuía, como organizar colégios, entre eles o Divina Pastora, de São Luís.
Durante três anos, de 1975 a 1977, convivi mais diretamente com Irmã Gemma Carvalho. Cursei o 2º. Grau (hoje, Ensino Médio) e nesse período fui o presidente do grêmio (o Santa Joana d’Arc — a propósito, cadê a estudantada de hoje, que ainda não reativou essa saudosa e histórica agremiação caxiense? Ficam me devendo esta).
Como líder estudantil, tive a obrigação (na época) e orgulho (hoje) de ter, entre os “liderados” expressões culturais, profissionais, políticas e humanas do naipe de Jamil Gedeon e Fauze Simão (irmãos), Renato e Silvana Menezes (irmãos), Jorge Bastiani, Jandir e Jorge Gonçalves (irmãos), Erlinda Bittencourt, Sinésio Santos Filho (Sinesinho), Kátia e Daniele Gonçalves (irmãs), Sezostris Paé Lima, Fátima Viana, Letícia, Eugênia, Celeste e Marcus Antônio de Vasconcelos Assen (irmãos), Nise Bandeira, Adalgisa, Roldão (a quem substituí no Grêmio), Jorge “Maracujá”, Paulo Augusto Queiroz Baima Pereira, Jofran, Arsênio, os irmãos Mário Barros Filho e Raimundo Guilherme, os irmãos Guilhermina, Raul Germano e Hélvio de Sousa Vilhena, Zequinha, Jeane e Jane Alves Costa (irmãs), José Carlos e Manoel Alencar (filhos de Teresinha e netos de Dadá, minhas vizinhas na rua Bom Pastor), os irmãos Manoel e Antônio Carlos, Jaldo, as irmãs Márcia e Rosângela…Tantos e tantos colegas, conhecidos, amigos… Não cito mais porque, como dizem, o tempo voa e as palavras vão a pé (não tenho culpa se o correr da pena não acompanha o correr dos anos).
E as professoras, essas suportadoras, que “padeciam” no paraíso de nossa infância e juventude? Enriquecendo a nossa mente e, muitas das vezes, balançando o coração pueril e suas vontades imberbes, postavam-se ali, à nossa frente, dando-nos aulas de ofício e, por nossa conta, lições e ilações — sufocadas e sufocantes — de desejo. Coisas da mente menina de nós meninos…
São esses, entre outros, os tempos que nestes dias se ressuscitam, no encontro de ex-alunos e sempre colegas, em volta do Jubileu de Ouro de Irmã Clemens, ou melhor, Gemma Carvalho.
Caxias tem um fabuloso passado. Mas o que nos deve sustentar é seu potencial de futuro. Nesse potencial inclui-se a preservação e cultivo (não adoração, mas respeito) de sua história e os agentes dela. Os caxienses de hoje estão devendo a seus antepassados e pósteros uma Caxias como a de ontem, feita de fé e fibra, percebida nacionalmente como terra de luta e cultura, de resistência e permanência.
Alguma coisa — um nome, uma ideia, uma instituição, uma causa — há de voltar a mobilizar esta cidade, para que possamos, ao lado do orgulho pelo passado, ter confiança em um futuro.
Partes desse passado, presente e futuro encontraram-se neste 11 de junho de 2000. Os 50 anos de Irmã Gemma Carvalho não deve ser apenas uma data, mas um marco. Um marco de história, a ser fincado também por outras pessoas e personagens caxienses.
Irmã Gemma Carvalho está consciente de que, embora ainda não terminado, seu dever vem sendo (muito) bem cumprido. É isso o que quer, é isso o de que precisa a cidade.
Nosso passado de cultura e glória, sozinho, parece já não ser suficiente para manter a cidade no panteão da História. Devemos persistir, como Irmã Clemens. Temos de sair, já já, deste, ao que parece, estado de dependência e chegar ao “status” de competência.
Caxias espera que cada caxiense cumpra seu dever.
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NOTAS DO JUBILEU
PRESENÇA – Cerca de 1.500 pessoas estiveram presentes nos dois dias de homenagens à Irmã Gemma Carvalho: no “sábado áureo”, dia 10, estudantes das classes infantis, pais e convidados; no domingo, a festa principal, com cerca de mil pessoas. Presença do prefeito de Caxias, Fauze Simão, deputado federal João Castelo e esposa Gardênia Gonçalves, deputado estadual Humberto Coutinho, desembargador Cleones (ex-aluno do Colégio São José), deputado federal Paulo Marinho e ex-deputada federal Márcia Marinha (estiveram na residência das freiras), irmãs capuchinhas de diversos pontos do País (irmã Janice, do Colégio Santa Teresinha, liderava a representação de Imperatriz), familiares da homenageada, empresários, profissionais liberais, a maioria ex-alunos e filhos e netos igualmente alunos do Colégio. Missa, números musicais (solos e corais), declamação de poesias, mensagens gravadas, flores muitas, balões… O discurso principal, em nome das turmas de ex-alunos das décadas de 1950 até 1990 foi feito pelo colunista.
LIVRO – Na residência das freiras, na parte da tarde e à noite, as homenagens se sucederam e Irmã Gemma Carvalho foi presenteado com um livro de exemplar único, editado pelo ex-aluno Jorge Bastiani, impresso em papel especial, com textos feitos por ex-alunos, irmãs de Ordem, padres, professores e familiares. Novamente o colunista foi convidado pela Irmã Eucaristia Nery para explicar as razões e a importância do livro.
EDMILSON SANCHES
Palestras – Cursos – Consultoria
Administração – Comunicação – Desenvolvimento – História – Literatura
CONTATO: [email protected]
Uma resposta
Parabéns!! Texto muito bom