segunda-feira, 14 de outubro de 2024

IRMÃ MARIA GEMMA DE JESUS CARVALHO, 96 ANOS

Publicado em 5 de março de 2024, às 6:07
Fonte: EDMILSON SANCHES é membro da Academia Maranhense de Ciências, do Conselho Regional de Administração, do Conselho Regional de Contabilidade, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Academia Internacional de Literatura Brasileira (Estados Unidos), do Instituto Histórico e Geográfico e Academia de Letras de Caxias, e de Academias de Letras dos Estados do Maranhão, Pará, Espírito Santo e São Paulo.
Imagem: Meados da década de 1970, Irmã Gemma e Edmilson Sanches discursam, com a presença, no palco, de alunas diretoras do Grêmio do Colégio São José, em reunião da agremiação no auditório lotado de alunos da Escola.

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Soube hoje, final de tarde, que neste 4 de março de 2024 a querida amiga e minha diretora em todo o Ensino Médio completou 96 anos. Quem disse que vaso bom não dura muito?! Eis então um bom, ótimo, excelente e superior exemplo: Irmã Maria Gemma de Jesus Carvalho, a inesquecível Irmã Clemens, diretora do Colégio São José, da Associação das Irmãs Missionárias Capuchinhas, avança para além da metade da década que a levará a um século de vida, em 2028…

Estudei na segunda metade dos anos 1970 no Colégio São José, em Caxias (MA). Era o Segundo Grau, hoje Ensino Médio, três anos. Eu vinha da escola pública, o Ginásio Duque de Caxias, do Projeto Bandeirante. Aos 13 anos, passei em um seletivo ou seleção do Banco do Brasil e, depois de exame admissional de saúde com o médico Humberto Coutinho, na Casa de Saúde e Maternidade de Caxias (Rua Libânio Lobo, no prédio que ficou conhecido como “Sinhá Castelo”), fui admitido como o primeiro menor estagiário ou menor aprendiz da agência do maior banco do País em Caxias. Mesmo ainda rapazote, raciocinei: “Se o salário de menor trabalhador dá para pagar uma escola particular de Segundo Grau, por que ocupar uma vaga em escola pública?”

Fui para o São José e já no primeiro ano de estudo candidatei-me a presidente do Grêmio Santa Joana d’Arc. Fiquei na vice-liderança. O Roldão Ribeiro Barbosa, hoje professor-doutor da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão), ficou em 1º lugar, mas, pouco tempo depois, abdicou e eu fui empossado à frente do Grêmio.

Meados da década de 1970, Irmã Gemma e Edmilson Sanches discursam, com a presença, no palco, de alunas diretoras do Grêmio do Colégio São José, em reunião da agremiação no auditório lotado de alunos da Escola.

Foi sobretudo por essa função na Organização Estudantil da respeitada Escola capuchinha que passei a ter vez e voz e interações com a Direção do Colégio São José  —  vale dizer, com a diretora Irmã Clemens (como era chamada e mais conhecida à época).

Nos demais anos do Ensino Médio, meu trabalho para o alunado credenciou-me a reeleições sucessivas, anuais.

E Irmã Gemma / Clemens acompanhando… No final do terceiro e último mandato, dela recebi um diploma pelo “atuante desempenho no Grêmio na função de Presidente (1975/1977)”.

Depois que passei décadas e décadas fora de Caxias, deixando pegadas e digitais em pelo menos dezoito Estados brasileiros, além de Europa e Estados Unidos, sempre que retornava a Caxias visitava o Colégio e a         “casa das Irmãs”, no centro de Caxias. As emoções eram sempre a surpresa carinhosa e a recepção bondosa, com Irmã Gemma, Irmã Sueli, Irmã Rita, Irmã Eucaristia e outras religiosas querendo saber de mim, ou dizendo que acompanhavam à distância essas e aquelas informações sobre minha vida etc. etc.

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Irmã Gemma faz 96 anos. Trago, de presente, lembranças do passado: o texto “Uma Irmã de Ouro”, escrito e publicado em 11 de junho de 2000, quando a querida Irmã completou 50 anos de vida religiosa.

Vamos rever/reler. (EDMILSON SANCHES)

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UMA IRMÃ DE OURO

Domingo passado, dia 11 [de junho de 2000], a cidade de Caxias testemunhou um momento raro: 50 anos de vida religiosa de uma de suas mais queridas freiras, a Irmã Gemma Carvalho, diretora do Colégio São José.

Natural de Oeiras, Maria Gemma de Jesus Carvalho foi a primogênita entre os três filhos de Dona Natividade e “seu” Mílton (que tiveram também Antônio Carlos, militar da reserva e professor universitário, e Luís Geraldo, auditor da receita Federal, aposentado).

Anos 1970, Irmã Gemma e Edmilson Sanches discursam, com a presença, no palco, de alunas diretoras do Grêmio do Colégio São José, em reunião da agremiação no auditório lotado de alunos da Escola.

Foi em Teresina que “tudo” aconteceu. Enviada para continuar os estudos na capital do Piauí, a jovem e bela Maria Gemma pretendia fazer Medicina. Queria tratar dos males do corpo. Não deu certo. Decidiu-se por cuidar das coisas do espírito e da mente. Quis ser freira e professora.

O que levou uma jovem atraente, inteligente, bem posta (era secretária do governador do Estado, José da Rocha Furtado, no Palácio de Karnak), festeira (dançava muito bem valsa e tango “y otras cositas más” nos bem-comportados bailes da época) a seguir uma vida de limites, rações e orações?

Há algo de indizível, de indecifrável, às vezes inadmissível mas quase sempre inafastável, em uma decisão que fuja dos padrões ditos e tidos como pragmáticos, impostos pela tal “vida moderna”. Em 1948, isso aconteceu a Maria Gemma de Jesus Carvalho, que, em vez de formar-se médica, preferiu rimar “religião” com “educação”.

No seu nome, algo como que já vaticinado: “Maria” e  “de Jesus” a liga aos hagiônimos, aos nomes sagrados; “Gemma” traduz rica semântica  — alimento e joia, ambos preciosidades, referência de valor –; e “Carvalho” lembra fortaleza, longevidade, persistência no tempo, com oferta de sombra, para os exaustos do caminho, e lenho, para os carentes de calor.

Com essa riqueza e predestinação onomástica, Maria Gemma apresentou-se para servir a Deus por intermédio de suas criaturas: Jesus Cristo e os seres humanos, elementos cheios de imperfeições e aspirações.

Foi Irmã Eucaristia (também piauiense, de União, e igualmente dos quadros do Colégio São José) quem a encaminhou, em Teresina, à Irmã Filomena, que repassou à pretensa noviça as primeiras informações e orientações sobre o “peso” e as consequências da decisão de ser freira. As duas, Eucaristia e Maria Gemma, se davam muito bem, reproduzindo a igual amizade que havia entre os pais de ambas  — Arminda Barros e Benedito de Jesus Nery, os pais de Eucaristia. Em 1950, Maria Gemma de Jesus Carvalho fez sua profissão de fé.

O Colégio São José, criado em 1937, esperou 20 anos por sua mais permanente diretora. Irmã Clemens (era esse seu nome religioso na época) chegou em 1957 em Caxias e até hoje dirige o sexagenário educandário. Estudiosa, igualmente dedicada aos ensinos do século e do sagrado, Irmã Gemma Carvalho estudou Letras Neolatinas e Ciências Religiosas no Rio de Janeiro. Foi além e aperfeiçoou-se em cursos de pós-graduação. De vez em quando, sua competência como educadora e administradora afastava-a de Caxias para realizar outras missões que a Ordem lhe atribuía, como organizar colégios, entre eles o Divina Pastora, de São Luís.

Durante três anos, de 1975 a 1977, convivi mais diretamente com Irmã Gemma Carvalho. Cursei o 2º. Grau (hoje, Ensino Médio) e nesse período fui o presidente do grêmio (o Santa Joana d’Arc  — a propósito, cadê a estudantada de hoje, que ainda não reativou essa saudosa e histórica agremiação caxiense? Ficam me devendo esta).

Como líder estudantil, tive a obrigação (na época) e orgulho (hoje) de ter, entre os “liderados” expressões culturais, profissionais, políticas e humanas do naipe de Jamil Gedeon e Fauze Simão (irmãos), Renato e Silvana Menezes (irmãos), Jorge Bastiani, Jandir e Jorge Gonçalves (irmãos), Erlinda Bittencourt, Sinésio Santos Filho (Sinesinho), Kátia e Daniele Gonçalves (irmãs), Sezostris Paé Lima, Fátima Viana, Letícia, Eugênia, Celeste e Marcus Antônio de Vasconcelos Assen (irmãos), Nise Bandeira, Adalgisa, Roldão (a quem substituí no Grêmio), Jorge “Maracujá”, Paulo Augusto Queiroz Baima Pereira, Jofran, Arsênio, os irmãos Mário Barros Filho e Raimundo Guilherme, os irmãos Guilhermina, Raul Germano e Hélvio de Sousa Vilhena, Zequinha, Jeane e Jane Alves Costa (irmãs), José Carlos e Manoel Alencar (filhos de Teresinha e netos de Dadá, minhas vizinhas na rua Bom Pastor), os irmãos Manoel e Antônio Carlos, Jaldo, as irmãs Márcia e Rosângela…Tantos e tantos colegas, conhecidos, amigos… Não cito mais porque, como dizem, o tempo voa e as palavras vão a pé (não tenho culpa se o correr da pena não acompanha o correr dos anos).

E as professoras, essas suportadoras, que “padeciam” no paraíso de nossa infância e juventude? Enriquecendo a nossa mente e, muitas das vezes, balançando o coração pueril e suas vontades imberbes, postavam-se ali, à nossa frente, dando-nos aulas de ofício e, por nossa conta, lições e ilações — sufocadas e sufocantes  —  de desejo. Coisas da mente menina de nós meninos…

São esses, entre outros, os tempos que nestes dias se ressuscitam, no encontro de ex-alunos e sempre colegas, em volta do Jubileu de Ouro de Irmã Clemens, ou melhor, Gemma Carvalho.

Caxias tem um fabuloso passado. Mas o que nos deve sustentar é seu potencial de futuro. Nesse potencial inclui-se a preservação e cultivo (não adoração, mas respeito) de sua história e os agentes dela. Os caxienses de hoje estão devendo a seus antepassados e pósteros uma Caxias como a de ontem, feita de fé e fibra, percebida nacionalmente como terra de luta e cultura, de resistência e permanência.

Alguma coisa  — um nome, uma ideia, uma instituição, uma causa —  há de voltar a mobilizar esta cidade, para que possamos, ao lado do orgulho pelo passado, ter confiança em um futuro.

Partes desse passado, presente e futuro encontraram-se neste 11 de junho de 2000. Os 50 anos de Irmã Gemma Carvalho não deve ser apenas uma data, mas um marco. Um marco de história, a ser fincado também por outras pessoas e personagens caxienses.

Irmã Gemma Carvalho está consciente de que, embora ainda não terminado, seu dever vem sendo (muito) bem cumprido. É isso o que quer, é isso o de que precisa a cidade.

Nosso passado de cultura e glória, sozinho, parece já não ser suficiente para manter a cidade no panteão da História. Devemos persistir, como Irmã Clemens. Temos de sair, já já, deste, ao que parece, estado de dependência e chegar ao “status” de competência.

Caxias espera que cada caxiense cumpra seu dever.

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NOTAS DO JUBILEU

PRESENÇA – Cerca de 1.500 pessoas estiveram presentes nos dois dias de homenagens à Irmã Gemma Carvalho: no “sábado áureo”, dia 10, estudantes das classes infantis, pais e convidados; no domingo, a festa principal, com cerca de mil pessoas. Presença do prefeito de Caxias, Fauze Simão, deputado federal João Castelo e esposa Gardênia Gonçalves, deputado estadual Humberto Coutinho, desembargador Cleones (ex-aluno do Colégio São José), deputado federal Paulo Marinho e ex-deputada federal Márcia Marinha (estiveram na residência das freiras), irmãs capuchinhas de diversos pontos do País (irmã Janice, do Colégio Santa Teresinha, liderava a representação de Imperatriz), familiares da homenageada, empresários, profissionais liberais, a maioria ex-alunos e filhos e netos igualmente alunos do Colégio. Missa, números musicais (solos e corais), declamação de poesias, mensagens gravadas, flores muitas, balões… O discurso principal, em nome das turmas de ex-alunos das décadas de 1950 até 1990 foi feito pelo colunista.

LIVRO – Na residência das freiras, na parte da tarde e à noite, as homenagens se sucederam e Irmã Gemma Carvalho foi presenteado com um livro de exemplar único, editado pelo ex-aluno Jorge Bastiani, impresso em papel especial, com textos feitos por ex-alunos, irmãs de Ordem, padres, professores e familiares. Novamente o colunista foi convidado pela Irmã Eucaristia Nery para explicar as razões e a importância do livro.

EDMILSON SANCHES

Palestras – Cursos – Consultoria

Administração – Comunicação – Desenvolvimento – História – Literatura

CONTATO: [email protected]

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